quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Sob o Pó do Tempo...

A história é legitimada a partir do retrocesso, não que isso signifique um retorno ao obscurantismo, mas um retorno de fato, ou seja, um retorno a tudo aquilo que está posto sobre a mesa, colocado sob a poeira do tempo e encoberto pela ignorância de nossos antepassados. Assim, tudo isso passa ser repensado, revisto e redescoberto, principalmente do ponto de vista psicológico. É como se tivéssemos a possibilidade de andar alguns degraus para trás, para vermos o que nossa sombra (e a sombra do mundo) encobriu.

Velhos valores, velhos conceitos e velhas ideologias devem ser pensados como realmente são, isto posto, apenas uma certeza; coisa velha! Seu pó (o pó do tempo) há muito encobriu velhos saberes e até mesmo velhas verdades, por isso mesmo somos tão cheios de preconceitos, embora, muito donos de si. Nesse sentido, o fato de sermos donos de si, pensando sob esta forma retrógada, é bem diferente do ser dono de si, com olhares para adiante. Com olhares de ruminação...

Apenas pensando para trás ultrapassamos preconceitos e medos (preconceito do que está aí posto, medo do que se coloca, adiante, diante de nossos olhos), recolocando saberes e valores no trilho novamente; aqueles encobertos pela poeira da estrada. E quando nos dispomos a largar destes vícios, nos dispomos a olhar o futuro com bons olhos (e com outros olhos)... e esta sensação é o começo de uma nova visão de mundo.

Como por exemplo no aforismo de Humano, Demasiado Humano: (...) em seguida é necessário um movimento de retrocesso: ele tem de compreender a legitimação histórica, assim como a psicológica, de tais representações, tem de reconhecer como a máxima promoção da humanidade veio de lá e como, sem esse movimento de retrocesso, nos privaríamos dos melhores resultados conseguidos pela humanidade até agora. (§ 20)

O movimento de retrocesso, dessa forma, acaba causando em nosso espírito uma nova oportunidade e um novo olhar. Um novo olhar que nos coloca aquém de tudo aquilo outrora, por nós, passado, e dentro de algo novo, por nós passado mas, ao mesmo tempo, não-visto de forma plena e distinta. Uma nova oportunidade que nos dá, também, uma nova chance de corrigir os erros de nossos antepassados.

A necessidade de se encobrir nosso espírito de história nos dá uma segunda chance para um novo passado, embora, um novo passado já vivido, porém, pouco sentido...

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