domingo, 31 de outubro de 2010

Preconceito...

O maior preconceito que podemos ter de qualquer coisa é não reconhecer que o diferente pode ser muito mais próximo da gente que imaginamos, ou que algum dia imaginaríamos existir. Este diferente, no fundo, é exatamente o que gostaríamos de ser e que não temos competência e sabedoria o suficiente para disso nos utilizarmos, ao contrário, quando agimos de forma preconceituosa estamos nos privando do que o mundo, de forma distinta, tem de bom a nos mostrar.

Enganar-se, nesse sentido, nada mais é que reconhecer que estamos errados quando tentamos negar a diferença que o mundo nos oferece, afirmando a verdade que o mundo apresenta, e sua semelhança rastaquera e lugar-comum. Seria, pois, uma consumação de que o conhecimento se nos apresenta sempre de forma inesperada e, acima de tudo, nova e vibrante. Apesar dos recalques que perseguem nossa vontade de existir.

Como diria Nietzsche em Para Além de Bem e Mal: as coisas de supremo valor têm de ter uma outra origem que aquela que fingimos não buscar, pois, ao buscarmos o outro, criamos uma suspeita ao mundo, oferecendo algo que, por um motivo ou outro, fingimos negar. E a suspeita é o primeiro sintoma de que o preconceito está a fugir de nossas plagas.

Este mundo sempre se mostrou como um emaranhado de ilusões, resta fazer destas ilusões uma criação exagerada do que poderíamos ser, uma vez que apenas no exagero conseguimos expressar qual o real significado de nossa existência. Existência essa pensada como um Deus desconhecido, averso a sua real necessidade. Este mesmo Deus escondido, entranhado em nossas vísceras, grita por ser descoberto. Grita por fazer existir, dando-nos uma existência tal como deveria ser a nossa...

Por isso, nossos maiores preconceitos podem estar escondendo de nós nossa real existência, exatamente esta que necessitaríamos fazer vir à tona. Se eu existo, de forma sintomática, insisto em querer fazer desta existência algo que se encontra acima de nossa (e minha) medíocre meia-vida, aliás, de nossa (minha) não-vida.

O mundo sempre foi criado por pessoas que, em momento algum, nos mostrou a realidade da vida em abundância: Esse modo de julgar constitui o típico preconceito pelo qual se reconhecem os metafísicos de todos os tempos; esse modo de estimativas de valor está por trás de todas as suas proceduras lógicas; a partir dessa sua “crença”, eles se atarefam em torno de seu “saber”, em torno de algo que, no final, é solenemente batizado como “a verdade”. (Para Além de Bem e Mal: § 2) Esta mesma que, com nossos preconceitos, negamos em dar vida.

Na dúvida deveríamos dar vida àquilo que nosso coração pede, e que nossa consciência nega. O outro pode ser mais parecido do que imaginamos alguma vez; ele pode ser, exatamente, o quê gostaríamos de ser! E nós, o quê gostaríamos de ser?

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