domingo, 19 de agosto de 2007

Sombra de Árvore Centenária, no Deserto, Repleta de Fantasmas


Que me importa se o que passou a mim, me ofereceu uma segunda, ou mesmo uma primeira natureza? Que me importa se as sombras de um oásis pode deixar transparecer visões fantasmagóricas? E ainda, que me importa se minha impotência perante o passado faz de mim um obelisco, ou uma sombra petrificada, assombrada por fantasmas (que não são meus)?

Tudo isso não me importa, todavia, é tudo isso que faz com que eu sinta um ressentimento tremendo. Ressentimento por não poder mudar a natureza que ficou-nos incutida pelo passado...., não seria o caso de usar um martelo, ou uma dinamite?

Não dá, não tem como bater de frente com rio tão caudaloso. Resta-nos apenas tentar afastar o pó que o tempo da História nos concebeu..... uma dádiva talvez.... não seria o passado um ser tão medonho, ao modo de Cronos, que sente prazer em devorar seus filhos? Imagino que sim. Sua mesquinharia refinada, seus proventos de outrora..... antecessores que nos enganam...., todos estes fantasmas nos perseguem. Sim, temos à frente uma erva danina, um ser fantasmagoral que ainda enche nossa cultura de emplastos e enganações. E, querendo ou não, somos resultados disso. É como dirá Nietzsche, em sua Segunda Intempestiva, esta sobre a História..... aliás, a História entremeada de vida.... uma vida "que foi"!

Posto que somos o resultado de gerações anteriores, somos, ademais, o resultado de suas aberrações, paixões e erros, e também, sim!, de seus delitos. Não é possível livrar-nos por completo desta cadeia de erros. Podemos até condenar tais aberrações, e assim acreditamo-nos livres delas, porém isso não muda o fato de que somos seus heredeiros diretos. [Somos a segunda natureza de uma natureza que, pode até nem ter existido.] Poderia seduzir-nos a tentativa de darnos, a priori, um passado do que gostaríamos de ter procedido, em contraposição àquele de que, realmente, procedera. Uma tentativa sempre perigosa, porque é difícil encontrar um limite, na negação do passado. Caso não o aceitemos, ainda assim ele nos perseguirá, dizendo o quão herdeiros somos de seus erros.

Uma tentativa, talvez, de compensar um passado de erros. Penso que é por isso que ainda continuamos acompanhando este erro, sempre endeusando-o "Ser da Verdade!". Um eterno negar à vida seu real teor, sua real existência. Desde o momento em que a vida passou a ser consequência da história, deixamos de nos manter existentes..... vegetamos! Se a vida fosse a referência da História, um outro momento, um outro passado, um outro presente e, quiçá, um outro futuro teríamos em mãos. Resta-nos, agora, nessa orfandade do viver, res-sentir (tornar-nos coisa) pelo que passou, e pelo que somos.

Herdeiros dessa campa pobre, é o que somos. Como numa locomotiva, o maquinista deixou de conduzir-nos, vamos ao sabor da máquina. O caminho já foi traçado..., será que ainda dá para recuperar o espaço perdido? Pois o tempo perdido, este, infelizmente, não volta mais.

Esperemos, pois, e ainda com palavras de Nietzsche, que a História poderá ver seu significado, ressignificando-se, não em idéias generalistas, mas que seja flor e fruto, e que seu valor consista precisamente em glosar, de um modo inteligente, um tema conhecido, e reconhecido, onde, a partir disso, possamos fazer uma melodia para o dia-a-dia, alçando-a até patamares outrora desconhecidos, como ousam pássaros audazes, ao atravessarem terríveis recifes, em pleno alto-mar. Temos que elevá-la a um traço simbólico que seja universal, mas que esteja, ao mesmo tempo, inebriada de vida, e que seja vida em abundância. Para disso extrairmos, de nós mesmos e da História, um tema original que nos faça sentir a Vida em História, tornando-nos senhores de nosso destino, bem como de nosso passado.

Que a aniquilação seja a referência maior do homem que podemos ser. Daí a tentativa do martelo, destruindo velhos ídolos... Que nossa esperança não se limite em morrer naciturna. Que ela possa dar-nos o impulso histórico - e neste momento me refiro à Liebe (Vida) - para destruir os fantasmas que nos assombram, em plena árvore centenária, ponto de aconchego, no oásis do deserto. A História não pode nos debilitar, mas sim dar-nos ainda mais força para lutarmos contra essa história, passada, que tanto ressentimos.... essa vida "que foi"!

Precisamos ouvir da história o seguinte lampejo: Seja homem, e não me siga!

Caminhemos com o martelo às costas, sem seguir a história, e sim, vivendo a História!

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