quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Como Um Regurgito!

A prontidão com que as coisas se apresentam, todos os dias, em nossa vida, a força do conhecimento, o ir e vir constante das várias informações que, diuturnamente, somos bombardeados... tudo isso, acaba nos colocando numa situação extremamente complicada: até que ponto todas estas informações, toda essa gama de conhecimento são úteis e saudáveis para nosso espírito? E como temos digerido este alimento?

Imagino que, informação em excesso é o primeiro sintoma de que alguma coisa está errada em nosso organismo, a não ser que tenhamos tal comida como algo a ser regurgitado, jamais defecado, pois todo conhecimento necessita de um tempo de maturação, e esta maturação pode vir de uma forma bastante enigmática; quando isso não acontece, o que nos chega, mostra-se como algo ilusório e extremamente enganador, com mal cheiro de fezes.

Por outro lado, toda essa gama de informação que, por assim dizer, surge da ignorância e da pressa em não nos atermos a nada com uma força arbitrária extremamente coercitiva, pode ser também o ponto de partida para algo novo e ruminador. Isto é, estas informações arbitrárias, para virarem conhecimento, necessitam de um tempo de gestação, ou mesmo de transformação; e um exemplo bom disso é o ruminar da vaca.

Um alimento que é engolido no início do dia, com uma pressa voraz e desesperada, lá pela metade do dia, acaba voltando como um bolo estomacal e tal como um quase-vômito, passa a ser mastigado, pelo resto do dia, pela boca destes ruminantes. Bom começo este.

Vejamos, pois, Nietzsche em Para Além de Bem e Mal discorrendo a respeito, e pensemos um pouco: (...) uma satisfação com o escuro, com o horizonte exclusivo, um dizer-sim e aprovação à ignorância: tudo isso necessário segundo o grau de sua força de apropriação, de sua “força digestiva”, para falar em imagem – e efetivamente o “espírito” ainda se assemelha ao máximo a um estômago. (§ 230) Esta vontade de se deixar enganar, com tanta informação, quando digerida e ruminada; surge da ignorância e se transforma numa das mais nobres formas de pensar: o pensar-diferente, apesar deste pensar vir através de uma aparência não mui agradável.

Em que medida temos feito isso, com tanta informação concebida e digerida? Será que estamos apenas digerindo e defecando, não permitindo que o vômito nos dê uma segunda oportunidade de ruminarmos tais informações? Vale a pena tentar este vômito...

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