sexta-feira, 12 de outubro de 2007

Seção: Filosofia de Boteco - Clio Ébria V

Aforismos: Poder
Já dizia Hannah Arendt contradizendo a Aristóteles que o homem não era um animal político e sim que a política como um produto humano, na verdade, estava "entre-homens", isto é, a política enquanto atividade humana se dá na relação entre-homens.
Em Microfísica do Poder, Foucault afirma que o poder é despersonificado, que está pulverizado na sociedade, que não tem lugar, em suma, o poder é um exercício.
Uma afirmação que à primeira vista pareceria óbvia e constituir-se-ia em um truísmo, se pensada em sua profundidade resulta em uma verdadeira revolução da inteligibilidade política.
Em conseqüência da análise foucaultiana ocorre a desmitificação do poder centralizado do Estado ou da personificação do poder em uma ou mais pessoas. O poder é constituído por redes que se entrelaçam e o sustenta.
Isto constitui um soco na boca do estômago de todos os sabores e tendências políticas. É uma crítica ao anarquista individualista do final do século XIX que defendia a política pela ação e acreditava que atentados a grandes chefes de Estado poderia ser uma contribuição enorme a causa revolucionária. É também um tiro certeiro no pé do liberal que criticava o Estado por emperrar a concorrência e o livre-câmbio dos negócios.
O poder não está nas pessoas! Matando Bush, não se conseguirá mudar a política externa dos EUA. Matando o líder do tráfico no Rio de Janeiro não eliminará o tráfico. Eliminando o aparato técnico e ideológico do Estado não acabará com a dominação entre os homens.
A dominação está inserida desde a mais simples relação "entre-homens" até a mais complexa. O pior desta revolução que Foucault nos impôs é que os próprios dominados exercem uma parte da dominação que recai sobre eles. O poder se mantém não só pela violência, mas também pelo consentimento, aceitação, indiferença... Exercemos o poder mesmo enquanto dominados!

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