segunda-feira, 26 de novembro de 2007

Por e Sobre Literatura...


A literatura quando escrita a partir de escritores tais como Dostoievski, Tolstoi, Milan Kundera, Balzac (isso só para se falar de alguns, entre tantos), dentre outros, tende a apresentar um certo enunciado do que poderia ser a história da condição humana, ou mesmo do psicológico de um tempo. Dessa forma, mais que literatura, seu espólio é uma caracterização de vida e pensamento.

A própria noção de Tempo, a partir da literatura, tende a ganhar significação e grandeza, quando de escritos bem emendados.

A sociedade humana, que em tal Tempo tece suas relações sociais, dá-nos a dica de tipos e feições que poderiam ser apreendidos, ou ainda congelados, em referido Tempo. Revelando um painel que, por mais que pretendesse ser apenas literário, é também histórico-psicológico..., diria mais, humano(!).

Cria-se, aliás, arrebenta-se um limite que não se mantém encarquilhado em páginas amarelecidas, de escritos rotos. Cada escrito conceitua uma verdade, e determina certa feição de Tempo. Um embrião iniciado no tumulto do século XIX, e que geraria, com propriedade, a moderna sociologia. São tipos e grupos que se degladiam entre si, tentando determinar - às vezes impôr - seu cadinho de verdade e de existência.

É como se uma existência se fizesse em si mesma, tentando se auto-afirmar e criando, para si, sua própria condição de ser existente, isto é; seu próprio Tempo se auto-devorando, para assim passar a ser o espírito do Tempo.

O disfarce à imprensa, permitido pela literatura, é um disfarce que mascara, aliás, que veste bem a vida. É uma imprensa às avessas, que usa da imprensa para roubar-lhes pingos de existência. Dirá, muito bem Balzac, em sua Monografia da Imprensa Parisiense: O jornal é o jornal e o político é o seu profeta, emendando Balzac; o jornal é o jornal, senhor característico e factual do Tempo, e a literatura é o seu profeta, adulador, subversivo e revolucionário disfarce. Continuando Balzac: Ora, os profetas são profetas muito mais por aquilo que eles disseram. Não há nada mais infalível do que um profeta mudo.

O constante falsear, às vezes o calar, característico da literatura, é que garante a concreção existencial de um Tempo: O verdadeiro panfleto é obra do mais alto talento, se todavia não for o grito do gênio, ou mesmo o silêncio do louco.

Qual profeta não quer ver suas profecias tornadas verdade? Duvido que exista algum que não queira. Pois seu Tempo se constrói por meio de seus escritos e devaneios. O abrir-se para o mundo, seja no grito colérico, seja no silêncio lapidar, é o mesmo mecanismo que dá à verdade o que ela tem de mais seu, e de mais convicto: o Tempo, e a sublimação de uma verdade neste Mesmo.

Por outro lado, a literatura da imprensa, com sua técnica do disfarce permitido, tem o grande problema do papel. Enquanto no mundo virtual dos bytes, essa literatura se sublima - e ao mesmo tempo se torna fugaz e minúscula, devido a infinitude de referido espaço virtual -, nas páginas de jornal - apesar de ser um Tempo apreendido, factual e real - ela se substancializa, embora, dentro do espaço que lhe é seu quinhão permitido. Dirá Balzac mais uma vez: As coisas mais interessantes, os grandes e pequenos artigos, tudo se torna uma questão de paginação entre meia-noite e uma hora da manhã, a hora fatal dos jornais, hora na qual as notícias aparecidas no início da noite exigem destaque. O que contemporiza a verdade, repito, é o Tempo. O que torna esse Tempo concreto é a escrita das folhas de jornal. O que faz das escritas o que são, é de novo o Tempo: seja a falta dele, seja esse(s) espaço(s) que o mesmo incorpora. Infelizmente, corroborando Balzac, a crítica se tornou uma espécie de alfândega para as idéias, dando à literatura o papel de representante consular destas idéias e ao Tempo o juíz que imputa a sentença. Felizmente, existem obras imortais, não dando à mínima para o Tempo... e esse é também papel da Literatura: traço concreto de pinceladas vigorosas de um imenso mural da sociedade, centro captor da unidade da condição humana... apesar de tantas motivações (sejam elas quais forem)! Cada um bica de acordo com sua fome...

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