O termo pós-modernismo, cunhado a não mais que quatro décadas, ainda é uma incógnita para muitos estudiosos do tema, observa-se que sua significação é tão efêmera quanto o próprio 'modismo' que se utiliza de tal termo. Nunca dantes um termo forjado por intelectuais, dentro da Academia, surtira tanto efeito no quotidiano das pessoas. Pode-se dizer que foi o termo melhor assimilado, por todos que compartilham do espírito social. É fato que tal termo leva a uma séria de significações no meio social, no entanto o que tem sido mais proeminente, nesta estrutura social e, quiçá, ideológica é a sensação de um mal-estar na sociedade.
Talvez este mal-estar seja o exemplo mais concreto de tantos questionamentos.
Algumas pessoas encaram a
pós-modernidade como um sinônimo de consumismo. Da mesma forma que este termo
possa ‘estar na moda’, o consumismo seria o maior símbolo dessa moda. David
Harvey (1999) por exemplo, não consegue desvincular pós-modernidade de ditadura
da imagem, ou mesmo, da noção de que a estética tenha substituído a ética.
Ainda, segundo Harvey, a ética é
alijada da sociedade e da atitude quotidiana das pessoas, em detrimento da
imagem. Cria-se uma estrutura extremamente individualista que acaba com a noção
de ética na sociedade e constrói em seu lugar uma ‘ética’ (costumes) fortemente
dissimulada e homogeneizadora, isto é, os costumes do individualismo se
coletivizam e grande parcela da sociedade acabam aderindo a isso como um bem
simbólico, fortemente passageiro e modista.
Uma outra característica que é bastante
comentada pelos intelectuais é que a pós-modernidade tenta fazer com que a
sociedade se torne reacionária, por haver uma homogeneização as pessoas deixam
de se preocupar com as dificuldades dos outros.
Antes porém de darmos continuação a
esta discussão, gostaríamos de precisar um pouco mais acerca da origem do tema
e, para isso, nada mais justo que nos utilizarmos do conceito de modernidade,
uma vez que o pós-moderno é cunhado a
posteriori, como uma continuação do moderno, mas com características próprias
e que negam a própria modernidade.
Conforme Featherstone (1995),
começando pela noção de modernidade:
“(...) a modernidade contrapõe-se à ordem tradicional,
implicando a progressiva racionalização e diferenciação econômica e
administrativa do mundo social (Weber, Tönnies, Simmel) – processos que
resultaram na formação do moderno Estado capitalista-idustrial e que muitas
vezes foram vistos sob uma perspectiva marcadamente antimoderna.” (1995: p.20)
e ainda, apresentando os princípios,
origens e características da pós-modernidade:
“Em decorrência, falar em
pós-modernidade é sugerir a mudança de uma época para outra ou a interrupção da
modernidade, envolvendo a emergência de uma nova totalidade social, com seus
princípios organizadores próprios e distintos. (...) Baudrillard e Lyotard
admitem um movimento em direção a uma era pós-industrial. Baudrillard (1983a)
destaca que novas formas de tecnologia e informação tornam-se fundamentais para
a passagem de uma ordem social produtiva para uma reprodutiva, na qual as
simulações e modelos cada vez mais constituem o mundo, de modo a apagar a
distinção entre realidade e aparência.” (idem: p.20)
A intenção de apresentarmos duas
citações tão longas dizem respeito á forma como o autor vai considerar as duas
eras distintas, uma onde existe uma progressiva racionalização econômica e
outra em que a racionalização dá lugar às aparências. Neste momento detectamos
uma semelhança latente à teoria de Harvey, acerca do calor da imagem. Raramente
se racionaliza a sociedade, da forma como os autores apresentam a
pós-modernidade, isto sempre em detrimento do consumo.
Entretanto, após apresentar esta noção
‘bem acabada’ de pós-modernidade, Featherstone tenta nos afirmar que o
pós-moderno não é um conceito acabado, e para confirmar sua tese ele busca
novamente Lyotard, onde este último também flexibiliza o conceito e, para
confirmar ainda mais, cita Jameson que dirá que o pós-modernismo é um estado de espírito, ou em outras
palavras, existe sempre uma preocupação em não uniformizar o conceito, o que
apenas confirma a teoria do ‘passageiro’.
Com efeito, sempre que tentam
interpretar a noção de pós-modernidade, os teóricos afirmam constantemente a
noção de consumismo e, partindo para um lado mais psicológico, buscam
incorporar em seus discursos que as várias significações expressas pela
pós-modernidade têm a ver com a efemeridade e a incapacidade do sujeito de encadear os significantes numa narrativa
dotada de sentido, simplesmente usufruindo as intensidades multifrênicas e as
sensações na superfície das imagens. (FEATHERSTONE, 1995: p.23)
Talvez, a crítica disposta à
pós-modernidade esteja justamente neste ponto; por vivermos em mundo cheio de
imagens, onde a Internet é o meio de comunicação mais endeusado, passamos por
estas imagens e não queremos (ou não conseguimos) decodificá-las mais. É como
se engolíssemos algum líquido tapando o nariz.
Já que não se utiliza mais a
racionalização, não paramos para pensar na real necessidade de possuirmos ou
não determinado tipo de roupa. A estética dita as regras e vomita uma ética
própria, amparada unicamente na consumação de mercadorias. Um exemplo que
Harvey se utilizou, muito perspicaz por sinal, foi acerca do presidente
americano Ronald Reagan; apesar do governo dele ter sido um dos mais corruptos
e os seus colaboradores os mais visados pela justiça. As imagens que ele
passava na mídia eram mais do que suficientes para estrutura sua aparência,
tanto é verdade que seu governo recebeu um índice alto de aprovação popular.
Enfim, ao substituir a ética pela
estética, segundo os autores arrolados, a sociedade começa a se embriagar de
uma série de informações televisivas e impressas, deixando de lado o
questionamento e inaugurando um novo ethos
(costume).
Todavia, certeza mesmo, a respeito da
pós-modernidade não se tem nenhuma, aliás, temos sim, seu caráter transitório.
Estamos vivendo neste turbilhão de coisas, como afirmar qualquer significação?
Bibliografia
HARVEY, David (1999). Condição Pós-Moderna. São Paulo: Loyola.
FEATHERSTONE, Mike (1995). Cultura de Consumo e Pós-Modernidade. São Paulo: Studio Nobel.
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