terça-feira, 19 de outubro de 2010

Grandeza do Espírito


A força do espírito, como força de lei, passa a olhar o mundo como um preço a ser estipulado e uma conquista a ser valorada, preza-se com isso o poder imperioso de fazer o espírito brotar numa semente genuína onde os valores de outrora apenas compõem o mosaico do porvir. Com uma liberdade intimamente ligada à propensão de dominação e à reavaliação da vida. É como se o forte voltasse a exigir seu poder e domínio de volta, é como se o fraco fosse preterido em detrimento de uma revolução.

Estes espíritos imperiosos que vez ou outra surgem no mundo nada mais desejam que reivindicar seu trono de volta, é como se um trono, há muito perdido, fosse novamente requisitado..., pelo simples fato de não ter sido tomado por ninguém, mantendo-se vazio à espera deste dono sempiterno. Um dono que sempre esteve por perto, contudo, apenas olhando de forma distante.

O grande risco que surge deste controle são as mãos que o toma. Até que ponto há um espírito tão valoroso capaz de reivindicar de volta isso, sem que suas pretensões sejam engano de um ser fraco e voluntarioso?

O que poderia ser alheio passa a ser meio para um fim mais valoroso e nobre, para uma vida mais aberta ao novo e ao distinto... ao contraditório até. Não que se justifique qualquer ação, mas que se constitua uma revolta interna capaz de alimentar esta semente em plenos valores de germinação, uma semente que com sua seiva bendita traga novos e nobres espécimes. Assim, sua galhardia só se confirma conforme os atos então justificáveis e justificados, com gérmens cada vez mais belos e sempre-tenros.

Se nalgum momento um espírito como este surge das entranhas de nosso ser, como outrora, precisamos de tais vísceras e de sua abnegação com o velho, além de tão belos valores quanto a força que deles, como broto novo, surgira. Há que se valorar aquilo que o ser concebe como mais profundo; de tábula rasa o mundo está cheio de pretendentes ao trono, e nenhum espécime capaz de domá-lo.

Em Para Além de Bem e Mal, um aforismo é bem detalhado no que se refere à esta revolução, aliás, a esta revaloração, vejamos: A força do espírito em apropriar-se do que é alheio revela-se em uma forte propensão a assimilar o novo ao velho, simplificar o diverso, passar por alto o inteiramente contraditório ou descartá-lo: assim como arbitrariamente sublinha mais forte, destaca, falsifica para seu uso determinados traços e linhas no que é alheio, em cada pedaço de “mundo exterior”. Seu propósito, nisso, é a incorporação de novas “experiências”, a inserção de novas coisas em velhas séries – crescimento, portanto; mais determinante ainda, o sentimento de crescimento, o sentimento de força aumentada. (§ 230) A força que deste novo irrompe deve entrar naquilo que está carcomido e revigorá-lo dentro de uma nova roupagem que, por sua vez, cria novos brotos.

Este novo não pode ser pensado de forma aventureira, mas de forma revigorante e premente (com uma constância quase sagrada), o que garante o surgimento da força do espírito num universo outro. O que garante uma constância jamais igual ao posto anteriormente... uma constância de algo sempre novo e nobre!

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