terça-feira, 28 de agosto de 2007

Seção: Filosofia de Boteco - Clio Ébria II



Aforismos: Juventude


O que está por trás do conceito juventude? A pergunta é pertinente porque está relacionada a um conceito mais abrangente: o de geração. Aquela velha idéia de que somos mais parecidos com o nosso tempo do que com os nossos pais. Estou de acordo, em parte. E explico-me: há alguns problemas para a utilização do conceito juventude. 1º: como definir a geração?, qualquer definição, pode cair no subjetivismo, cito um exemplo, o da geração anos 80 que é considerada uma geração perdida. Mas por quê? 2º: geralmente a definição de uma geração está restrita à periodização de uma década, exemplo, década 60, 70, 80 e, assim, por diante... nada mais fácil e falso que isso. 3º e maior problema: é o de esquecer que em cada época ou geração não existe apenas uma juventude, mas várias... Não houve apenas uma juventude dos anos 80, por exemplo, o Rock Nacional não foi o único interlocutor da época, nem todos na faixa etária dos 30 anos foram ao Madame Satã, jogaram Genius, assistiram ao Bozo, Balão Mágico ou Xuxa, etc.

Vê uma época pela lente de conceitos como geração e juventude pode nos levar a uma tremenda miopia. Nos anos 80 uma geração de crianças nem teve chance de chegar à juventude, para, quem sabe, ouvir Legião Urbana ou se acotovelar em um show dos Menudos; morreram antes ou passaram imediatamente para a vida adulta em um trabalho qualquer. Esta visão geracional massifica o social, apaga as diferenças de acesso à cultura e acaba por trazer à tona a visão elitista de uma época. Isto é o sintoma de um culturalismo universalista, decorrente de um gosto pessoal do autor (seja ele jornalista, filósofo ou historiador), que acaba se generalizando no processo de pesquisa, quase que inconscientemente. O resultado é um monte de biografias de péssima qualidade, relatos de época abaixo da crítica, monografias insossas, memórias altamente pessoais se passando pelo gosto universal de um época, livros que cultuam as personagens como se fossem santos, sem nenhum senso crítico e admiração indisfarçável. Este texto é um canto fúnebre em homenagem a vários livros meus que se enquadram neste perfil. ACABO DE VENDÊ-LOS NO SEBO, JÁ POSSO ATÉ VER MELHOR!

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