domingo, 22 de junho de 2008

No Início era o Verbo... é o Verbo!



Um começo é sempre um ponto de referência de algo que pode não acabar. Há o começo, tudo tem começo, até o infinito, mas podemos falar num fim... num encerramento? Um começo que discorre sobre algum motivo, e pensando numa razão – às vezes oculta, outras bastante claras –, uma razão que não convém aparentar um fim, mesmo porque, toda construção discursiva é uma construção literária, e é nossa razão (como também, nalguns casos, a paixão e o nonsense) o arquiteto desta obra. Além do mais, acresce-se a isso a força que a noção de sagrado – pois, é do sagrado que falaremos – exerce sobre estas construções (afinal, o que é sagrado mesmo?, e um fim, há?). Já dizia a Bíblia: No início era o Verbo...

E por sagrado também podemos nos referir à experiência religiosa e sua relação com a religiosidade dos homens, este sentimento tão íntimo e persuasivo, que beira à loucura, em alguns casos.

Paul Bloom dirá, noutra direção, que: tendemos a ser religiosos como efeito de nosso desenvolvimento mental e cognitivo. Um desenvolvimento que não veio do indivíduo, mas, principalmente, da espécie.

Tudo leva a crer que a religiosidade se desenvolve à medida que nos inteiramos com o mundo, relacionando-nos com seus vários elementos. Tendo no mesmo um objeto fantástico, e que mostra uma série de questões que não podemos entender, mas que insistimos em falar – e escrever – sobre.

Um caminho que também pode vir de forma contrária: diz-se que o homem, de antemão, já tem em seu ser apetrechos que o conectam com esta realidade cognitiva, dando-lhe vida e feições. E por esta realidade existir, vemos que a religião institucionalizada incorpora tal necessidade e devolve ao homem o produto pronto, finalizado e intencionado (todavia, sem um fim muito claro... para onde iremos mesmo?).

Com efeito, a religiosidade dos homens, bem como sua natureza, mostra que os caminhos traçados podem interferir nesta visão de mundo, porém, sempre com premissas religiosas em primeira instância. Isso apenas reforça a certeza de que a religiosidade passa a ser explicada não por seu uso ou finalidade, mas como efeito de uma constituição psíquica, diferente da religião que institucionaliza este anseio e lhe dá uma finalidade pós-morte.

Por outro lado, em Adélia Prado – poetiza do quotidiano – há uma clareza em conceituar experiência religiosa com experiência poética, visto que, uma e a outra, de forma metafísica, podem nos conduzir a esse estado de êxtase.

Ainda de acordo com Adélia Prado: a poesia aponta para o mesmo lugar que aponta para onde a fé quer levar; são experiências de natureza comum. É o lugar do inefável e do não-lugar. É o lugar do objeto em si, com sua relação com o divino e o sagrado. Poesia e religiosidade vêm do sagrado e a ele retornam como uma náusea (bem ao espírito sartreano).

Elege-se, com isso, temas relacionados às angústias da alma humana, discussões existencialistas, inquietações, desejos, medos – um trauma original.

Ademais, o sentido da vida, a dificuldade de se expressar, a forma de viver das pessoas, sua inconseqüência sem, entretanto, reflexões mais profundas, enfim, tudo isso acaba dando à obra humana um caráter bastante confidencial. E é deste caráter confidencial que o sagrado se expressa em toda sua virilidade, dando ao homem várias razões que sua razão desconhece, e que o conduzem a um local também desconhecido.

Esses temas são trespassados tanto pela poesia quanto pela prosa, seja nos romances, contos ou crônicas, como também na escrita sagrada da vida.

Há uma constante auto-crítica intelectual agindo nas obras humanas. Esta auto-crítica intelectual é o exemplo mais concreto da condição humana e toda sua metafísica construção.

Um comentário:

Walmir disse...

Pois é isso, mano blogueiro, como disse o velho Rosa "Deus é curvo." Repetiu Einstein "o espaço é curvo".
João Rosa deu divindades à ciência.
Outra dele: "Fé é o que abre no habitual da gente uma invenção", vai no mesmo sentido. Estão lá em Tutaméia do qual lancei hoje uns provérbios do seu evangelho no post.
E completo: "Mas o mundo não é remexer de Deus?" Quer dizer, em poesia a ciência se transfigura. Ou o contrário.
Paz e bom humor, sempre.
Walmir
http://walmir.carvalho.zip.net