quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Linguagem: um Possível Problema Cultural...


Parte III


No fundo da questão, o grande problema para Nietzsche seria a superação da metafísica, daí a preocupação em compreender qual é o motivo da linguagem, e de certa linguagem, ademais, aquilo que sai da construção cultural humana, por sí só, é problema insolúvel. Superando a metafísica, compreendemos melhor a linguagem, visto que ela poderia, muito bem, estar envolvida com a linguagem. Resta desvendar, contudo, o grau deste envolvimento, e se ele realmente existe.


Para tal, ao darmos um passo para trás, muito ainda poderíamos compreender, e assimilar, para a concretização deste projeto de ultrapassar toda a metafísica, e oferecer ao homem novos elementos de existência.


Ao buscar pelo espírito livre, mais que qualquer outra coisa, Nietzsche está travando uma briga feroz com a metafísica (e com quaisquer tipos de ignorância intelectual de seu tempo), donde até a linguagem servirá de instrumental: ora pelo lado da afirmação da metafísica, ora pelo lado da afirmação da vida (queiramos entender que metafísica e vida se contrapõem, assim melhor entenderíamos as palavras do filósofo). Nesta batalha de opostos, talvez o resultado final não tenha tanto valor; por outro lado, o processo que se desenrola deste (e por este) combate, aí sim, um grande recurso para que o homem consiga se livrar do forte grilhão metafísico.


Vejamos, pois, como isso poderia ser feito: "Então se faz necessário, porém, um movimento para trás: em tais representações ele tem de compreender a justificação histórica e igualmente a psicológica, tem de reconhecer como se originou delas o maior avanço da humanidade, e como sem este movimento para trás nos privaríamos do melhor que a humanidade produziu até hoje. - No tocante à metafísica filosófica, vejo cada vez mais homens que alcançaram o alvo negativo (de que toda metafísica positiva é um erro), mas ainda poucos que se movem alguns degraus para trás; pois deveríamos olhar a partir do último degrau da escada, mas não querer ficar sobre ele." (Humano Demasiado Humano: §20)


Como construção histórica que é, também a linguagem faz parte desta metafísica filosófica que nos circunda, por isso, este movimento para trás, tal como a escavação do arqueólogo, daria uma pequena medida do quanto, tanto na degenerescência, quanto na ascenção, o homem deixou muito de si, e da civilização, para trás, em suas andanças pela história e no confabular do pó por aí fixado.


O quanto, ainda, a força do tempo pesou sobre as suas decisões, levando-o, sempre de lado em lado. O fato de termos tirado-lhe o esteio (do tempo), dando-lhe a consciência, também contribuíra para os passos dados, e a direção tomada. História tem muito disso, mas tem muito mais do outro e, na maioria das vezes, é este outro que criara nossa consciência. Daí o papel justificativo, tanto da história quanto da psicologia. Ambos saberes serviram-lhe de chão.


Todavia, o que mais incomoda é o papel que a linguagem exerceu em tais motivações e escolhas. A humanidade, por seu caráter humano, sempre atuou como uma pressão sobre seus pares. Seja dando-lhes esteio, seja tirando-lhes solo, uma vez que, alguns esteios, ao invés de firmarem tais construções, as firmam para... jamais em si.


O olhar retrospecto pode servir de grande base para o projeto do espírito livre. O que se deseja, advindo deste olhar, é a integralidade do que se está mirando. O ponto chave, nesse sentido, é a forma como este olhar se dá, e não necessariamente para o lugar que o mesmo se volta.


Nietzsche dirá, numa pergunta, que "a humanidade gosta de afastar da mente as questões acerca da origem e dos primórdios", por isso "não é preciso estar quase desnumanizado, para sentir dentro de si tendência contrária?" (Humano Demasiado Humano: §1). E ao mesmo tempo em que faz essa pergunta, lança uma vontade afirmativa no ar. É como se ele quisesse demonstrar o quão certos sentimentos ainda poderão ser mais fidedignos de suas indagações. O próprio sentimento de humanidade: tão mais forte que os outros, e que nos identifica, como também, o que nos descaracteriza.


3 comentários:

Walmir disse...

Mano, tomei conhecimento de umas pesquisas que se fazem sobre cognicao. Nelas se aporta que a propria ideia de eu tao cara a Nietzche, eh coisa rala. Que quando o vivente inicia um discurso, milesimo de fracao de segundo antes, as historias/estorias aas quais ele foi exposto direta ou indiretamente, tomam a frente. Daih que eh nao eh mais o narrador que conta sua historia/estoria, mas a historia/estoria que conta o narrador.
Jah viu alguma coisa sobre isso? Pode que nao deh em nada, mas eh instigante, eh ou nao eh?
Aih, desse modo, sobramos.
Paz e bom humor, sempre.
Walmir
http;//walmir.carvalho.zip.net

Walmir disse...

Mano, tomei conhecimento de umas pesquisas que se fazem sobre cognicao. Nelas se aporta que a propria ideia de "eu" tao cara a Nietzche, eh coisa rala. Que quando o vivente inicia um discurso, milesimo de fracao de segundo antes, as historias/estorias aas quais ele foi exposto direta ou indiretamente, tomam a frente. Daih que eh nao eh mais o narrador que conta sua historia/estoria, mas a historia/estoria que conta o narrador.
Jah viu alguma coisa sobre isso? Pode que nao deh em nada, mas eh instigante, eh ou nao eh?
Aih, desse modo, sobramos.
E penso em Paulinho da Viola quando poetisa: "nao sou eu quem me navega, quem me navega eh o mar".
Paz e bom humor, sempre.
Walmir
http;//walmir.carvalho.zip.net

Walmir disse...

desculpas, mano blogueiro, que meu pc ainda estah com manias estrangeiras. nao cedilha nem acentua nada.