sexta-feira, 9 de maio de 2008

Crônicas de Pré-Morte!


Dizem que a morte nos faz repensar certas coisas, incluindo a tão afamada religião e seus mais variados apetrechos - mesmo fora dela - como é o caso da religiosidade. E quando esta morte vem anunciada, porém, de uma forma brusca, ainda mais, o repensar se absolutiza, fazendo-nos refém de um destino já previsto, embora não esperado, pois ninguém espera a morte, olhando pela janela; e a buscando no horizonte. Morrer é sempre uma situação que, mesmo sendo certa, nos faz não querer vê-la; preferimos acreditar que o duradouro é a vida e a certeza é a morte; parece que conforta... muito menos esperá-la.

Juntando-a com uma outra catarse, outra vez, seu viço se ilumina, e sua áurea se fortalece. Esta outra catarse a que me refiro é a música: se o homem é sincero e a humanidade verdadeira, tais coisas só podem acontecer em momentos de catarse; e música e prenúncio de morte são fortes elementos para a liberação dessa catarse, logo, para a iluminação do ser e a veracidade da vida... mesmo sendo uma vida em finalmentes... por isso sua veracidade e destempero virtuoso.

Uma pessoa, aliás, um cantor que conseguiu unir tais elementos de uma forma muito bela e poética foi Cazuza, mesmo dentro de uma canção vinda à público (ao menos para mim) através de Renato Russo, outro poeta que viu a morte anunciada, sem mesmo querer que ela surgisse... e que aparecesse em sua direção com as mãos em posição de acolhimento.

Bela canção de um não-tão-belo-fim-assim... anuncia-se a morte por meio da música, e sua religiosidade ultrapassa a crença e atinge o coração, colocando em cena dois elementos de iluminação efetiva e última... não sei se para o fim, ou para o começo... talvez só o saberemos quando anunciarem nossa morte e não a querermos esperar!!!

Mas, o que me importa (e este verso me lembra Marisa Monte) seu carinho agora, e sua mão estendida em minha direção, dando-me acolhimento... se ainda não anunciaram meu fim (Pensarão alguns)?!

Um comentário:

Walmir disse...

No entanto sabemos (mas não sentimos), mano blogueiro, que a Velha Senhora virá nos visitar. Concordamos com isso racionalmente. Nossa vida não sabe. Nossa vida tem pretensões de eternidades. Não consegue sentir nem imaginar o "nada", do mesmo modo que não consegue sentir nem imaginar o "infinito".
São apenas conceitos da racionalidade.
Vez por outra temos uns momentos de loucura - que os budistas chamam de iluminação e os psiquiatras de alucinação - que nos encabulam. Nesse momento parece que entendemos tudo - já aconteceu comigo, outros já me relataram fatos parecidos, há literatura a respeito - mas passa rápido e do que foi entendido fica apenas uma vaga impressão de um momento diferente.
A vida, mano, não larga mão de si mesma.
Neguinho tá nas últimas, pode se despedir dos amigos, mas ainda assim inventa eternidades.
É muito demais para um vivente "sentir" a morte. Não temos este sentido.
Pelo menos no geral. Pode ser que alguém insabido o tenha.
Paz e bom humor, sempre.