terça-feira, 16 de novembro de 2010

Leis "Naturais"


Quando falamos em lei natural, de forma automática, algo nos remete à natureza e suas leis infalíveis, ou mesmo ao homem e sua legalidade infalível; principalmente no que diz respeito à moralidade ora reinante e aos elementos sociais que constituíram, e ainda constituem, tudo isso. Nossos sentimentos, nossa noção de espaço, e também nossa naturalidade no que se refere aos dogmas da natureza humana, tudo isso, sempre nos faz remeter a algo inatual e perene... resta saber se a questão levantada é a mesma que os dogmas defendem, ou condenam.

A necessidade da natureza se torna, pela expressão “legalidade”, mais humana e um último refúgio do devaneio mitológico. (Humano, Demasiado Humano, II: § 9) Nossa humanidade, mais uma vez, se sobrepõe à naturalidade inerente às leis da natureza, ou ao menos, aquilo que assim constituímos, e até determinamos... não nós, mas todo o elementar peso do tempo e a poeira jogada sobre os mais variados – e insistentes – saberes e valores, principalmente aqueles que não dizem nada a respeito de nossa real – e valiosa – natureza humana.

A constituição do que é natural acaba sendo uma constante, e premente, repetição daquilo que temos de mais humano, e de mais errôneo e autoritário... nossa inegável capacidade (e também obtusa necessidade) de construir valores universais que devem se referir à toda humanidade; como se estes valores lhes (e a nós) fosse algo inerente e natural.

O ornamento e a enganação, nesse sentido, caem a nós como uma lei eterna, dogmática e extremamente autoritária, criando elementos cada mais vez mais problemáticos e universalistas; elementos que colocam em nossa natureza humana algo que é totalmente estranho e avesso à ela. Quem foi, então, que ornamentou este mundo à sua cara e semelhança? Quem que determinou à natureza – e suas leis naturais – essa caricatura de moralidade só de homens?

Um estranho enredo para um mundo cada vez mais universalizante e naturalmente humano.

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