quarta-feira, 21 de março de 2012

Deste Mesmo Poder!



Aristóteles associa a alma com nossa capacidade de conhecimento. Desta forma, a investigação sobre a alma é importante por ser, ao mesmo tempo, investigação sobre a capacidade humana de conhecimento.
Para a Filosofia, e mais precisamente para Aristóteles, alma é aquilo que organiza a vida e, no caso humano, constitui o princípio do pensamento, é aquilo que faz com que todo o ser do homem seja um humano organizado.
Pensando nisso, uma aproximação menos arriscada seria a de dizer que essa alma dos gregos está mais próxima do que hoje chamamos de inteligência; quer dizer, é aquela capacidade humana de resolver problemas por meio da razão, do pensamento abstrato, da memória, da analogia (e comparação) e de todos os atributos mentais que usamos para nos localizarmos num mundo cheio de signos e vestígios.
Nesse caso, podemos dizer que a inteligência se aproxima daquilo que é o principal atributo da alma: o intelecto; e o intelecto é o único recurso que  nos diferencia de qualquer ser deste planeta.
Assim, o uso da experiência pode ser de grande valia para a produção da ciência e do conhecimento tal como gostaríamos que fosse, por outro lado, uma experiência sem respaldo teórico é meramente repetição (isso em se falando nos dias de hoje, com a noção um pouco diferente daquela empreendida por Aristóteles), nesse sentido, eu diria que a arte precisa de algo mais profundo, bem como a ciência também.
Apesar de sabermos que sem a experiência, tal como apresentada por Aristóteles, não se faz arte, ciência, nem coisa alguma.
A profundidade do saber não se traduz apenas em experiência (que pode apresentar também tábula rasa de alguma situação), mas em se utilizar da experiência para ir mais a fundo daquilo que, eventualmente, concebemos como mundo.
Desta profundidade podemos dizer que se constrói a ciência e a arte, visto que ambas não são obra do acaso, nem tampouco do mero acerto sem pensar. As consequências do conhecimento estão em sempre colocá-lo à prova.
Dá-se, com isso, o uso do raciocínio junto à experiência; e não-somente esta última, desligada do raciocínio.
Que a repetição da experiência não se traduza em raciocínio profundo, mas em complemento para que o raciocínio profundo apareça. Mais que isso, quando afirma que a experiência deriva da memória, automaticamente, Aristóteles está dando um grau de maior valia à mesma, colocando-a lado a lado com sua noção de alma, ou seja, sua noção de intelecto.
Diferente disso, para Descartes, ao questionar todos nossos sentimentos e pensamentos, estamos nos utilizando de uma única certeza; que seria a certeza da dúvida. Esta última, única suficientemente inquestionável e, como tal, ponto de partida e fundamento da construção do conhecimento, logo, da construção de nossa racionalidade ocidental. Entendida por Descartes como fonte de verdade.
Sobre a mera teoria de tornar o conhecimento um instrumento de poder, um exemplo longínquo pode ser Isócrates, que tinha uma habilidade enorme de persuasão, uma retórica muito benquista pelos gregos e pelas necessidades da pólis.
Para aquele povo, pode-se dizer que seu conhecimento estava baseado em situações de vida, em experiências de debate na pólis, que para aquele momento e aquela situação, eram o conhecimento desejado. Resta saber se este desejo era bem visto por todos, como o é hoje a posse do conhecimento por alguns.
Mas, mais do que isso, a partir do momento que se adquire uma certa teoria, num primeiro instante ela é utilizada para preparar-nos à exercer alguma função pública. E o conhecimento nos dá estes instrumentos. Levar isso a exercer algum poderio sobre o outro, aí já é outra situação; e é onde começa o problema.
Uma referência bem simples é o capitalismo, que se utiliza de seu poderio para forçar as pessoas a seguir sua prática, ou se faz isso, ou se fica excluído.
Resta saber qual situação é mais trágica: o conhecimento como instrumento de poder, ou a falta de conhecimento como instrumento capitalista de exploração e perpetuação; deste mesmo poder.

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