quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Falando de Eu-Consciência


Má-Consciência...


E por “eu”, mais que quaisquer outras informações, temos em mente a noção de consciência, no entanto, do ponto de vista da cognoscência essa tal de consciência tem muito mais lacunas que as letras de sua palavra. Daí a compreensão de que esta consciência (ou má consciência, referindo-se a filósofos como Giacóia e Nietzsche) é nomeada por Giacóia Jr.em um curso proferido no Rio de Janeiro, pelo Núcleo Philemon (http://www.rubedo.psc.br/artigosb/cursnite.htm), mencionando Nietzsche, como autoconsciência, ou mesmo o “Conhece-te a ti mesmo”, como poderá ser visto nos dois aforismas a seguir: “O problema do ter-consciência (mais corretamente: do tomar-consciência-de-si) só se apresenta a nós quando começamos a conceber em que medida poderíamos passar sem ela: e é nesse começo do conceber que nos coloca a fisiologia e a zoologia (as quais, portanto, precisaram de dois séculos para alcançar a premonição de Leibniz, que voava na sua dianteira). Poderíamos, com efeito, pensar, sentir, querer, recordar-nos, poderíamos igualmente "agir" em todo sentido da palavra: e, a despeito disso, não seria preciso que tudo isso nos "entrasse na consciência" (como se diz em imagem). A vida inteira seria possível sem que, por assim dizer, se visse no espelho: como, de fato, ainda agora, entre nós, a parte preponderante dessa vida se desenrola sem esse espelhamento – e aliás também nossa vida de pensamento, sentimento, vontade, por mais ofensivo que isso possa soar a um filósofo mais velho. Para que em geral consciência, se no principal ela é supérflua?” (Gaia Ciência: §354).

A grande questão que Nietzsche coloca aqui tem a ver, justamente devido esta contaminação que já atingira a consciência, com a constituição do que o Ocidente chamou de Ego (a partir de Freud), ou de Eu-Consciencial. Em sua filologia – gênese sintática –, consciência nos é apresentada como origem ou unidade originária, que sintetiza ou unifica o pensamento; e esse é o problema: nossa origem cultural seria o cristianismo, e já todo seu estilo de vida e de valores.

E ainda: “Já devem ter adivinhado o que certamente se produziu com tudo isso e debaixo de tudo isso. Essa vontade de se atormentar a si mesmo, essa crueldade do homem-animal interiorizado, caçado em si mesmo a golpes de pavor, encarcerado no “Estado” para ser domado, que teve de inventar a má consciência para se prejudicar depois que a saída mais natural desse querer-fazer-mal se encontrou obstruída – esse homem de má consciência se apoderou do pressuposto religioso para levar o martírio que se inflige até a dureza e o rigor mais espantosos. Uma falta contra Deus: dessa idéia faz um instrumento de tortura. Em “Deus” empunha as antíteses últimas que é capaz de encontrar com relação a seus instintos animais próprios e impossíveis de resgatar, interpreta esses próprios instintos animais como falta contra Deus (como hostilidade, rebelião, insurreição contra o “Senhor”, contra o “pai”, contra o ancestral primeiro e contra o começo do mundo): inflige-se o esquartejamento da contradição “Deus” e “diabo” projeta para fora dele todo Não que dirige a si mesmo, à natureza, à factualidade, sob forma de Sim, de coisa que é, encarnada, real, de Deus santo, de Deus juiz, de Deus algoz, do além, de eternidade, de martírio sem fim, de inferno, de incomensurabilidade do castigo e da falta.” (Genealogia da Moral: II; §22).

E é devido nossa origem cultural e identitária que o ir contra nos coloca em apuros, principalmente quando vamos contra toda uma construção cultural, identitária e histórica – isso, sem nos esquecermos do parâmetro psicológico da cognição humana. Ao mesmo tempo, que o não ir contra dá-nos uma angústia de prisão.


Nesse sentido, fazemos de conta que somos livres, em detrimento da crença no “comum” e no social-comunitário, como nos assevera Giacóia Jr. (http://www.rubedo.psc.br/artigosb/cursnite.htm), ainda dentro de seu comentário sobre a Gaia Ciência, no seguinte trecho: “Nietzsche no fundo quer dizer o seguinte: se você observa a fisiologia e a zoologia verá que o problema da consciência é, na verdade, um problema simplesmente superficial. Ou seja, que aquilo que define o essencial do sujeito não é, como pretendia a tradição filosófica, a sua capacidade de tomar-consciência-de-si, mas a consciência precisamente é um fenômeno secundário. O problema do ter-consciência, é precisamente aquilo que se constitui como problema. Ou seja, por que é que nós tomamos consciência de nós mesmos, em que medida isto é importante, tanto mais quanto nós podemos perfeitamente bem passar sem isso. Então, a fisiologia e a zoologia aqui, na verdade, simplesmente comprovam aquilo que Leibniz já tinha dito. Ou seja, que a consciência não é o essencial do sujeito, da subjetividade; mas a consciência é, na verdade, uma ínfima porção da subjetividade. Você pode ter vida, tanto animal quanto humana, sem que necessariamente o fenômeno da consciência-de-si tenha que se apresentar”. O problema então, é você, ou o que você traz sobre suas costas? Grande pergunta que não tenho resposta!

E este comunitário – e também identitário – nada mais é que, grosso modo, nivelar por baixo. Preso estaríamos se estivéssemos indo contra este statu quo da razão, que começara em Aristóteles e nos colocara em Hegel, repetindo o ciclo, e fechando o círculo. Quanto mais consciência tomamos, neste contexto, mais alienados nos tornaríamos; e mais sem-consciência do eu-primordial teremos..., ou será qua ainda há a possibilidade de compreendermos coisa tal antiga e tão cheia de pó?


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