sábado, 28 de junho de 2008

Premissas Retóricas...

Uma História Sobre Deus!




Se a premissa retórica é que dá validade à noção de verdade, tento pegar na genealogia um parâmetro para repensar esta premissa – e de premissa, também Vico entende, e poderá ser-nos mui útil neste ensaio.


Em pleno século XV, quando se tem uma revolução humana, desde Copérnico e sua teoria heliocêntrica, até chegarmos em Pico della Miràndola (1463-1494) – apesar de sua insistência em relacionar este humano criativo com Deus, diferente de Vico que começa a dar uma maior autonomia ao homem; talvez pelo fato de entrar em cena alguns séculos depois – e Giambattista Vico (1668-1744), com a preocupação em reforçar e defender um humanismo mais efetivo, tem-se a construção de um saber bastante distinto de muita coisa escrita anteriormente. Ao menos os prenúncios desta construção (dirão os partidários da teoria do eterno retorno que tudo que é novo, não o é efetivamente, visto que já em Eclesiastes pensa-se nesta sabedoria) já se fazem sentir nos quehaceres do Homem.


O que não podemos nos esquecer, entretanto, é que o Renascimento só foi possível após a descoberta das obras completas de Platão, e outras tantas de Aristóteles – até então desconhecidas do Ocidente –, que tinham migrado para o Oriente. Tendo em Constantinopla um dos principais centros irradiadores desta cultura helenística e, como se verá, veladora. Não é à toa que as obras gregas só sobreviveram ao tempo, devido a leva que ocorreu séculos antes. Quando da efetivação do Cristianismo como única doutrina portadora da verdade. Relegando aos gregos a pecha de paganismo e, em face disso, coisa proibida.


De acordo com Bernadete Siqueira Abrão em A História da Filosofia: Até o Renascimento, o Ocidente praticamente desconhecia Platão. O que se sabia dele vinha mais dos comentários que se faziam a seu respeito do que das poucas obras que haviam chegado à Europa. Mas alguns manuscritos gregos, comprados em Constantinopla, mudaram esse cenário. Entre eles, levados a Florença em meados de 1430, estava nada mais, nada menos do que a obra completa de Platão. O impacto da descoberta foi imediato. Cosme, o Velho (1389-1464), da poderosa família Médici, que então dominava a cidade, encomendou a tradução dos Diálogos a Marsílio Ficino. A ele confiou também a fundação da Academia Florentina, um influente centro de filosofia renascentista. Se, na Idade Média, a escolástica incorporou o aristotelismo ao cristianismo, no Renascimento a oposição a esses “tempos obscuros” fez-se a partir dessa “reabilitação” de Platão.


Como se vê, o Renascimento só existiu por uma traquinagem histórica, pois, sem ela a revolução cultural que se deu no período jamais ganharia corpo. E, principalmente, devido também o incentivo do mecenato e da preocupação com o conhecimento. Coisa que, no Medievo, era quase impossível – pelo menos quanto ao referir do pensamento pagão.


Essa revolução cultural vai se afirmar, bem futuramente, no Iluminismo. Apesar de já pensarmos o Renascimento como um indício de que o homem tem tentado construir seu espaço no discurso dominante de sua época e, principalmente, partindo de suas verdades – mesmo que verdades tendenciosas. Um espaço que ainda é povoado pela força de Deus, e onde não há uma plena ruptura com certos ditames do período medieval.


Uma revolução que se dá na forma de uma ruptura decisiva com o sobrenatural da Teologia e o natural da Antropologia, sem, todavia, desconsiderar esta Teologia como fonte irradiadora de verdades.


Uma vez que podemos encontrar o homem no centro de uma construção discursiva cognoscente, podemos pensar que o salto da Teologia para a Antropologia tem nesse momento um efeito substancial. O qual inaugura, ou mesmo institui, novos parâmetros para se pensar o mundo. Em especial o parâmetro da tolerância, dentro da cabeça destes homens, em seu tempo – ainda que de uma forma mais tímida e, contra esse tempo (um contra que, em certas situações, mais parece uma afirmação).


Apesar de que, já na Grécia tínhamos os prenúncios desta nova forma de pensamento. Noutra direção, em todo o Medievo europeu o mesmo andou um pouco esquecido, o que sugere que o homem, por si só, não se incluía nas considerações eruditas do tempo na Cidade de Deus.


No Renascimento, como se verá, há apenas uma transferência de enfoque, enquanto no Iluminismo a ruptura é algo mais consistente e avassalador. Esta transferência é bem patente quando encontramos vários pensadores, ainda, tentando conciliar o pensamento divino com o mundano.


Pode-se dizer que este sintoma de mudança é muito mais uma ênfase que, propriamente, uma substituição, pois o homem ainda não se vê tão desvinculado de Deus e seu universo maravilhoso, como em um primeiro momento pode parecer. Vê-se, sim, como uma parte deste todo, diferente do Medievo em que o homem, e seu pecado original, era apenas o estorvo da efetivação do paraíso na Terra.


Há apenas a confirmação de um posto que o homem outrora não possuía; que seria assumir um cargo de liderança com relação ao seu destino de recriador da matéria e do mundo – jamais como um criador de fato, visto que este cargo já pertencia a Deus – e, como tal, propenso à consecução de um quinhão a mais.


Apenas no Iluminismo tem-se a tentativa de efetivar a morte de Deus. Morte que será confirmada apenas no final do século XIX e prenúncios do século XX, com o filósofo alemão Friedrich Wilhelm Nietzsche (1844-1900) e sua filosofia do martelo (http://www.ucm.es/info/especulo/numero19/martelo.html).

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