segunda-feira, 24 de setembro de 2007

Seção: Filosofia de Boteco - Dioniso Sóbrio V


Aforismos: Sopro Divino

O ser só assim se parece devido sua relação fonética com a metafísica, e a tradução de sua relação com as idéias num mundo que, imaginamos, a nós pertence. Dessa forma, a afirmação de que "Sou o que Sou", como disse Deus a Abraão e "Sou o Ser", o mesmo Deus dizendo a Moisés; além de afirmar uma máxima teológica, logo, longe do âmbito humano e ao mesmo tempo subordinado ao âmbito relacional humano, e suas criações senis; afirma também a máxima de que homens de boa fé sempre serão homens de boa fé, e nunca serão, realmente homens. E, dessa forma, apenas homens de fé conseguirão corresponder à expectativa criada pela sua tradução de idéias com a metafísica temporal (fazendo com que sua vida se constitua) que, sabe-se, acaba se constituindo como uma metafísica atemporal. A História quando cria histórias sobre o seu nome - principalmente sendo uma criação humana, logo, humanas também são essas histórias criadas -, cria também nomes que surgem para estarem acima e além; criando com isso, histórias em cima de história. Humanos que somos, fruto de uma involução estranha, porém veemente e taxativa, tentamos entender esta relação metafísico-temporal, sem dor, e sempre em caminho reto. Já quando nos propomos a usar de nossa boa fé, ainda mais, afirmamos esta metafísica. Deixamos de ser o Ser, e de ser o que Somos. Apenas conseguimos ser alguém não sendo ninguém. Apenas conseguimos nos conceber, cultural e socialmente, dentro do status de ser do Outro... o mesmo de Abraão e Moisés. Por isso Proudhon, em sua Filosofia da Miséria, dirá: E o primeiro movimento do homem, arrebatado e penetrado de entusiasmo (do sopro divino), é de adorar a invisível providência, da qual se sente depender e que denomina Deus, isto é, ser, espírito, ou mais simplesmente ainda, eu: pois todos estes vocábulos nas línguas antigas são sinônimos e homófonos. O sopro divino que carregamos, e que nos arrebata, quando não conseguimos ser qualquer coisa, se corporifica - de forma etérea - e se constitui como sendo algo em nós - este é nosso primeiro movimento rumo ao nosso mundo verdadeiro. Como não conseguimos ser, usamos da linguagem para deixarmos de ser. Será que a involução consegue explicar isso? Ou será que são os homens que não querem se explicar a si mesmos? A linguagem, mecanismo pleno de humanidade, ganha características metafísicas, e só passa a ter significado quando não nos significa, embora, a nós nos converte em humanos; seres coletivos que constroem história. Nosso primeiro movimento é o de tirar nosso corpo de nós e colocá-lo no metafísico, dando ao tempo, e à involução, mais motivos para nos infirmar. A gente afirma o Outro-para-nós, deixando de afirmar o nós-no-Outro. Como um sopro, saímos do pó, damos uma girada no ar, e voltamos ao pó, achando que somos alguma coisa, além de pó... nas línguas antigas somos sinônimos e homófonos, por isso somos humanos, e por isso o sopro divino.


Um comentário:

Walmir disse...

Ah, pois. Largas coisas para se saber. Quando o cabr diz "meu corpo", é "meu" de quem? Quando diz "minha alma", é minha de quem. Que coisa é essa além de corpo e alma do vivente? Esse algo que se transfigura-se arrebatamentos?
É, pois.
Vergonhas de não saber, de apenas saber.
Qual o número das abelhas de uma colméia, mais de cem, menos de um milhão, que ninguém sabe, mas sabe-se que é número exato?
Ergo, um espírito existe.
paz e bem