quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Leveza da Literatura e Dureza da Arte...


A qualidade de alguma obra de arte está intimamente ligada à qualidade estética de quem a observa, o que significa dizer que, não necessariamente, os críticos têm validação absoluta sobre suas críticas. Da mesma forma podemos constatar que isso acaba acontecendo com a filosofia e com sua íntima relação com o conhecimento. Nossa relação com as coisas que valoramos é que determina quem é como é a construção de nosso saber.

Uma teoria revolucionária pode não o ser, se quem assim determinou não dá garantias de sua validação inteletual ou valorativa, visto que os valores que determinam a passagem do tempo podem não se garantirem, ou mesmo, podem estar ali para garantir a alguém, a algum saber, seja que pessoa ou mente for essa.

A segurança de que um conhecimento é válido está nas mãos e na formação de quem assim formulou; seja o conhecimento, seja a crítica sobre. A veracidade de nossos sentimentos, nesse sentido, pode ser um bom sintoma de valoração, ou mesmo de validação de certo saber, por isso, o julgamento que fazemos sobre um outro julgamento é tão importante e necessário.

Vejamos como Nietzsche chegou a esta constatação em Humano, Demasiado Humano: (...) não devemos estar muito seguros de nossa crença na qualidade de qualquer artista que seja; ela não é apenas a crença na veracidade de nosso sentimento, mas também na infalibilidade de nosso julgamento, quando julgamento ou sentimento, ou mesmo ambos, podem ser de natureza demasiado grosseira ou delicada, extremados ou crus. Mesmo os benefícios e bênçãos de uma filosofia, de uma religião, nada provam quanto à sua verdade: assim como a felicidade que um louco desfruta com sua idéia fixa nada prova quanto à racionalidade da idéia. (§ 161)

A prova de que uma religião, filosofia e/ou conhecimento precisa é o julgamento que colocamos sobre o julgamento de quem assinou sobre aquela teoria. A crítica em suspensão, e sua constante situação de suspeita, seria o melhor instrumento para constatarmos falsos profetas, ou descobrir o quão são falsos certos filósofos, inteletuais e/ou artistas.

O bom intelectual deveria ter a leveza da literatura e a dureza da arte – ou como diria Milan Kundera (em livro que se refere, e que tem em seu título, a citação a seguir), referindo-se à Nietzsche: a insustentável leveza do ser e a constatação de seus valores de ser.

Por isso, sua estética, ou mesmo seu ponto de vista sobre algo, faz parte de toda uma construção filosófica que perpassa (ou perpassou) suas escolhas, seus valores e sua formação identitária. Até o mesmo o ambiente em que este saber foi construído deve ser colocado sob suspeita e julgamento.

Somente assim, talvez teríamos uma crítica mais conveniente com a realidade plástica do objeto estudado, aliás, do objeto avaliado. Uma crítica que pode ser menos ou mais velada, menos ou mais dura, já que a idéia não é agradar ao outro, mas à real construção e valoração do saber.

Nenhum comentário: