quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

Seção - Filosofia de Boteco: Dioniso Sóbrio XIV


Aforismos: Por Liberdade...

Por liberdade, pensando na multiplicidade que o mundo vem a nos oferecer, posso entender como uma necessidade, ou ainda, como um desejo de algo que é incompatível com nossa situação gregária. Pois, da coletividade é que me faço enquanto ser-vivente e, de uma forma mais tímida, também homem-livre - apesar de saber que não sou tão livre, da forma como o termo assim se me exige -, assim, nesta feitura de gente, viro gentes, viro povo... torno-me sociável. O homem social tem muito disso: uma liberdade que o obriga a não ser livre, embora saiba que seus direitos (ao menos alguns) ali estão constituídos... e nem sempre respeitados, como sabemos bem. Isso são artimanhas da manutenção de uma sociedade democrática e a tipificação de um grupo, por ela - mas primeiro por homens - idealizada. São coisas de Governo Representativo, como assim deveria ser o Brasil. Afirmação que me remete à Jonh Stuart Mill em seu livro O Governo Representativo, ainda em seu prefácio: Quando tantas pessoas obscuramente sentem a falta de tal doutrina [seria tal doutrina aquela advinda do Estado, figurado na noção de Governo, ou da Representatividade?] e somente alguns têm coragem de assumir o que obtiveram, qualquer um pode sem presunção sobre seus próprios pensamentos e com o melhor que conhecem dos pensamentos de outros, ser capaz de contribuir para a formação de tal doutrina, criando, em seu aparato de ser-em-representação, um ser-em-liberdade, visto que são pensamentos que se sustentam e se justificam num todo o qual nem sempre é somente-seu, ou compartilhado por saberes somente-seus. Pois bem, a falta de uma doutrina, tão importante e eficaz como essa, não seria uma possibilidade de uma vida em vontade? Aliás, não em vontade, mas em desejo possível? Ainda mais quando sabemos que a possibilidade de concussão de nossos desejos só se dá em coletivo, um coletivo que reforça nossa individualidade, enquanto ser desejante, e detentor de pensamentos próprios (serão nossos pensamentos tão próprios assim?). Perdendo-se no coletivo, como dirá o filósofo-professor-blogueiro Walmir, pode também se isolar na sua individualidade... dualidade assaz interessante para uma sociedade que até há muito pouco tempo, não aceitava sequer a contradição. Coisas de racionalistas modernos... Resta saber se a coletividade a qual estamos, às vezes perdidos, outras achados, dá margem para que um Governo Representativo se faça em conluio com nossa harmonia - em desarmonia. Em outro momento, Stuart Mill é ainda mais instigativo, quando dessas nossas faculdades humanas, que nos permitem construir governos representativos: As formas de governo são incorporadas a qualquer outro recurso para obter os objetivos humanos. Tais formas são consideradas no todo como um assunto de invenção e artimanha. Uma vez que elas são feitas pelo homem, assume-se que esse homem tem o direito de escolher fazê-las ou não, assim como de escolher de que modo e padrão elas serão feitas. Longe de afirmar se Stuart Mill dá sua razão ou uma opinião, o que mais chama a atenção é o fato de ele colocar o homem no centro desta doutrina de Governo Representativo, quando sabemos que, para além disso, e pensando em Michel Foucault em seu Microfísica do Poder: o poder que é visto a partir da representatividade, e que, em teoria adviu dos homens, nada mais é que a afirmação de uma mão invisível, onde um pólo de poder, tão invisível quanto, acaba por determinar as características de tal governo. Baseado nisso, penso o quanto a questão da liberdade pode estar próxima de referida construção... apenas uma reflexão!

Um comentário:

Walmir disse...

"Por liberdade... posso entender... um desejo de algo que é incompatível com nossa situação gregária."
Aí está, professor, sem suas próprias palavras a síntese: estar em sociedade - ainda que livre e democrática - não significa que o vivente seja livre.
Acredito que será sempre prisioneiro como o velho Agostinho nos disse, pois vive o "presente do passado".
Não é livre porque não pode viver como amebas que vivem o "presente do presente".
Está na condição do vivente ser um eterno prisioneiro buscando condições sociais e abstrações para ser um "detento em condicional".
Se conseguimos isso social e individualmente teremos alcançado nosso nirvana terreno. Pobre nirvana que se realiza na obtenção de um "detento em condicional".
ASSIM estamos<
pAZ E BOM HUMOR