sexta-feira, 27 de junho de 2008

Sectos de XVI...




A imagem que se tem de Cristo é a mesma do Novo Testamento: um homem humilde, que não teme, inclusive, por-se ao lado de leprosos para, segundo as Escrituras, mostrar um pouquinho deste amor incondicional ao outro. Visão essa que tornara-se marcante para a continuação de sua igreja e que, apenas posteriormente – já no Medievo – se contradiz, criando um império que, num primeiro momento, criticara.

Crestus, o Messias dos essênios, pelo qual parece terem optado os judeus para a criação do cristianismo, daria origem ao nome de Cristo, cristão e cristianismo. Cabendo a Paulo a disseminação dessa que, para o mundo de então, surgira como a maior das superstições – coisa fácil de acontecer, pois, uma maioria arrebatadora da população do período era totalmente analfabeta, baseando-se na oralidade para se fazerem existir.


Os essênios haviam se estabelecido numa instituição comunal – bem aos moldes do que pregava o Cristo e, principalmente, bem aos moldes do que desenvolvera Paulo –, em que os bens pessoais eram repartidos igualmente para todos, e as necessidades de cada um tornavam-se responsabilidade de todos. As primeiras comunidades cristãs, por coincidência, faziam deste ritual também o seu. Ou seja, tudo aquilo que o populacho queria foi o que de Paulo se originara. Ambiente mais que propício para a disseminação dessa crença. Acresce-se a isso toda a indumentária discursiva que, sabemos, é bastante fantástica e envolvente.


Tal ideal de vida conquistaria, como realmente aconteceu, o escravo, a plebe, enfim, a gente humilde. Daí, a expansão do cristianismo que, nada tendo de concreto, positivo e provável, assumiu as proporções de que todos temos conhecimento. São momentos históricos que tão-somente corroboram com o processo genealógico da Doutrina, cabendo ao discurso apenas a afirmação e efetivação da nova religião, que já nasce querendo ser Universal. Não tendo ficado restrita à classe inculta e pobre, como seria de se pensar, começou a ganhar adeptos entre os aristocratas e bem nascidos. E isso fica bem patente nos vários escribas que se incumbiram de pensar e escrever sobre, que, deram o sopro que faltava para a consecução da Doutrina.


E esta força discursiva, de religião universal, advinda da Doutrina, ganha ainda mais força quando de informações que confirmam que os judeus – gérmen do cristianismo –, ao receberem a visita de Javé para a confecção da Tábua das Leis já, em estado germinal, tendem ao monoteísmo e, para isso, desafia as outras religiões, afirmando que não são verdadeiras. Em especial, quando de seu advento definitivo, a Doutrina Cristã sectariza ainda mais este discurso, com o intento de se sobrepor a toda e qualquer crença que reinava naquele período.


Isso fica bem claro na Encíclica do papa Bento XVI, primeira de seu trono, e que se intitula Deus Caritas Est, em seu nono parágrafo: Antes de mais nada, temos a nova imagem de Deus. Nas culturas que circundam o mundo da Bíblia, a imagem de deus e dos deuses permanece, tudo somado, pouco clara e em si mesma contraditória. No itinerário da fé bíblica, ao invés, vai-se tornando cada vez mais claro e unívoco aquilo que a oração fundamental de Israel, o Shema, resume nestas palavras: "Escuta, ó Israel! O Senhor, nosso Deus, é o único Senhor!" (Dt 6, 4). Existe um único Deus, que é o Criador do céu e da terra, e por isso é também o Deus de todos os homens. Dois fatos se singularizam neste esclarecimento: que verdadeiramente todos os outros deuses não são Deus e que toda a realidade onde vivemos se deve a Deus, é criada por Ele. Certamente a idéia de uma criação existe também alhures, mas só aqui aparece perfeitamente claro que não é um deus qualquer, mas o único Deus verdadeiro, Ele mesmo, é o autor de toda a realidade; esta provém da força da sua Palavra criadora.


Nada como submeter as outras crenças tornando-as confusas e contraditórias, o que afirma ainda mais a assertiva de que o Cristianismo – especialmente o Catolicismo – surge como sendo a única religião verdadeira e correta.


O que chama mais a atenção é que, dois milênios depois, a Igreja continua pregando sua empáfia e seu sectarismo, o que fica bem claro nesta Encíclica de Bento XVI.

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