sexta-feira, 14 de dezembro de 2007

Seção - Filosofia de Boteco: Dioniso Sóbrio XII


Aforismos: Interpretação


Me llaman el desaparecido, que cuando llega ya se ha ido. Pois bem, o quê dizer de uma letra de música, quando essa música, por mais que coloquemos algum teor particularizado na mesma, transborda nosso limitado mundinho interpretativo e cai na boca de gentes, com informações as mais heterogêneas? O quê dizer, então, de um poema, uma prosa literária que, quando transbordada de lirismo de nossa pena, saindo deste grilhão, alavanca uma série de novas interpretações, nem sempre tão líricas assim? Ou ainda, o quê dizer de uma película que, ao questionarmos seu diretor sobre sua forte iniciativa política, ele vira para ti e diz: que nada, apenas homenageei uma antiga namorada!? Estranho tantas informações sobre o prisma de uma construção simbólica qualquer, como esta do desaparecimento a lá Manu Chao (cantor franco-espanhol que acaba de lançar seu mais novo álbum - La Radiolina - em São Paulo) e que nos brinda com a seguinte assertiva, ao se referir às várias traduções que suas letras despertam: (...) não me importo com as leituras e interpretações que estão além do que escrevi. Isso é o bonito de fazer música. Saber que as pessoas entendem outras coisas a partir de suas idéias. Ainda mais quando o que está em jogo são os significados decorrentes de cada construção imaginária, donde qualquer obra de arte faz eco. Este eco, por mais que o pensemos como tão-somente nosso, nos esquecemos que qualquer um pode entender o quê quiser de uma certa informação, pois sua vida foi diferente daquela vivida pelo produtor da obra de arte. Como também, suas significações - e construções - de mundo são diferentes, seu universo é distinto e, principalmente, sua tipificação identitária lhe é muito peculiar; e a seu grupo social também. Por mais que uma letra de música, uma película, um poema, ou ainda, uma pintura - esquecida no tempo, e rememorada por algum merchant - pareçam com a cara de seu dono, sua flexibilidade, devido aos vários olhares que por ali debruçaram suas lágrimas, faz com que uma cara de outrora se metamorfoseie numa cara de agora. Este é o segredo da humanidade saudável: saber ler sua vida numa obra de arte que não pertence a seu universo... ao menos, não num primeiro momento.

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