sexta-feira, 31 de agosto de 2007

Seção: Filosofia de Boteco - Dioniso Sóbrio I



Aforismos: Gerações


Quando se fala em juventude (mesmo sendo difícil falar de tão complicado conceito... generalizá-lo, então, parecendo fácil, todavia, sendo ainda mais difícil), logo nos vem em mente um determinado conflito; conflito esse que, do nada, ganha força de combustão - e conclusão. Como se o que originasse certa geração fosse o fato de ela surgir duma briga, quiçá, duma guerra constante, acabamos por confirmar a força, que em combustão, arrebanha um grupo muito grande, quase coeso. Após o movimento deste motor, em combustão, sempre resta alguma poeira para trás. Essa poeira deixa o ar nebuloso... quem a persegue não consegue visualizar o que está na frente, daí surge a necessidade, sempre premente, e quase vital, de generalizá-la num grupo. Há grupos? Há gerações? Ou há apenas movimento neste processo de relação, entre grupos e reflexos exteriores? O quê fazer quando o que está na frente é apenas pluma e neblina? O quê fazer quando não conseguimos entender a complexidade de qualquer atitude humana? Será que generalizar naquilo que concebemos como natureza humana, consegue explicar a complexidade deste movimento? Por que os filhos, em geral, tendem a questionar seus pais? Será que há alguma conexão, com o que resta de quinhão, a cada geração? A caótica origem e gérmen de uma explicação sempre tende a reduzir qualquer movimento humano, deixando-o simplório, como nunca foi. E ainda, sempre tende a reduzir qualquer efeito em signos. Onde estão os signos que explicam tão desabalado - e estudado - conflito? O homem só conhece o efeito das leis da natureza, e não elas mesmas. Seu movimento é o único sintoma que aparece, e nada mais que isso. A proximidade do fato tende a encobrir ainda mais a sua possível verdade. A orgia das palavras tende a confundir qualquer sintoma ou movimento, que nos chega em signos, aliás, que nos chega em brumas de signos... como a poeira deixada pela Clio da desabalada corrida das gerações. Assim, cabe aos homens tentar encontrar um signo que explique, genealogicamente, a gênese do signo que se-lhe apresenta defronte suas feições assustadas. Ele deveria se preocupar em estudar como elas (as leis da natureza, ou mesmo seu movimento) são criadas para, logo em seguida, seguir seus rastros - mesmo na poeira, sempre seguindo, nunca afirmando, não por enquanto -, e ver onde poderia chegar. Talvez a geração da frente se canse e pare nalgum posto, à beira dalguma autovia!!

terça-feira, 28 de agosto de 2007

Seção: Filosofia de Boteco - Clio Ébria II



Aforismos: Juventude


O que está por trás do conceito juventude? A pergunta é pertinente porque está relacionada a um conceito mais abrangente: o de geração. Aquela velha idéia de que somos mais parecidos com o nosso tempo do que com os nossos pais. Estou de acordo, em parte. E explico-me: há alguns problemas para a utilização do conceito juventude. 1º: como definir a geração?, qualquer definição, pode cair no subjetivismo, cito um exemplo, o da geração anos 80 que é considerada uma geração perdida. Mas por quê? 2º: geralmente a definição de uma geração está restrita à periodização de uma década, exemplo, década 60, 70, 80 e, assim, por diante... nada mais fácil e falso que isso. 3º e maior problema: é o de esquecer que em cada época ou geração não existe apenas uma juventude, mas várias... Não houve apenas uma juventude dos anos 80, por exemplo, o Rock Nacional não foi o único interlocutor da época, nem todos na faixa etária dos 30 anos foram ao Madame Satã, jogaram Genius, assistiram ao Bozo, Balão Mágico ou Xuxa, etc.

Vê uma época pela lente de conceitos como geração e juventude pode nos levar a uma tremenda miopia. Nos anos 80 uma geração de crianças nem teve chance de chegar à juventude, para, quem sabe, ouvir Legião Urbana ou se acotovelar em um show dos Menudos; morreram antes ou passaram imediatamente para a vida adulta em um trabalho qualquer. Esta visão geracional massifica o social, apaga as diferenças de acesso à cultura e acaba por trazer à tona a visão elitista de uma época. Isto é o sintoma de um culturalismo universalista, decorrente de um gosto pessoal do autor (seja ele jornalista, filósofo ou historiador), que acaba se generalizando no processo de pesquisa, quase que inconscientemente. O resultado é um monte de biografias de péssima qualidade, relatos de época abaixo da crítica, monografias insossas, memórias altamente pessoais se passando pelo gosto universal de um época, livros que cultuam as personagens como se fossem santos, sem nenhum senso crítico e admiração indisfarçável. Este texto é um canto fúnebre em homenagem a vários livros meus que se enquadram neste perfil. ACABO DE VENDÊ-LOS NO SEBO, JÁ POSSO ATÉ VER MELHOR!

segunda-feira, 27 de agosto de 2007

Pra Que Serve a Consciência Democrática?


A democracia cria-se, enquanto necessidade, no momento em que o rebanho busca a consciência - aquela mesma que nos fez nos aproximar do outro - para tornar-se ser gregário. Daí ela surge como uma forma de fazer com que os espíritos livres e fortes se submetam à fraqueza do sistema. Por isso a democracia passa a ser farsa, ou mesmo mecanismo de raças inferiores.

O que é proveitoso para o grupo constitui o valor e caracteriza o utilitarismo de tais crenças - a crença de que a consciência, ou mesmo a sociedade, precisa da democracia. O homem é o criador de valores, mas se esquece de sua criação, deixando de lado sua responsabilidade para consigo mesmo, e para com a sabedoria. A moralidade é o instinto gregário do indivíduo, surgida com a consciência do grupo. Quem é punido é aquele que pratica certos atos, distintos dos atos do grupo.

Na sociedade, existem os instintos de rebanho, advindos da consciência gregária, como nos relata Nietzsche em A Gaia Ciência, no seu aforismo número 354. Em face disso, atribuem-se às palavras um sentido fixo e acha que este sentido espelha a realidade (é o caso da noção de consciência e, automaticamente, também da noção de democracia), que tem caráter transitório, ao menos deveria ter. O homem chega, pelos costumes, à convicção de que é preciso obedecer, pois sua consciência gregária assim o instrumentalizou. No inverso disso, existe o prazer, a autodeterminação, o assombro advindo da natureza e a liberdade de vontade. E a consciência, tão-somente, se consolida no panorama humano devido sua eficácia frente ao "mundo exterior". E Nietzsche no aforismo citado acima, dirá que: Consciência é propriamente apenas uma rede de ligação entre homem e homem – apenas como tal ela teve de se desenvolver: o homem ermitão e animal de rapina não teria precisado dela. Como forma de se abster de seu mundo interior, o da assombrosa existência, o homem criou um mecanismo que leva nome de interioridade, mas é, somente, necessidade de grupo; por isso sua eficácia perante o "mundo exterior".

É quando a democracia entra com sua força, fazendo com que os fracos submetam os fortes. Até mesmo as noções de verdade e moralidade são contaminadas pelo conceito democrático. Concordando com Clio - e olha que ela está aí há tanto tempo que nem nos damos conta de seu passar - constatamos que a democracia, para constituirmos uma estirpe de homens valorosos, e não valorantes, deveria ser abolida. Iria ainda mais longe, deveria ser estirpada da face da Terra, colocando em seu lugar uma gestão autocrática, autônoma e real.

Em um aforismo póstumo de Nietzsche, de número 35 [9], vol. 11, KSA, temos a seguinte assertiva, o que apenas confirma a possível necessidade da democracia: Esses bons europeus, que nós somos: o que nos distingue dos homens de pátrias? Primeiro: somos ateístas e imoralistas, porém apoiamos, de início, as religiões e morais do instinto de rebanho: a saber, com elas prepara-se uma espécie de homem, que tem alguma vez que cair em nossas mãos, que tem que desejar nossa mão.

Este mesmo ser desejante, em ficar na nossa mão, é o ser de rebanho. E é justamente para ele que cria-se a democracia, bem como a religião e a moral, nos moldes da própria democracia. Temos a necessidade de dominar, não de fazer com que o outro tenha voz. Se assim fosse nem mesmo a consciência seria criada. A dominação é o fundamento básico da democracia, por isso a democracia é tão importante.

Continuando com Nietzsche: Para além de Bem e Mal, porém exigimos a incondicional postura sagrada da moral de rebanho. Reservamos para nós muitas espécies de filosofia, que é necessário ensinar: sob certas circunstâncias, a pessimista, como martelo; um budismo europeu poderia talvez não ser prescindível. Nós provavelmente apoiamos o desenvolvimento e amadurecimento da essência democrática [escrito em alemão da seguinte forma, e pelo seguinte motivo, respectivamente: des demokratischen Wessens, e que nos denota o seguinte sentido; essência no sentido de comunidade, ser-comum, sociedade; dessa maneira, a expressão indicaria comunidade, ou sociedade democrática. E como exposto acima, com uma íntima relação com a noção de consciência]. Ela configura a fraqueza da vontade: nós vemos no 'socialismo' um aguilhão, que em face da confortabilidade [fala de igualdade de condições. Não há igualdade de condições entre os seres humanos, se assim fosse poderíamos viver muito bem com a democracia. Há sim a necessidade de dominação].

E imprescindível que nos atentemos para o seguinte. A democracia, tal como a conhecemos, não é democrática. Sua genealogia mostra que sua existência se dá por uma necessidade utilitária.

ABAIXO A DEMOCRACIA!!!!!

VIVA A ANARQUIA!!!!!

VIVA OS HOMENS FORTES E DE ESPÍRITO LIVRE!!!!!

Apenas eles poderão dormir na cama de Clio, bem aos moldes de Dionísio!!!!

terça-feira, 21 de agosto de 2007

Seção: Filosofia de Boteco - Clio Ébria I


Aforismos: Democracia

Como uma democracia imposta pode ser democrática? Como uma democracia anti-democrática pode perdurar? A democracia perdura justamente porque é de fato anti-democrática, justamente porque se presta aos desígnios do capitalismo. O paradoxo está que a democracia se deslegitima por não ser democrática, mas perdura mesmo assim, porque a legitimidade se dá não em seu regime, nas aplicações dos princípios democráticos, mas no cumprimento dos imperativos do capital, como disfarce da ditadura econômica transnacional. É sob o disfarce da democracia que se esconde os interesses privados que controla o mundo. A mídia cumpre um importante papel: o de criticar toda a democracia que não cumprir as metas neoliberais, ou seja, toda a democracia que pretender realmente ser popular e democrática. Para tanto, ergue-se a bandeira da liberdade de imprensa que, na verdade, é a liberdade dos grandes oligopólios midiáticos interferir na autonomia dos governos e até mesmo na soberania nacional de países que não seguem corretamente a cartilha do neoliberalismo excludente. A democracia tornou-se sinônimo de totalitarismo, pois tornou-se um princípio incontestável e, por isso, mesmo totalitário e anti-democrático. Por trás do discurso democrático tenta-se esconder o capitalismo imperialista neoliberal. Com a democracia tenta-se humanizar a desumanidade gerada pelo capitalismo. Ser democrático, hoje em dia, é ser anti-democrático. ABAIXO A DEMOCRACIA!

domingo, 19 de agosto de 2007

Sombra de Árvore Centenária, no Deserto, Repleta de Fantasmas


Que me importa se o que passou a mim, me ofereceu uma segunda, ou mesmo uma primeira natureza? Que me importa se as sombras de um oásis pode deixar transparecer visões fantasmagóricas? E ainda, que me importa se minha impotência perante o passado faz de mim um obelisco, ou uma sombra petrificada, assombrada por fantasmas (que não são meus)?

Tudo isso não me importa, todavia, é tudo isso que faz com que eu sinta um ressentimento tremendo. Ressentimento por não poder mudar a natureza que ficou-nos incutida pelo passado...., não seria o caso de usar um martelo, ou uma dinamite?

Não dá, não tem como bater de frente com rio tão caudaloso. Resta-nos apenas tentar afastar o pó que o tempo da História nos concebeu..... uma dádiva talvez.... não seria o passado um ser tão medonho, ao modo de Cronos, que sente prazer em devorar seus filhos? Imagino que sim. Sua mesquinharia refinada, seus proventos de outrora..... antecessores que nos enganam...., todos estes fantasmas nos perseguem. Sim, temos à frente uma erva danina, um ser fantasmagoral que ainda enche nossa cultura de emplastos e enganações. E, querendo ou não, somos resultados disso. É como dirá Nietzsche, em sua Segunda Intempestiva, esta sobre a História..... aliás, a História entremeada de vida.... uma vida "que foi"!

Posto que somos o resultado de gerações anteriores, somos, ademais, o resultado de suas aberrações, paixões e erros, e também, sim!, de seus delitos. Não é possível livrar-nos por completo desta cadeia de erros. Podemos até condenar tais aberrações, e assim acreditamo-nos livres delas, porém isso não muda o fato de que somos seus heredeiros diretos. [Somos a segunda natureza de uma natureza que, pode até nem ter existido.] Poderia seduzir-nos a tentativa de darnos, a priori, um passado do que gostaríamos de ter procedido, em contraposição àquele de que, realmente, procedera. Uma tentativa sempre perigosa, porque é difícil encontrar um limite, na negação do passado. Caso não o aceitemos, ainda assim ele nos perseguirá, dizendo o quão herdeiros somos de seus erros.

Uma tentativa, talvez, de compensar um passado de erros. Penso que é por isso que ainda continuamos acompanhando este erro, sempre endeusando-o "Ser da Verdade!". Um eterno negar à vida seu real teor, sua real existência. Desde o momento em que a vida passou a ser consequência da história, deixamos de nos manter existentes..... vegetamos! Se a vida fosse a referência da História, um outro momento, um outro passado, um outro presente e, quiçá, um outro futuro teríamos em mãos. Resta-nos, agora, nessa orfandade do viver, res-sentir (tornar-nos coisa) pelo que passou, e pelo que somos.

Herdeiros dessa campa pobre, é o que somos. Como numa locomotiva, o maquinista deixou de conduzir-nos, vamos ao sabor da máquina. O caminho já foi traçado..., será que ainda dá para recuperar o espaço perdido? Pois o tempo perdido, este, infelizmente, não volta mais.

Esperemos, pois, e ainda com palavras de Nietzsche, que a História poderá ver seu significado, ressignificando-se, não em idéias generalistas, mas que seja flor e fruto, e que seu valor consista precisamente em glosar, de um modo inteligente, um tema conhecido, e reconhecido, onde, a partir disso, possamos fazer uma melodia para o dia-a-dia, alçando-a até patamares outrora desconhecidos, como ousam pássaros audazes, ao atravessarem terríveis recifes, em pleno alto-mar. Temos que elevá-la a um traço simbólico que seja universal, mas que esteja, ao mesmo tempo, inebriada de vida, e que seja vida em abundância. Para disso extrairmos, de nós mesmos e da História, um tema original que nos faça sentir a Vida em História, tornando-nos senhores de nosso destino, bem como de nosso passado.

Que a aniquilação seja a referência maior do homem que podemos ser. Daí a tentativa do martelo, destruindo velhos ídolos... Que nossa esperança não se limite em morrer naciturna. Que ela possa dar-nos o impulso histórico - e neste momento me refiro à Liebe (Vida) - para destruir os fantasmas que nos assombram, em plena árvore centenária, ponto de aconchego, no oásis do deserto. A História não pode nos debilitar, mas sim dar-nos ainda mais força para lutarmos contra essa história, passada, que tanto ressentimos.... essa vida "que foi"!

Precisamos ouvir da história o seguinte lampejo: Seja homem, e não me siga!

Caminhemos com o martelo às costas, sem seguir a história, e sim, vivendo a História!

segunda-feira, 13 de agosto de 2007

Filosofias da História e Temporalidades


A história realmente existe, é real, mas a interpretação que fazemos da história é, por vezes, uma invenção. William Burroughs um dia disse: “Não nos damos conta de até que ponto a história é ficção. O passado em grande parte é uma invenção dos vivos. E a história é um montão de coisas fabricadas. Não há fatos de verdade.” Os fatos só existem para nós, não existem em si mesmos. Lembro-me de uma indagação de Kant: uma árvore na floresta que nunca foi vista por nenhum ser humano, ela existe? A história é uma ciência que estuda os mortos, assim os vivos fazem o que quer dela e os mortos nada podem fazer do que dizem deles. Mas, então qual a importância da história em nossas vidas? George Orwell já dizia em 1948: “Aquele que tem o controle do passado tem o controle do futuro”. Em outras palavras: aquele(s) que escreve(m) a história faz(em) da forma que melhor lhe(s) convém. O que lhes for ruim apaga-se com a borracha da ideologia dominante. A ideologia dominante escreve a história dos vencedores e já impõe a vitória antes mesmo do fim da guerra, isto é, decreta o vencedor nas páginas da história, mas a história não acabou e ainda está acontecendo, o que fazemos agora pode mudar o que foi feito, mas os ditos vencedores que controlam a história não querem que pensemos dessa forma, assim separa-se a história em passado que não se muda, onde se elege o vencedor, em presente que é decorrente desse passado e, portanto, também não se muda e em futuro que é continuação do presente e, assim se mantém a dominação. A ideologia dominante é fundamental para justificar essa sociedade injusta, assim a história é o instrumento que a ideologia utiliza para a continuidade das injustiças sociais que se estabelecem no domínio de uma minoria sobre a maioria da população mundial. O bem estar é confundido com o que temos, com o que conseguimos ter e não com o que somos ou o que conseguimos ser. O dinheiro toma o lugar do homem/mulher: não é o que você é, é o que você tem. O dinheiro fez dos homens mercadorias e a todo o momento estamos à venda e estamos à compra, sem se dar conta disso. Nesse sentido, a própria forma de interpretarmos o tempo já nos impõem um controle social sem que o percebemos. Como? Ora, o nosso tempo é linear (passado, presente e futuro) essa organização temporal já nos força a acreditar que temos sempre que melhorar, que progredir, assim, somos super responsabilizados no nosso dia-a-dia e, como na maioria das vezes, não há mais espaço para o “sucesso” nessa sociedade, que é injusta e desigual, passamos a vida toda frustrados, vencidos e derrotados por que não conseguimos progredir através dos anos. Percebem? A própria forma de contar o tempo já nos impõe a ideologia dominante. Esse tempo progressivo (do menor para o maior) é realmente necessário? Não! Vamos conhecer agora novas formas de concebermos o nosso próprio tempo e veremos que há várias outras possibilidades que não são interessantes para a ideologia dominante, isto é, para quem está no poder.




A noção de eterno retorno de Nietzsche: O que aconteceria se, num dia um demônio te dissesse: Esta vida, tal como agora a vive e a viveu, deverás vivê-la ainda outra vez, e outras vezes inumeráveis... A eterna ampulheta do tempo será eternamente virada ao contrário e você com ela, ínfimo grão de poeira – voltará ao começo como num eterno retorno. Você, certamente, amaldiçoaria o demônio que assim o falou. A não ser que tenha vivido uma vez um instante fabuloso, e assim teria respondido: Você é um deus e nunca ouvi coisa mais divina. A idéia pensa sobre a possibilidade de cada momento da nossa vida se tornar eterno e se repetir ao infinito, ter-se-ia assim, um rigoroso critério de avaliação: só um ser perfeitamente feliz poderia querer uma tal repetição eterna. Inversamente, porém, apenas num mundo que deixasse de ser pensado no quadro de uma temporalidade linear seria possível tal felicidade plena. O nosso tempo linear se articula em presente, passado e futuro, implica assim, que cada momento só tem sentido em função dos outros numa linha do tempo, assim cada instante é um filho que devora o pai que, por sua vez, será devorado pelo seu filho, assim sucessivamente. Dessa forma, não conseguimos ser felizes, pois a felicidade de hoje implica numa felicidade de ontem que já não existe mais.











A noção de processo histórico de Marx: Os homens fazem sua própria história, mas não a fazem como querem; não a fazem sob circunstâncias de sua escolha e sim sob aquelas com que se defrontam diretamente, legadas e transmitidas pelo passado. A tradição de todas as gerações mortas oprime como um pesadelo o cérebro dos vivos. E justamente quando parecem empenhados em revolucionar-se a si e às coisas, em criar algo que jamais existiu, precisamente nesses períodos de crise revolucionária, os homens conjuram ansiosamente em seu auxilio os espíritos do passado, tomando-lhes emprestados os nomes, os gritos de guerra e as roupagens, a fim de apresentar-se nessa linguagem emprestada. Assim, Lutero adotou a máscara do apóstolo Paulo, a Revolução de 1789-1814 vestiu-se alternadamente como a república romana e como o império romano, e a Revolução de 1848 não soube fazer nada melhor do que parodiar ora 1789, ora a tradição revolucionária de 1793-1795. De maneira idêntica, o principiante que aprende um novo idioma, traduz sempre as palavras deste idioma para sua língua natal; mas só quando puder manejá-lo sem apelar para o passado e esquecer sua própria língua no emprego da nova, terá assimilado o espírito desta última e poderá produzir livremente nela. Esta idéia de Marx demonstra como o passado é manipulado no jogo político do presente. Como os lados que estão em combate no presente se utilizam de personagens históricos para justificar suas posições políticas e legitimar os seus governos.












A noção de projeto de Sartre:
Segundo a metáfora já antiga, o tempo flui como um rio que passa. As águas correm de modo contínuo, vindo da fonte em direção ao mar, como o tempo que também escoa de modo contínuo. Se essa imagem for tomada a sério, o presente aparece como conseqüência do passado e o futuro como conseqüência do presente, tal como as águas, que vêm lá de trás e vão sempre para adiante. Pode-se representar esse mesmo modelo traçando uma linha reta, da esquerda para a direita: o passado atrás, o futuro à frente. Sentado à beira do rio, a água que agora passa diante de mim foi produzida há alguns dias atrás, nas montanhas, e vai em direção ao mar. Entretanto lembra Merleau-Ponty, as massas de águas que passam agora diante de mim e vão para o mar não vão em direção ao futuro, como ingenuamente supõe a metáfora; ao contrário, elas desaparecem no passado (que já passou por mim). Mas não se trata apenas disso. Se me afasto da beira do rio, considerando-o em si mesmo, verifico que a água que passará amanha naquele ponto em que não estou mais, está nesse momento na sua fonte. Do mesmo modo, a água que acaba de passar está agora um pouco mais abaixo. A água que vem lá da fonte será futuro para mim se eu estiver à margem do rio; a água que acaba de passar será passado para mim se eu estiver à margem do rio. Se eu não estou, se o mundo é tomado em si mesmo, verifico que esse futuro e passado são presentes no mundo, não existem como futuro e passado: eles não se sucedem. Percebo que é presente eterno, o mundo não é temporal. Sartre observa que as coisas, nelas mesmas, não são temporais, e que apenas para nós há passagem do tempo, não há temporalidade em si mesma.

sábado, 4 de agosto de 2007

Águas de Um Rio Que Não Volta Mais


Ele passou, não me levou, e por isso mesmo não poderei em teu limo pisar!!! Apenas as pedras são as mesmas!!!! Nos mesmos rios entramos e não entramos, somos e não somos, deixe-o passar! Heráclito assim o quis, como a um chamamento à Dionísio!!!

Apenas após tua língua quente, Deusa Clio, pude compreender a força destas palavras. São elas que, a mim e a Heráclito, consegui compreender a força de tua onda devastadora!

Por isso, novamente evocamos a Heráclito, e de novo: Desse lógos, sendo sempre, são os homens ignorantes tanto antes de ouvir como depois de o ouvirem; todas as coisas vêm a ser segundo esse lógos, e ainda assim parecem inexperientes, embora se experimentem nestas palavras e ações, tais quais eu exponho, distinguindo cada coisa segundo a natureza e enunciando como se comporta. Aos outros homens, encobre-se tanto o que fazem acordados como esquecem o que fazem dormindo.

Pois, a Deusa Clio a mim, me acordou, e sua força me fez ainda mais ignorante. Ignorante por não saber como tanto pó acumulou sobre Ti... apesar de ter feito-me acordar de um sono profundo, mostrou-me como o mundo a mim não mais me pertence! E de novo Heráclito a me chamar: Se não fosse Dioniso a procissão que fazem e o hino que entoam com as vergonhas, realizariam a coisa mais vergonhosa, mas é o mesmo Hades e Dioniso, a quem deliram e festejam.

Séculos depois, e nem mesmo a Genealogia conseguira retirar tanto pó..... homem, que acontecestes contigo depois do velho Sócrates. Quanta falta tu me fazes!!!! Quando foi que deixastes de me acompanhar nos bosques, com Sileno? Quanto tempo não nos vemos? Imagino que o velho Sócrates o tenha envenenado!!!! Por isso sumistes de mim, por isso estás a se encobrir no devir heraclítico!!!

Seara mitigada, campo várias vezes desbastado, este campo chamado homem! O quê dizer de uma campina que, mesmo após tanto vento e erosão, ainda nos dá a grata surpresa de sempre vida nova! Quanto mais nova se queda, mais se encobre tua real condição.... existência mesquinha, essa de séculos depois.... deixamos de ser homem para tornarmo-nos um prólogo euripidiano!

Volte a ser o que sempre foi, homem de Sófocles!!!

Clio, dá para voltarmos antes de assentado o pó?

Poesia

A idéia da loucura desfez no louco a idéiA


I


a esperança aumenta meu medo
sentindo a vontade de pedir algo
alguém no céu sacoleja a cabeça
do berço que me come e me assombra
a alma que anuncia que a vida
já se foi na sombra dos passos
que samba na luz do perdão
do osso que sobrou dos escombros
do beco que a luz não vingou
nas costas de quem não viu
na televisão que fingiu ser
a verdade de quem sonhou
o que não quis fez o sorriso
bobo de quem sentiu que está
morrendo desde quando NASCEU!



A dEsIlUsÃo MoRrE dEsIlUdIdA


II


QUEM NASCEU MORREU VIVENDO
CADA ESPERANÇA QUE O TEMPO COMEU
O PÉ QUE INCHOU VIROU AREIA
QUE O MAR LAMBEU E DEPOIS CUSPIU
DA MIRAGEM DO SEU OLHAR
O QUARTO ESCURO QUE IMPUTOU A MEU BEIJO
A VONTADE QUE SENTI ERA SUA
E MAIS NADA HAVIA EU DESCOBRI
QUE O RIO QUE PASSOU NÃO ME LEVOU
PORQUE NA VERDADE NUNCA ESTIVE aqui!

Manifesto da In-Vasão


A musa Clio ébria pelo hálito sedutor de Dionísio volta a si para refazer a história, para embriagar a razão tecnicista e criar os alicerces de uma outra vida.
Queremos instalar o "inferno" neste céu azul de brigadeiro e aterrorizar as mentes conformadas com nossas idéias de destruição em massa, para destruir a massa, a homogeneidade, o que é amorfo. A destruição criativa. Destruir para criar, pois toda destruição é uma criação.
Não queremos ser convidados, queremos invadir, apossar, penetrar a última mente virgem e violar as leis da injustiça.
Dêem vasão a seus desejos recalcados. Faça da razão uma vontade de ser o que não é.
Invadam-nos. A invasão começa agora. Ocupe este não espaço, este não-lugar que é um lugar de todos os insatisfeitos e inconformados.

Pequeno Caderno Virtual

A intenção deste pequeno, e simplório, libelo - pois assim o chamo por, com base em tal chamamento, poder declamar toda a liberdade dionisíaca que o mundo pode nos oferecer - é fazer com que duas nobres almas tenham condições de oferecer, a este tórrido mundo virtual, um pouquinho de alegria semântica e sintática, sem que, com isso, nos caia na cabeça qualquer peso indefinido.

Não quero(emos) fazer nenhum alarde de nossa pseudo-saúde intelectual.... queremos apenas poder deitar sobre belos prados e cuspir para cima algumas palavras.... e que sejam palavras perdidas, pois precisamos encontrar os vocábulos que, se juntando, a elas se formou!!!

Bem.... apenas um intróito.... espero que, dele, novas idéias possam surgir.....

Bem vinda seja, Deusa Clio, seu fiel e orgiástico servidor a segue.... um abraço de Dioniso!!!!