quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

VIDA LIGHT

Uma bunda rebolando passou por mim
tocando um barulho.
Música que não se ouve apenas se vê.
De repente eram várias
no início achei bão,
senti tesão!
Mas depois enjoa.
O céu do meu Brasil ta preto
refletindo a Guanabara
agora o petróleo “vem em ondas como o mar”
nem vai precisar de oleoduto.
O jornal dá a notícia: roubaram um turista
- ou estariam devolvendo o que era nosso aos poucos? –
depois anuncia a previsão do tempo
seguido de que o Brasil foi campeão
e todo brasileiro ao som do hino nacional
sorri pensando que também ganhou.

Mas vamos cantar outras músicas, year!
o rock in roll,
o rock dingo
do anuncio do telefone ou do comercial do refrigerante
que só funciona com a televisão.
Muitos têm internet e conhece gente lá do Japão
Mas quase ninguém conhece o nome do vizinho
nem sai para ver a lua
para quê? Se tem televisão. E, assim continuamos sendo o Quase.

Então, vamos navegar na internet
afinal, os rios estão todos poluídos mesmos
Além do mais não cansa
e se a obesidade voltar
podemos correr parado na academia da esquina,
porque a vida é light
tal qual meu refrigerante...


julho de 2000

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Devaneios de Mim Mesmo...


L.A.M.
Parte I

Benévola disposição esta que vos oferto o libelo da liberdade... nada temais com relação ao absurdo, à vontade, à liberdade e ao trabalho... só me perdoeis aqueles fragmentos onde a contextura das palavras se desfalece, ainda não aprendi a convencer-me de que minhas palavras brotam das mentes insanas, aliás, falam pelas mentes insanas.

Desde o suplício clássico de Prometeu perante os abutres, e o sofrimento de Sísifo perante o monte, seguimos a sina da liberdade... sempre a perseguindo... por traços mil a encontrando, outras vezes não. Traços que se estendem até o infinito, as vezes caricaturizando a vida, outras legitimando-lhe anseios e possessões... à vida pertence a liberdade. E, à luz de alguns traços, vos apresento este libelo. Traços simplórios, sôfregos e insanos... apenas traços.

Este encontro que vos proponho é casual, uma leve apresentação de algo maior..., algo sublime, porém rotineiro... dessa forma, a beleza dessas letras podem mostrar segredos... também espantos.

Alguns verão estes escritos com olhos de douto, outros com olhos de sombra. Não importa, apenas desejo que os veja como a um escrito extraordinário. Que esta extraordinariedade não seja encarada na acepção da palavra, senão na noção de sua ordinariedade, ou seja, de sua simplicidade... a noção que vos apresento é a de um exercício lógico, aliás, a de um escrito simplório, porém distinto... só espero que leitores e leitoras assim o vejam.

Grandes méritos não busco, apenas tento conhecer aqueles e aquilo que conduzem sua vida... cada qual com tua peculiaridade... cada um e tua modéstia... mas, acima de tudo, cada um! Movo-me pela paixão, dessa forma conduzo minha liberdade; uma boa dose de paixão com pitadas de razão.

Por isso não me peça ordenação nestas páginas, muito menos coerência textual. Apenas jogo-lhes fragmentos, propondo a vós que os recolham e costurem tuas próprias resmas. Que essa colcha de retalhos possa servir para cobrir o frio de teu ser... não é para isso que tais objetos servem? Pois é, alguma vez vistes coerência em uma colcha de retalhos? Acho que não, no entanto, seu calor aconchega e esquenta, não é mesmo? Eis a resposta... tenhais essa colcha de fragmentos como um agasalho para a alma... todavia, isso não o impede de queimar o tecido; as vezes, o fogo é mais belo que as cinzas finais, e o texto pode se mostrar, ou como cinza, ou como chama... apesar de tudo, ele sempre se mostra. Uma vez que a alma não tenha estribeira, não recomendo montá-la... é bicho bravio...
2002

sábado, 24 de janeiro de 2009

A ETERNA PROCURA DE ALGUÉM

Um vento soprou a minha orelha e,
um hálito gostoso invadiu meu corpo
dando-me pernas para correr.

À porta do meu descanso
uma voz me sorriu uma nova melodia.

À porta do meu descanso
eu estava cansado.
Desci as escadas
e o escuro se desfez.
A luz que penetrou
dominou meu ser
e da roupa que caiu do chão (uma de cada vez),
eu me vi em pedaços.

Arranhando os telhados da minha consciência
Eu senti a chuva
Lavei minha alma e o que saiu do meu corpo
transformou-se em enxurrada
que levou todas as casas à minha volta.

Fiquei sozinho

E a solidão povoou meu ser
como mil vozes alucinadas num show do Kiss.

Pedra por pedra construí um muro
e nada mais passou para dentro de mim
e nada mais saiu.

Entretanto, um dia o sol pálido bateu em mim
e me fez uma sombra
e o grito expressionista foi pouco para dizer o que senti.
Aquele dia a noite se eternizou.

Meu orgulho caiu no chão como uma moeda de 1 centavo
apressado, nem quis saber quanto era.
Agora,
existe alguém me esperando
eu corri contra o tempo
que era medido nas batidas
do meu coração.
E o sorriso que me esperava
trazia a aurora de novos dias.


início de 1998

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

FINGIR É VIVER

Sei que por um instante
Todas as mulheres foram minhas
Se a vida é um sonho
Eu que só sonhei
Vivi

Atravessei pântanos e despenhadeiros
Para chegar até aqui
E agora o que faço:
É olhar para traz
E contar os passos que ficaram
Marcados no chão.
Não faz sentido!
Quero um abrigo entre seus seios.
Para poder chorar
Sem que ninguém me veja.

Eu me preocupo com os outros
Ou é apenas um artifício
Para isentar da culpa
Fingindo me preocupar?

Quero uma cama macia
E você ao meu lado
Para fingir que nada existe
Para fingir que sou feliz

1999

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Conto Policial I: Paixão segundo...




- Ah, oh, nossa deve ser maior que o meu, meu soldadinho de chumbo...

“O celular toca uma música brega”.

- Não, não atende, não pára, eu vou cobrar mais caro, não, não, ahh...

- Alô, Detetive Camargo! Quem? Certo, o que mais? Quando? Onde está o corpo? Envenenamento, no pescoço... Estou indo...

- O quê? Isso vai lhe custar caro meu soldadinho de chumbo...

- Aqui está... isso cobre o serviço.



“Numa casa qualquer de um subúrbio qualquer...”

- Oh... Camargo, que demora, tive que subornar o legista para segurar o presunto...

- Foi um contratempo, a propósito, tem uma bebida? A minha reserva acabou.

- Camargo, cê tem que parar com isso... sua carreira está indo pro buraco, desde que seu casamento...

- Por que não vai buscar uma naquele bar da esquina, eu trabalho melhor sozinho, você sabe. Peça apenas para aquele troglodita deixar eu entrar, eu esqueci minha credencial de polícia civil.

- Esqueceu!?, sei, desde do dia em que espancou aquele pedófilo, né?

- Senhor, não pode...

- Ok. Ele tá comigo, deixa ele entrar, vê se não demora ou esse presunto vai começar a feder. Vou lá no boteco.



Vamos lá, Camargo concentre-se...Vamos ver o que temos aqui: um corpo sentado numa cadeira, debruçado na mesa, com a cabeça em cima do livro, hum?Causa mortis?Nem uma perfuração aparente, nem marcas de estrangulamento... a não ser a morte fulminante, provavelmente, envenenamento.... mas, se levantarmos a cabeça, acho que você não pode me ver agora, heim? Sem vestígios de resistência, certeza, foram tirados depois de morto, nenhum sangue, muito higiênico. Interessante...Ahh, aqui está o livro que Plínio me falou por telefone? “Paixão Segundo GH” de Clarice Lispector, acho que li um dela para fazer vestibular, acho que é uma poetiza... concentre-se Camargo, fixe nos detalhes importantes... ó, o que temos aqui, um cupom fiscal, Livraria Cultura, nossa!, ter cultura hoje em dia custa muito caro... também, nem sei quanto tempo não compro livro, Camargo!... bom, vamos lá, ele, ou quem quer que seja pagou pelo livro às 17:53, calculando a distância, ele deve ter chegado há 1 hora mais ou menos, vamos ver,... corresponde, uma marca na 23ª página do livro,... hum! isso quer dizer, que ele foi atacado logo depois que sentou para ler, ou apenas folheava, hum... ainda não está completamente frio, hum... vamos ver, não houve arrombamento, estranho, morar nesse bairro e deixar a porta aberta?



- E aí Camargo? Não dá mais para esperar, o presunto tem que ir, o que descobriu?

- Preciso de informações? Plínio, você disse que esse é o terceiro corpo que morre sobre este livro?

- Positivo. E até agora é única pista que temos, o secretário já está sendo cobrado, hoje ele deve dar o depoimento, a pressão está aumentando, por isso eu achei...

- Que eu, um detetive afastado por abuso de poder, pudesse ajudar aqueles que me fod..., ok? Onde está meu conhaque?

- Aqui. Não me olhe assim, eu sou seu amigo... me ajuda, eu sou responsável pelo caso, me dê uma dica, ...

- Já havíamos colocado todas as livrarias da cidade sob aviso, quando alguém comprasse este livro, mas quando chegamos já era tarde.

- Ainda bem que não é um Best Seller, já pensou se fosse o “Código da Vinci”?

- Não faça chacota, Camargo, a coisa é séria?

- Não estou fazendo chacota, essa foi a minha dica, porque você não usa o cérebro de vez em quando? Glu, glu, glu...

- Como assim?, para com esses códigos, sabe que eu odeio adivinhações...

- É mesmo?, deve ser por isso que você está no departamento criminal, hahaha, todo mundo lá odeia...

- Camargo, falo sério.

- Ok!, mas é isso, os três não foram comprados na mesma livraria, foram?

- Não. Mas,...

- Deve ter mais de 6 meses de um crime para o outro, certo?

- É... deixa o ver... 1 ano do primeiro assassinato na Moóca, 2 anos do Belenzinho e agora esse; sim, isso mesmo. Até demoramos para ligar os fatos e ver as semelhanças...

- As outras vítimas também tiveram os olhos arrancados, certo?

- Sim.

- Sem arrombamento também?

-Sim, mas eu não entendo a ligação.

- Você estava certo. É um serial killer.

- Sim, mas...

- É um conquistador, digo, conquistadora...

- Tá, mas é só isso?

- Plínio, você percebeu que havia um embrulho de presente em todos os livros da vítima, não?

- Ahh, claro, sim, sim, isto é, como você sabe? Ahh, deixa para lá...

- Foi o que pensei...

-Ouça!: A criminosa deve ser apaixonada pelo livro, não sei do que se trata a história, aliás, posso ficar com este?, eu peguei sem avisar...

- Claro que não, faz parte dos autos, ahh, fod... continua, Camargo.

- Pois então, deve ser uma mulher solitária, frustrada, tímida, que demora arrumar parceiros, é do tipo romântica que procura uma alma gêmea é aí que entra o livro...

“Pára para sorver um outro gole de conhaque”.

- Ela dá o livro para o parceiro e pede para dizer o que acha, todos, creio, não gostam ou recusam a ler, ou, talvez, não o entendem, é nesse ponto que ela, frustrada e incompreendida, injeta o veneno na nuca...

- Por isso não há arrombamento. Mas, pode não ser nada disso também...

- Genial, Camargo, te trago até aqui e tudo que você me fala já está nos jornais. Diz aí como podemos pegar essa vadi...?

- Não podemos!

- Como assim? Requisitaremos as câmeras da loja...

- Não adianta, nem todas têm câmeras, ela é esperta, mas vai atacar de novo...

- Está me dizendo que teremos que esperar pela próxima vítima?

- Mais ou menos isso, o que temos é apenas um perfil, nem isso, uma sombra, um quebra-cabeça sem muitas peças...

- Se me chamaram, é porque já tentaram as impressões digitais, certo?

- Sim, não há rastros.

- Hum,... como pensei, ela limpa tudo antes de sair, deixa apenas o que quer, isso mostra intimidade, pelo menos para adentrar a casa e sair sem deixar suspeitas...

- E os vizinhos?

- Não conhece, ele é novo aqui, alugou o quarto a um mês mais ou menos, o inquilino disse que era para um casal, mas nunca viu a mulher...

- Foi o que pensei... Na Mooca, no Belenzinho, o fato se repete, não?

- Sim, na Mooca, o inquilino já havia alugado há uns dois meses.

- É, isso é o suficiente.

- Suficiente?!

- Não há mais nada a fazer, pelo menos por enquanto...

- Como? Temos que descobrir quem está fazendo isso, quer dizer, pensei que iria me ajudar, pô Camargo!

- Eu vou, por isso estou levando o livro.

- Mas isso não resolve o caso!

- Eu sei,...

- Como assim, eu sei, você disse que iria me ajudar.

- Eu vou... farei o que me resta...

- Ler um livro, tá de brincadeira comigo né?

- Não, se fosse você comprava um... “Paixão Segundo GH”. Assim, quem sabe vai conhecê-la melhor até o próximo crime ou...

“Outro gole”.

- Pelo menos terá grandes chances de escapar se ela te escolher... hehehe

- Não tem graça.

- Boa leitura!