sexta-feira, 14 de setembro de 2007

A Evolução...

Parte I

Nossa história é permeada de dissabores, de sabores e de odores. Sempre surge um cheirinho de pó no ar, tanto quando nos referimos à evolução, quanto quando nos referimos à história da antropologia, propriamente dita, aquela que é humana, e que fora feita por humanos. O ressentimento de não termos acesso a este passado de uma forma límpida traz ainda uma outra questão: o caminho percorrido pelo homem, até onde sabemos, é um caminho inteiro, ou apenas fragmentos? E ao me referir a ser inteiro, ou fragmentário, não cito o caminho propriamente dito, mas a forma como este caminho fora contado por nós, e pela sanha linguística de a tudo atingir, não deixando nada em suspenso - imagino que, por vezes, falta esta suspensão.

Em Humano, Demasiado Humano, obra de Nietzsche, escrita em homenagem ao centenário da morte de Voltaire, donde o autor tenta traçar um caminho para que o homem atinja o grau de homem enquanto ser de espírito livre, num de seus muitos aforismos, ao se referir a este quehacer da História, ele notará claramente o quanto há uma correlação com a noção de Cultura; aliás, eu diria ainda mais, ele se utiliza do termo Cultura para tentar traçar um perfil do desenvolvimento da humanidade, "desde lá, em sua origem monocelular até sua bunda frente à TV" (esta última parte, entre aspas, já é de minha alcunha, como uma interpretação sobre). Este perfil, ao menos esta tentativa de traçá-lo, desponta sobre nós, às vezes, como uma grande incógnita, outras como um longo passo atrás.

Vamos ao aforismo citado acima, de número §249: Sofrendo com o passado da cultura. - Quem percebe de modo claro o problema da culura, sofre de um sentimento semelhante ao de quem herdou uma riqueza adquirida ilegalmente, ou ao do príncipe que governa graças às violências de seus antepassados. E, eu, dando um pitaco: até mesmo as violências que foram praticadas pelas espécies, em sua guerra encarniçada pela sobrevivência, onde nem sempre o mais forte e o mais esperto conseguem sobreviver, restando ao mais fraco, e mais estúpido tal butim. Continuando: Pensa com tristeza em sua origem, e com frequência tem vergonha e fica irritado. Todo o montante de energia, vontade de viver e alegria que dedica ao que possui é muitas vezes contrabalançado por uma enorme fadiga: ele não consegue esquecer sua origem. Olha o futuro com melancolia; os seus descendentes, ele já sabe, sofrerão do passado assim como ele. E este sofrimento faz com que, cada vez mais, tentemos manter o statu quo, devido a facilidade de lidar com realidade tão alienada - além de alienante - e chã. A melancolia de que o peso da cultura ainda traz para nós suas consequências, principalmente quando deixamos de carregar a pedra lá no início de tudo, preferindo nos esconder.

Pode até não ter nada a ver, mas quando me lembro de Homer Simpson, mais ainda este peso me chega em mente. Uma vida onde a vida está apenas no imediato de uma procedência bastante antiga. Por outro lado, como um caminho longo, ao sair desta evolução como vencedor é a ele que damos as batatas, e depositamos nosso butim, mesmo sabendo que, em momentos cruciais ele preferiu se esconder. Esta briga constante que nosso personagem trava poderia muito bem ser a briga de todos nós. Uma briga que nos deixa cansados. No entanto, por sua homérica consolidação, tira-nos um pouquinho desta preguiça diária... em contrapartida, ao chegar em casa, afunda a bunda no sofá, frente à televisão.

Ps.: Se atente para o que está em negrito, pois voltará!

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