sábado, 16 de outubro de 2010

Sonho de Ícaro


As torres de uma cidade, tal como o panóptico de Foucault, servem para vermos das alturas, sem que possam nos observar. Por isso, olhando de lá, sinto que o caminho, e sua estrada, foram traçados unicamente para podermos, como ovelhas, depositar nas urnas dois dígitos, sem ao menos sabermos o que significam tais dígitos. Que números posso lá digitar? Uma pergunta que não convêm a mim, e sim àqueles que aqui lêem estas letras.

Anteriores ou vindouros, o quê colocamos nas urnas não passa de meros dígitos, longe da representação que outrora tivemos... aliás, uma representação que nunca tivemos: como representação de si nos resta o número de alguém, com uma plataforma de ninguém, que não tem nada a ver comigo, nem contigo!

Uma forma de sabermos o tamanho deste panóptico seria, justamente, ir o mais distante possível dele. Visto de longe; de longe colocaríamos nosso pastoreio e, menos ainda, seríamos contaminado por tal doença... mesmo sendo, nós, os fortes da história.
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Preconceitos morais seriam meramente momentos de consciência fora de nós, ou, pensando no coletivo de nosso povo: algo que acontece em todos aqueles que a má doença tomou conta. Nossa consciência só se constitui quando dela nos despimos... tal como, atualmente, nos vemos e nos vêem... vêem a gente como se nós tivermos vendo-os! Mas, o quê gostaríamos de ver?.

Uma solução? Certamente aquela colocada por Nietzsche em A Gaia Ciência: “Pensamentos sobre preconceitos morais”, caso não devam ser preconceitos, pressupõem uma posição fora da moral, algum além de bem e mal, ao qual é preciso subir, galgar, voar (...)(§ 380), vemos aquilo que os preconceitos querem nos mostrar... Se quisermos galgar além disso, com certeza, precisamos tirar da estrada a asa que nos coloca junto à Ícaro...!.

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