segunda-feira, 15 de outubro de 2007

Sobre História... e Otras Cositas Más!


Parte I


Ao conclamar os fatos, para que produzam certo efeito da história dos homens, e nos homens, além de construirmos uma ficção que diz respeito a nós, ou àqueles que de tais fatos compartilham, estamos criando alguns monstros para uma coleção particular. Embora nos esquecendo de que junto aos fatos vêm sempre as idéias de um tempo, acabamos afirmando que o esquecimento, neste momento, torna-se arma crucial para a consecução da memória de um povo: logo, de seu legado histórico, bem como de sua existência psicológica... ao menos do grupo que, destes fatos, faz proveito.

Ademais, tendo como instrumento o esquecimento, de forma automática e sintomática, criamos também graus de memória. Algumas num patamar coletivo, outras poucas, num pequeno patamar, posto como um simples rascunho do individual. Quando Gibbon descreve sobre os feitos do declínio e queda do Império Romano, mais que coletar fatos, ele constrói uma ficção que a seu gosto convém, e que, sei lá se ele tinha algum grupo contigo, e que a seu grupo se justifica, embora a nós nos dá um ótimo instrumento de constatação psicológico de tempos idos, e de personalidades pretéritas. Esta construção histórica, que pode ser encontrada em Declínio e Queda do Império Romano, pode servir de subsídios para que possamos compreender como se deram os vários processos históricos, pela civilização passados, e por nós em especial, executados: seja do ponto de vista da crença no que está posto, seja do ponto de vista da construção do que poderíamos definir como feições novas.

Esta multidão de fatos históricos que têm acompanhado a civilização, em sua longa evolução, é uma multidão que nada mais faz que provar a condição de fato que é. Objeto limitado, às vezes necessário, outras dispensável, para a memória coletiva de um grupo, ou mesmo de toda uma humanidade em específico. E por humanidade em específico, procuro fugir do conceito de que, como humanidade que somos, a nós convém, e nós justificamos, uma mesma conduta, ou ainda, mesmas noções coletivas morais.

Gibbon chega a dizer que alguns fatos têm a condição de fatos necessários para uma construção histórica de alguém, jamais de um todo. Alguns fatos são, inclusive, úteis para a construção de verdades, também úteis à humanidade. Daí pensa a história como uma conclusão parcial de alguém que, mais que parcialidade, quer se mostrar como uma totalidade. Aliás, o próprio Gibbon acaba fazendo isso em sua obra, ou indo ainda mais longe, em seu estilo de escrita.

Quando um filósofo se envolve nessa discussão, uma outra noção de História daí advém. Ele, por sua vez, tentará chegar a uma conclusão, a partir de certa personalidade específica, tentando compreender com isso duas coisas: por que certa personalidade tem esta noção de pensamento, e como sua sistemática cognoscente contribui para os feitos de um momento histórico, e até mesmo para o constructo dos fatos que deste momento surgiram para, posteriormente, pelas mãos do historiador, chegar a uma conclusão deste tempo ido, ou a algum livro inovador de Estudos Históricos. Notamos, com isso, também uma constatação parcial, no entanto, com perspectiva de totalidade.

As características particulares, notadas por estes filósofos, na personalidade de um tempo, além disso, contribui para que o fato histórico ganhe status de constatação verossímel. Daí Gibbon dizer que: tais fatos dizem respeito apenas a elos individuais de uma cadeia, a qual também fazemos parte. Uma cadeia por nós contruída, e a nós necessária... como constatação!

O vasto caos de acontecimentos que desta construção surge, além de nos dar um parâmetro para as crenças deste período, também nos coloca como agentes diretos do que poderia, ou não, ser constatado como fato histórico, logo, como verdade histórica. O historiador se utiliza disso para tentar pôr ordem no caos: entretanto, uma ordem tão-somente a ele conveniente. Como não nos confundir, quando sabemos que, considerando os fatos deste jeito, acabamos os desentranhando do restante? E novamente uma história parcial, que se quer total. Embora para nós, enquanto instrumento que movimenta a máquina, seja total, pois a isso, e somente com isso, lidamos. Há em nós uma limitação; a mesma que nos coloca, de novo, confirmando algo.

A contrapelo, quando surge o esquecimento, e deste esquecimento partimos, novamente estamos totalizando algo que, para nossa visão de presente, e para o momento de pretérito, ainda continua parcial.

Nada como nos utilizar das palavras do próprio Gibbon: Vemos que mesmo os espíritos mais isentos de preconceitos não se podem livrar inteiramente deles. Suas idéias têm um ar de paradoxos, e percebemos, pelas cadeias rompidas, que eles as desgastaram. Devemos, pois, não apenas reconhecer mas sentir a força do preconceito; devemos aprender a jamais nos espantar de seu aparente absurdo e a suspeitar com freqüência da verdade daquilo que parece dispersar confirmação. E assim, segue adiante com seu raciocínio.

Desta feita, quando nos espantamos, ao sabermos que uma bela mulher consegue fazer derrubar um senador, apesar da choldra putrefacta que se encontra em Brasília, e nos mostra um corpo belo... nada mais simples que encarar estas fotos, e o que está por trás delas - por mais absurdo que seja esta constatação -, como sintoma de fatos e personalidades de outrem... talvez até de toda uma civilização chamada Brasil... isso pode nos dizer muito de nós, que nem mesmo suspeitamos saber.

E assim segue o texto... sua prosa não pára!

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