sábado, 13 de outubro de 2007

O Esquecimento...


Parte I


A dignidade humana precisa se constituir a partir de exemplos advindos de Deus, e de sua auto-criação, dentro da sociedade gregária. Como uma autojustificação de ações que, apesar de comprometer a essência dessa sociedade, é também seu instrumento de afirmação. O esquecimento pode ser um desses elementos que Deus-Sociedade coloca no mundo para ser o guardião da soleira do templo da dignidade humana, logo, da dignidade da própria sociedade. Pois, por humanidade, nada mais que o singular da sociedade. Mas, não a humanidade do ponto de vista de seu significado vário, mas do ponto de vista da imparidade e individualidade de cada representante desta.

O esquecimento se justifica para se justificar as ações morais da sociedade. Sua luta de manutenção requer um constante lembrar-se, logo, um constante afirmar. Pois, ao nos lembrar que ali está, nada mais faz que uma autojustificação de um modelo já adotado, e amplamente considerado. Considerado para e por quem? Uma pergunta que requer esquecimento para ser respondida, pois assim feito, deixa de ser moral.

Cada indivíduo é acrescido ao valor da coisa estimada. E é a sociedade que acaba por estimar aquilo que, para nós, posteriormente, mostra-se como zelo! E para isso a Justiça precisa se constituir, tal como uma eqüidade e uma mesma correlação. Nós somos o hábito de uma justiça que se quer eqüinânime!

Dirá Nietzsche em Humano, Demasiado Humano, em seu aforismo §92: Dado que os homens, conforme o seu hábito intelectual, esqueceram a finalidade original das ações denominadas eqüitativas, e especialmente porque durante milênios as crianças foram ensinadas a admirar e imitar essas ações, aos poucos formou-se a aparência de que uma ação justa é uma ação altruísta; mas nesta aparência se baseia a alta valorização que ela tem, a qual, como todas as valorizações, está sempre em desenvolvimento: pois algo altamente valorizado é buscado, imitado, multiplicado com sacrifício, e se desenvolve porque o valor do esforço e do zelo de cada indivíduo é também acrescido ao valor da coisa estimada. Ainda estamos a estimar valores que nos vêm pela imitação e pela repetição. E que tem na educação das crianças um eterno lembrar-se do que era, sem ter sido.

O quê fazer de uma sociedade que, para afirmar-se, nega toda a magia do esquecimento, e que constitue como prosa oficial apenas aquela que quer para si, e não para a liberdade dos homens, aí viventes?

O hábito intelectual de repetir, sempre, a eqüidade que se quer para homogeneizar, é o mesmo hábito que de Deus parte, para a afirmação da sociedade. Até que ponto divinizamos algo para logo em seguida cometermos seu Teocídio?

Que a prosa seguinte disso lide!

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