segunda-feira, 15 de outubro de 2007

O Esquecimento...


Parte III


O Império Romano dá-nos a grata medida do quão importante, e ao mesmo tempo tão corriqueiro, a diferença momentânea é para a constituição de uma igualdade, também momentânea. Sua grande expansão e, principalmente, sua sólida derrocada, se deve a estes dois momentos, tão distintos e, na mesma medida, tão próximos e entranhados.

O esquecimento que os vários povos, outrora conquistados, tiveram que se utilizar para poderem constituir sua civilização, teve papel bastante patente na consolidação de sua cultura. Além disso, o fato de haver liberdade entre estes povos conquistados, de continuarem com suas crenças antigas, é-nós um paradoxo interessante: por não terem se esquecido do que praticavam, pois assim faziam diuturnamente, acabaram se utilizando disso para se esquecerem do domínio outrora imposto pelos Imperadores da Cidade Eterna.

A diferença que foi permitida a estes povos teve uma característica que a torna diferente de outras construções imperiais, mas todavia, era-lhes permitido certa igualdade, ao oferecerem a estes povos a condição de se tornarem cidadãos romanos, não o sendo. Herança de Alexandre e o helenismo por ele incentivado.

Gibbon dirá assim, a respeito: [Os povos conquistados] Podiam ocasionalmente sofrer os desmandos e as injustiças da autoridade delegada; o princípio geral de governo era contudo prudente, simples e benéfico. Podiam cultuar a religião de seus antepassados, ao mesmo tempo que, no tocante a honras e vantagens cívicas, eram promovidos, por graus eqüitativos, até a igualdade com seus conquistadores.

Como é possível ser igual a alguém que domina, desmanda e taxa? Aliás, como é possível manter a diferença numa situação de possível igualdade? Será necessário esquecer o que se tem, ou que se construiu, em dado momento? Ainda mais; será possível se esquecer do que se tinha, num bombardeio constante de coisas tão não-nossas? Pois bem, o esquecimento aí teve via dupla, sendo, por isso mesmo, paradoxal, pois, logo após a queda do grande Império, certos hábitos antigos, anteriores aos instituídos - pero no mucho -, pelos romanos, nunca mais voltaram a ser parte diária e quotidiana destes povos conquistados.

A confusão que esta profilaxia nos remete traz ainda mais dúvidas... sair de um ambiente que não é meu, passando a ser meu, por meio de minha aceitação, e fazer disso algo que poderia ser só meu, tão-somente é possível quando conseguimos lidar com o esquecimento em momentos típicos e específicos... lembrando que a lembrança reforça minha diferença perante a igualdade do outro! E meu esquecimento reforça a situação de que eu possa estar tanto na diferença, quanto na semelhança do outro, e para com o outro; fazendo isso, sendo eu um pouquinho mais que a lembrança do tempo do outro, e do outro. É muita confusão!

2 comentários:

Serenade disse...

Você estabelece a diferença com a qualidade de seu blog! Parabéns!
Fazemos parte do todo e isso já é confusão suficiente, rs
Beijares alegrares

Walmir disse...

Pois é, professor. E as conquistas continuam, só que hoje atrAVÉS DE OUTROS PODERES. Vamos assimilando costumes globais, embora, de todo, não esqueçams os nossos. Colonizados por lusitanos, fomos conquistados por franceses, depois por anglo-americanos e, hoje, ando com alguma prevenção quanto aos chineses.
paz e bem