sábado, 28 de abril de 2012

José das Couves... Um Solitário!




__ E então meu senhor, fala seu nome completo e, não se esqueça, aqui não pode haver mentira, isso é um depoimento.
__ Me chamo José das Couves, moro na rua das Taturanas, nº 01, bairro da Concórdia.
__ Conta como aconteceu o ocorrido...
__ Olha seu delegado, não sou muito de sair de casa, recebo poucas visitas, ou seja, sou uma pessoa muito reservada...
__ Tá, e aí, conte o que aconteceu primeiro, depois você fala de si mesmo. Não se esqueça que isso é uma investigação policial.
__ Muito bem, como eu estava dizendo, como sou uma pessoa reservada não sou de receber visitas, ainda mais a esta hora do dia, mas aconteceu.
__ Sim, que mais.
__ Eu tinha acabado de me levantar, já estava no banheiro, escovando meus dentes, e foi aí que a campainha tocou. Não pensei duas vezes, peguei uma toalha, ainda enxugando meu rosto da água fria e fui atender.
__ E depois disso.
__ Abri a porta e não vi nada, aquilo estava estranho, nenhum sinal de ninguém por perto, até achei que fosse trote. Foi quando olhei para o chão... e aí veio o susto.
__ E você conhecia a pessoa que estava ali no chão?
__ Não, pelo contrário, sinto que ele era era até um pouco estranho, parecia estrangeiro.
__ Por que você teve esta impressão...
__ Pela cor da pele dele, nunca vi uma pessoa tão cinza...
__ Não seria porque ele já estava morto?
__ Pois é, acho que é isso mesmo... interessante, eu não tinha percebido!
__ Tudo bem, volte aos fatos.
__ Abaixei meu corpo e toquei sua pele, ainda receoso... vai que o sujeito estava tirando uma com minha cara e deitado ali só para incomodar. Sabe, não sou um vizinho muito sociável, mas bem que gostaria que o sujeito fosse uma visita.
__ Sim... mas, se atenha aos fatos.
__ Foi aí que percebi que o caboclo estava frio. Aquilo foi estranho, nem estamos no inverno nada, e este sujeito gelado desse tipo...
__ Meu amigo, cadáveres são gelados, não sabia?
__ Ih é mesmo, estamos falando de um defunto. Agora que me toquei...
__ Tudo bem, termina logo seu depoimento que você já tá exagerando e tem mais gente para ser ouvido.
__ Certo, a partir daqui o senhor já sabe, né. Liguei para cá e falei com uma mocinha de voz macia. Gostei disso, sabe, não converso com muitas pessoas...
__ Tudo bem, já chega... o próximo!
__ Mas, seu delegado, ainda não acabei...
__ Acabou sim, próximo!!
__ Mas...
__ Sem mas, sai daqui senão o prendo por obstrução da justiça.
__ E a mocinha do telefone, posso falar com ela?
__ Alfredo, prende este sujeito. Tá obstruindo o serviço da polícia... sujeitinho abusado.
__ Sim senhor, delegado Feitosa!
__ Mas, espera aí eu sou a testemunha, não o culpado...
__ Sai daqui logo, antes que te dê uns tapas... libera este sujeito Alfredo, manda este elemento para... vai embora daqui, antes que eu fale alguma besteira e ainda serei processado por abuso de autoridade!
__ Que sujeitinho estranho heim doutor?
__ Realmente, é muito estranho. É como se o sujeito tivesse se utilizado do fato para ter alguém com quem conversar, não parece ser uma pessoa nem um pouco sociável esse talzinho aí. Daí as divagações constantes dele... isso é falta de gente na vida dele, Alfredo.
__ Tem razão, doutor, e agora, como faremos?
__ Vamos ver se tem mais alguma testemunha, que esse aí... sem chance.

Nenhum comentário: