sábado, 21 de abril de 2012

O Lobo da Estepe - Hermann Hesse (Recomendação de Leitura)



Só Para Loucos

O dia passara como normalmente passam os dias: eu o havia desperdiçado, dissipado suavemente, com minha primitiva e arredia maneira de ser; trabalhara algumas horas a compulsar velhos livros e sentira dores durante duas horas seguidas, como os velhos costumam sentir; engolira uns pós e me alegrara porque as dores se haviam deixado enganar; metera-me num banho quente e absorvera o agradável calor; recebera três vezes o correio e correra a vista pelas cartas e os impressos sem importância (...). Agradável, assim como ler os livros antigos [alfarrábios] ou demorar-me no banho quente, mas, afinal de contas, não fora a bem dizer um dia encantador [acho que bebi demais, e esta cerveja não me fez muito bem], nem brilhante, nem feliz, nem plácido, mas tão-somente um desses dias como desde algum tempo [um tempo tênue que não cessa em passar] costumam ser os normais de minha vida: moderadamente agradáveis, totalmente suportáveis, toleráveis, tépidos dias de um velho e descontente senhor, dias sem dores particulares, sem singulares preocupações, sem aflições especiais, sem desesperos, dias em que até mesmo a pergunta, de que se não seria o momento de seguir o exemplo de Albert Stifter e degolar-se com a navalha de barbear, era meditada tranquilamente sem emoção, sem qualquer sentimento de angústia. (Hermann Hesse: O Lobo da Estepe)

Ás vezes é isso, a escrita não-somente agustia, mas dá motivos para que a angústia vire vida. Quando leio Hermann Hesse me sinto assim: angustiado por mais vida.

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