domingo, 25 de novembro de 2007

Seção: Filosofia de Boteco - Dioniso Sóbrio X

Aforismos: Sobre Deus e Tempo (mais Homens)

Diz-se que de Deus e Tempo não se pode falar. Que a cronologia poderia muito bem ser uma criação humana para se igualar a Deus, e que o Tempo, na mesma medida, uma humanidade eterna. Daí pensar que o novo possa vir de cá ou de lá... do lado de cá do Hades - terra de Homens - e do lado de lá do Hades - terra de Deuses -, apesar do que, por novo, apenas a criação em terra de Homens, que leva aos Deuses. Ainda assim, vários teólogos, ao discutirem sobre os mistérios destes dois mundos, trazem para a cena o lado humano, apromorfizado para se tornar lado deificado; e para isso o teólogo A. Torres Queiruga também nos dá uma resposta (tentando, talvez, responder coisas do lado de lá do Hades): tendo em conta o enriquecimento do conhecimento do real trazido pela ciência, [a Teologia] reelabora a partir de si mesma e na sua lógica específica os seus próprios conceitos, e cria um Tempo em que os Homens possam falar de Deuses sem a possível prerrogativa de não se esquecer deste lado de cá. Pensa-se com cabeça de ciência para se falar com idéias de teologia. O Tempo que deste remarque surge é um tempo em que os homens, falando de lá, acabam por se eternizarem de cá. E isso pode ser acompanhado junto às palavras do filósofo Luc Ferry: Como todos os crentes, tenho, sem dúvida, o sentimento de que há um mistério neste mundo. Mas não desejo ir além desta constatação. Por constatação humana e temporal há que se pensar, de forma deificada, que os mistérios ainda persistirão, e que os homens também estarão por aí, pensando sobre o Tempo. Sintomático para nos dar a justa medida de como os homens precisam ser homens, no meio de deuses. Outra possível resposta a este mistério vem do filósofo M. Conche que acaba de escrever que Deus é inútil, pois a própria Natureza cria seres que podem ter idéias de todas as coisas, inclusive da própria Natureza, e essa Natureza só pode existir como espaço temporal do homem junto à humanidade falível, que se esvai, embora possa se eternizar no Tempo. Não se trata, porém, da natureza oposta ao espírito ou à história ou à cultura ou à liberdade, mas da Natureza omni-englobante, a physis grega, que inclui o Homem nela. Essa é a Causa dos seres pensantes no seu efeito. Estes são os homens, se vestindo aos moldes do Olimpo. Outro filósofo português, de nome Anselmo Borges - também padre e teólogo - dirá, por outro lado, como o mais convicto dos crentes: Ao crente monoteísta parece mais razoável uma interpretação da realidade que co-implica a presença do Deus transcendente, amor pessoal e criador. Afirma-se desse modo a infinita transcendência de Deus e a sua mais íntima presença à criatura, tornando-se então claro o que parece paradoxal: precisamente porque Deus está sempre presente como criador, faz o mundo fazer-se autonomamente, seguindo as leis próprias da natureza e a liberdade. Pode ser que o Homem também pense na Natureza que o faz eterno, pensando do lado de lá, aplicando deste lado de cá. Deus faz o mundo aparecer de forma autônoma, seguindo as leis próprias da natureza e a liberdade, daí implica que Deus dá ao Homem (ou será que é o Homem que assim o quer?) condições de, junto ao Tempo, manter-se eterno... que Tempo?

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