segunda-feira, 1 de outubro de 2007

Seção: Reflexões



Brasil Profundo


O Brasil Profundo é muito mais profundo do que imaginamos. Seu buraco é tão longo e escuro que nem mesmo conseguimos ver sua escuridão - apenas uma sombra de algo, ou de alguém, e nada mais.

Assistindo ontem um programa sobre a Série C do Campeonato Brasileiro, me veio uma tristeza na alma, e principalmente, uma dor aguda na ponta dos dedos - estes mesmos que vos tecla - para jogar no papel tanta angústia. E ao me referir a Brasil Profundo, o falo tentando encontrar, ou ao menos ouvir, todas as vozes esquecidas por uma indiferença brasílica e uma indigestão nas entranhas. Como se os intestinos tivessem dado um nó. Um nó de angústia e de dor, que nem na alma se pode esperar dor mais aguda.

Como se várias mãos dadas tentassem dizer para o mundo que há vida na várzea das grandes competições da vida, e que esta vida faz parte de um Brasil que muito pouco conhecemos - isso para não dizer que nada conhecemos - no entanto, todo dia pulsa e respíra tal como nós: seres cosmopolitas do sul do país. O que dizer de um Ríver da Amazônia, ou de um Barras do Piauí? Nada, nem sabíamos que estes nomes tivessem vida; apesar de gritarem todos os dias, pedindo apenas para serem vistos e ouvidos.

E para balizar essa informação, nada melhor que o corriqueiro para nos ensinar. O corriqueiro de quem está gritando, a plenos pulmões, que existe, e que faz parte de um Brasil que também é nosso, sem o sabermos. Referindo-se ao futebol fala-se muito em alienação - mas se fala também de vida, e de vidas que pedem ajuda, fazendo um apelo a nossos ouvidos requintados -, e ainda mais quando essa tal de alienação tem a ver com o simples domingo de um pai de família alienado, e que grita: ainda assim existo! Num domingo e no mundo em que se busca na TV e na pelota um pouco de dignidade para aqueles que se encontram nos rincões do Brasil Profundo. E para aqueles que fazem destes rincões uma vida inteira, apesar de feliz...

Aqueles que buscam num simples domingo, sua TV e uma pelota na cabeça, um pouco de dignidade para uma vida que é a própria invenção de uma tragédia. Um drama que nada mais é que a invenção de um cotidiano que também fazemos parte - com nossa indiferença e asco -, sem o saber. Uma vida que tenta se afirmar, a contrapelo da Federação e da Confederação, mostrando que está ali... mesmo quando insistem em não ver.

Uma aventura pelo Brasil Profundo diz mais de nós, do que poderíamos imaginar!

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