quinta-feira, 22 de março de 2012

Pós-Modernidade e Consumo



O termo pós-modernismo, cunhado a não mais que quatro décadas, ainda é uma incógnita para muitos estudiosos do tema, observa-se que sua significação é tão efêmera quanto o próprio 'modismo' que se utiliza de tal termo. Nunca dantes um termo forjado por intelectuais, dentro da Academia, surtira tanto efeito no quotidiano das pessoas. Pode-se dizer que foi o termo melhor assimilado, por todos que compartilham do espírito social. É fato que tal termo leva a uma séria de significações no meio social, no entanto o que tem sido mais proeminente, nesta estrutura social e, quiçá, ideológica é a sensação de um mal-estar na sociedade.
Talvez este mal-estar seja o exemplo mais concreto de tantos questionamentos.
Algumas pessoas encaram a pós-modernidade como um sinônimo de consumismo. Da mesma forma que este termo possa ‘estar na moda’, o consumismo seria o maior símbolo dessa moda. David Harvey (1999) por exemplo, não consegue desvincular pós-modernidade de ditadura da imagem, ou mesmo, da noção de que a estética tenha substituído a ética.
Ainda, segundo Harvey, a ética é alijada da sociedade e da atitude quotidiana das pessoas, em detrimento da imagem. Cria-se uma estrutura extremamente individualista que acaba com a noção de ética na sociedade e constrói em seu lugar uma ‘ética’ (costumes) fortemente dissimulada e homogeneizadora, isto é, os costumes do individualismo se coletivizam e grande parcela da sociedade acabam aderindo a isso como um bem simbólico, fortemente passageiro e modista.
Uma outra característica que é bastante comentada pelos intelectuais é que a pós-modernidade tenta fazer com que a sociedade se torne reacionária, por haver uma homogeneização as pessoas deixam de se preocupar com as dificuldades dos outros.
Antes porém de darmos continuação a esta discussão, gostaríamos de precisar um pouco mais acerca da origem do tema e, para isso, nada mais justo que nos utilizarmos do conceito de modernidade, uma vez que o pós-moderno é cunhado a posteriori, como uma continuação do moderno, mas com características próprias e que negam a própria modernidade.
Conforme Featherstone (1995), começando pela noção de modernidade:

(...) a modernidade contrapõe-se à ordem tradicional, implicando a progressiva racionalização e diferenciação econômica e administrativa do mundo social (Weber, Tönnies, Simmel) – processos que resultaram na formação do moderno Estado capitalista-idustrial e que muitas vezes foram vistos sob uma perspectiva marcadamente antimoderna.” (1995: p.20)

e ainda, apresentando os princípios, origens e características da pós-modernidade:


Em decorrência, falar em pós-modernidade é sugerir a mudança de uma época para outra ou a interrupção da modernidade, envolvendo a emergência de uma nova totalidade social, com seus princípios organizadores próprios e distintos. (...) Baudrillard e Lyotard admitem um movimento em direção a uma era pós-industrial. Baudrillard (1983a) destaca que novas formas de tecnologia e informação tornam-se fundamentais para a passagem de uma ordem social produtiva para uma reprodutiva, na qual as simulações e modelos cada vez mais constituem o mundo, de modo a apagar a distinção entre realidade e aparência.” (idem: p.20)

A intenção de apresentarmos duas citações tão longas dizem respeito á forma como o autor vai considerar as duas eras distintas, uma onde existe uma progressiva racionalização econômica e outra em que a racionalização dá lugar às aparências. Neste momento detectamos uma semelhança latente à teoria de Harvey, acerca do calor da imagem. Raramente se racionaliza a sociedade, da forma como os autores apresentam a pós-modernidade, isto sempre em detrimento do consumo.
Entretanto, após apresentar esta noção ‘bem acabada’ de pós-modernidade, Featherstone tenta nos afirmar que o pós-moderno não é um conceito acabado, e para confirmar sua tese ele busca novamente Lyotard, onde este último também flexibiliza o conceito e, para confirmar ainda mais, cita Jameson que dirá que o pós-modernismo é um estado de espírito, ou em outras palavras, existe sempre uma preocupação em não uniformizar o conceito, o que apenas confirma a teoria do ‘passageiro’.
Com efeito, sempre que tentam interpretar a noção de pós-modernidade, os teóricos afirmam constantemente a noção de consumismo e, partindo para um lado mais psicológico, buscam incorporar em seus discursos que as várias significações expressas pela pós-modernidade têm a ver com a efemeridade e a incapacidade do sujeito de encadear os significantes numa narrativa dotada de sentido, simplesmente usufruindo as intensidades multifrênicas e as sensações na superfície das imagens. (FEATHERSTONE, 1995: p.23)
Talvez, a crítica disposta à pós-modernidade esteja justamente neste ponto; por vivermos em mundo cheio de imagens, onde a Internet é o meio de comunicação mais endeusado, passamos por estas imagens e não queremos (ou não conseguimos) decodificá-las mais. É como se engolíssemos algum líquido tapando o nariz.
Já que não se utiliza mais a racionalização, não paramos para pensar na real necessidade de possuirmos ou não determinado tipo de roupa. A estética dita as regras e vomita uma ética própria, amparada unicamente na consumação de mercadorias. Um exemplo que Harvey se utilizou, muito perspicaz por sinal, foi acerca do presidente americano Ronald Reagan; apesar do governo dele ter sido um dos mais corruptos e os seus colaboradores os mais visados pela justiça. As imagens que ele passava na mídia eram mais do que suficientes para estrutura sua aparência, tanto é verdade que seu governo recebeu um índice alto de aprovação popular.
Enfim, ao substituir a ética pela estética, segundo os autores arrolados, a sociedade começa a se embriagar de uma série de informações televisivas e impressas, deixando de lado o questionamento e inaugurando um novo ethos (costume).
Todavia, certeza mesmo, a respeito da pós-modernidade não se tem nenhuma, aliás, temos sim, seu caráter transitório. Estamos vivendo neste turbilhão de coisas, como afirmar qualquer significação?

Bibliografia


HARVEY, David (1999). Condição Pós-Moderna. São Paulo: Loyola.

FEATHERSTONE, Mike (1995). Cultura de Consumo e Pós-Modernidade. São Paulo: Studio Nobel.


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