sexta-feira, 20 de junho de 2008

Irmãs Siamesas!




A filosofia, pensada a partir de uma efetivação vital do conhecimento, e tendo como base de projeto o seu pensar profundo, pode e deve ser muito bem encarada a partir de parâmetros totalmente outros, donde a história da filosofia ceda lugar ao filosofar sobre vida.

Muitos puristas do conhecimento virão isso como uma blasfêmia – o que não significa que teremos que deixar de falar sobre estas coisas, tão vitais ao nosso saber – o que, de certa forma, concordo com eles, embora minha concordância esteja muito mais vinculada a um estado posterior, ou seja, tem que se aprender a pensar – todos já sabem pensar, mas só demos conta disso a partir do momento em que nos sentimos assombrados por algum evento da natureza. Apenas quando não compreendemos certo evento natural (e nós também fazemos parte deste natural, aliás, dessa natureza), é que nos damos conta do quanto nosso saber pode dar saltos, e nossos pensamentos possam se elevar – para, posteriormente, saber lidar com obras tão fundamentais às nossas mais instigantes perguntas.

E a Tradição filosófica, ou mesmo a História da Filosofia, é basicamente isso: existe uma grandiosidade de saberes que poderiam nos ser próprios, desde que entremos em contato com estas obras.

Partindo deste posicionamento – e isso é algo totalmente político – é que gostaria de instrumentalizar o ser humano a partir de seu saber, sua sabedoria e seu conhecimento. Fazendo com que este ser que, por natureza, é um ser que pensa, e que aspira ao saber – dirá Aristóteles em sua Metafísica, bem no primeiro parágrafo – possa ter ciência dessa sua tão nobre valia, para com as possibilidades de se viver de forma gregária, sempre respeitando o outro, e ao saber do outro.

Pensar o ser humano como um ser que é integrado à natureza e a ela interdependente, é pensar este homem como produtor de conhecimento, e que faça dessa produção um meio de intervir em suas proximidades mais sociais e geográficas.

Como forma de ilustrar estas considerações, recorro-me a Nietzsche, talvez o filósofo que mais pensou a filosofia como instrumento de se afirmar a vida e, é claro, também suas vicissitudes: "O pensamento não é um meio de “conhecer”, mas de designar os fatos, de ordená-los, de fazê-los manuseáveis: isto é o que pensamos hoje acerca do pensamento; amanhã talvez pensemos diferente. De onde provém o sentimento de verdade? Em primeiro lugar: não tememos discrepar de nós mesmos; em segundo lugar: aumenta nosso sentimento de força, também contra nós mesmos."

E a força que aqui Nietzsche faz menção seria justamente a força da vida e, além disso, pensar esta força da vida, junto com o conhecimento, de fato, uma afirmação da vida em abundância. E apenas somos abundantes em nossa vida a partir do momento em que a colocamos em efetiva existência; e por efetiva existência devemos entendê-la como plena de significados, realizações e em constante reflexão sobre todos os eventos que dela compartilhamos, ou seja, devemos pensá-la dentro de nossos mais íntimos pensamentos e, o que é mais importante, pensamentos que gerem frutos: nem que estes frutos seja uma outro pensamento, um outro saber.

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