domingo, 30 de outubro de 2011

Sobre a Escola da Ponte



O modelo de monodocência, onde o professor determina o que é melhor para o aluno, isto é, o que ele deveria aprender, de um ponto de vista macro, pensado como uma lógica burocrática e corporativa de mera adição (em que o aluno apenas recebe “líquido” e o professor apenas deposita), confrontação ou justaposição de papéis educacionais (ALVES, 2004: p. 115) é o ponto de crítica para o programa da Escola da Ponte, modelo educacional existente há alguns anos em Portugal – Escola da Ponte nº 1, situada em Vila das Aves, na Vila Nova de Famalicão, terra do escritor Camilo Castelo Branco –, e este foi o exemplo utilizado por Rubem Alves para tentar justificar o título de seu livro e um novo modelo educacional.

Ao desejar uma escola que fuja dos padrões da escola tradicional, Rubem Alves se inspira no modelo adotado nesta localidade de Portugal – Vila Nova de Famalicão –, ponto de referência para o título de seu livro de crônicas: A Escola Com Que Sempre Sonhei Sem Imaginar Que Pudesse Existir, (2004).

Modelo que se baseia no pensar a educação como uma aventura coletiva de partilha em que saberes, expectativas e experiências dão valor e sentido à vida.

Local em que a criança, com o bailar de seu corpo, define o que quer aprender. Um aprender que estaria intimamente ligado à vida. Um espaço em que se vive o que se aprende e se aprende o que se vive.

Na escola tradicional o docente é pensado como uma ilha autônoma dentro de um arquipélago, onde cada um tenta construir sua própria identidade (quando se consegue tal feito), ou mesmo a identidade do que ele concebe como sendo o correto da educação. Assim, definir monodocência é como tentar encontrar, numa ilha, um coletivo de papel.

A Escola da Ponte, por outro lado, é uma escola que se referenda nos seguintes valores: Uma equipa coesa e solidária e uma intencionalidade educativa claramente reconhecida e assumida por todos (alunos, pais, profissionais de educação e demais agentes educativos) são os principais ingredientes de um projecto capaz de sustentar uma acção educativa coerente e eficaz [sic], informações que fazem parte dos princípios fundadores da Instituição. A Escola da Ponte pode ser vista como uma escola em que a hierarquia não se apresenta de uma forma direta, um local onde o projeto pedagógico do professor não é só dele, mas um constructo coletivo.

Talvez essa hierarquia se mostre apenas em lastros educativos, local em que as crianças mais velhas ensinam as mais novas (os miúdos). Jamais em lastros organizativos, visto que a educação, quando coletiva, traz para mais perto das pessoas sua real importância, por isso, essa hierarquia organiza, não comanda e nem impõe.

Uma escola que tem como intencionalidade educativa a formação de pessoas e cidadãos cada vez mais cultos, autónomos, responsáveis e solidários [sic], em que a construção do conhecimento acontece de forma coletiva, com a ajuda de todos aqueles que se interessem pelo projeto.

A escola que Rubem Alves almeja deve ser uma escola que não se traduza em algo mecânico e compartimentado ou em disciplinas curriculares inarticuladas de conteúdos ou objetivos avulsos. Quer-se com isso dar autonomia ao aluno, para que ele comece a escrever a própria vida, visto que ela é única e irrepetível.

Daí a importância em repensar a escola que, para Alves, deveria ser como a da Ponte: uma práxis de educação na cidadania, pois, é da prática do civismo que resultaria a aprendizagem na consciência da cidadania.

Em se pensar que nossas escolas não conseguem mais colocar consciência nas crianças, e estão longes de, junto a isso, imprimir-lhes cidadania, é um projeto muito interessante, e como consta no livro, com alguns relatos de educadores e pais, é um método que realmente funciona. Educar na cidadania não é o mesmo que educar para a cidadania; ao menos não nos moldes das escolas brasileiras.

Hoje a escola parece muito mais um depósito de criança, em que o que vale não é mais o saber em si, mas manter as crianças ocupadas por um tempo, para que os pais possam ficar livres delas e, ao mesmo tempo, garantir alguns trocados no final do mês. Quer-se crer, infelizmente isso faz parte do ponto de vista de uma grande quantidade de pais, que a escola serve tão-somente para dar Bolsa Família, não mais para educar na cidadania.

Educadores como Rubem Alves acreditam que a aprendizagem e o ensino sejam um empreendimento comunitário, uma expressão de solidariedade das pessoas para com o mundo. E mais que aprender saberes, as crianças deveriam aprender valores – como nos faz acreditar que isso acontece em Vila Nova de Famalicão –, se não por completo, ao menos em grande parte de sua vida estudantil; em sua vida de aprendente. Na Escola da Ponte a ética perpassa silenciosamente, sem explicações, o quotidiano das crianças e suas relações naquelas salas imensas.

sábado, 29 de outubro de 2011

Pensamentos Soltos VIII



Por Kant

Eu diria que Kant pega e empirismo e o racionalismo e os coloca lado a lado, no entanto, sem se bastarem por si só. Entra neste ponto a crítica da razão pura, visto que, ao pensar o objeto como algo que depende das sensações advindas da sensibilidade espaço/tempo, ele está traçando um novo elemento. E esta crítica se direciona a ambos elementos, por um lado a experiência que pode nos enganar, e por outro o racionalismo que precisa ser pensado a partir de uma premissa, evitando a confusão entre fenômeno e coisa em si. Um elemento mais crítico àquilo que outrora se praticava em filosofia. Pensar a razão por si só não bastaria, visto que nossas sensações poderiam deturpar esta produção do saber, aliás, não as nossas sensações, mas aquelas advindas da relação espaço tempo. E aqui eu poderia usar as seguintes palavras para justificar esta tese: "Para Kant, o exercício puro da razão, isto é, sem a experiência, não possibilita o conhecimento, por isso, a crítica. Não haveria conhecimento nesse caso, pois, segundo Kant, a experiência traz o material que as formas a priori do entendimento irão organizar." E este material advindo do mundo e introduzido na mente, por meio da razão, precisa ser aprofundado, por isso a crítica, evitando que as informações que nos cheguem sejam apenas fenômeno, já que a coisa em si é difícil de ser assimilada, isto é, difícil de ser mensurada. E ainda mais informações a respeito: "Por outro lado, também critica o Empirismo que coloca toda a cognição a partir dos sentidos. Kant concorda que o conhecimento inicia-se pela experiência, porém, para ele, esses dados recebidos são organizados por formas existentes a priori em nossa razão, a saber, as formas da sensibilidade do espaço e do tempo." O grande problema que os sentidos demonstram, novamente, têm a ver com o fenômeno que nos chega como conhecimento a ser recebido, aliás, como conhecimento a ser captado. Resta à razão pura buscar no a priori o elemento que traduza este fenômeno e o transforme em saber palatável. Enfim, empirismo e racionalismo não são descartados, mas aprofundados e melhorados, pois a razão pura terá condição de fazer com que estes elementos, a partir da crítica, se transformem em saber... se transformem em conhecimento de mundo.

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Pensamentos Soltos VII




Santa Escolástica

Foi a Escolástica que reafirmou a importância da filosofia, ainda que fortemente ligada à teologia. É dela também a sistematização dos saberes filosóficos num momento em que a filosofia grega andava dispersa por grande parte do Ocidente e do Oriente, sem que isso se tornasse uma consolidação de saberes. Além do mais a Escolástica deixava bem claro que tentaria se utilizar da filosofia para se justificar Deus, ou seja, provar sua existência com um pensamento mais sistematizado e mais regular. Razão e fé, nesse sentido, não são caminhos opostos, mas caminhos que nos levam a Deus, como no fragmento a seguir: "(...) pensadores como G. de Ockham e R. Bacon vão além, propondo que o mundo de Deus e o mundo dos homens são diferentes e que possuem, assim, métodos distintos de cognição. Estabelecem, desse modo, uma reabilitação dos sentidos e da razão humana como ferramentas de conhecimento do real." E é esta busca por Deus que lançará as primeiras sementes da pesquisa e da produção do conhecimento: conceitos racionais e sensíveis, pensados tal como são, também surgem deste questionamentos. E como são questionamentos que, de uma certa forma, reafirmam a existência de Deus a partir do pensamento dos gregos clássicos, serão amplamente utilizados pela Igreja Católica durante o Medievo. São também estes conhecimentos que serviram de base para a criação das primeiras Universidades, o que, vindo da Igreja é uma grande inovação, ou mesmo um tiro no pé, visto que se incentivará as pessoas a pensarem por si só, mesmo que uma muleta seja de elemento primordial desta caminhada.

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Pensamento Soltos VI



Seres Incompletos!


Eu diria que, a partir do momento em que o homem separa a política, ou mesmo o poder instituído da política (que é o poder político) com sua vida e de suas conquistas (na qualidade de ser em sociedade) – principalmente as conquistas culturais, como a principal de todas que é ter o acesso a esta indumentária política –, acaba sendo um ser incompleto. Visto que, nossa formação depende da constituição cultural constituída (e institucionalizada) pelo poder político.



Por isso, devido a atual estrutura que vivemos, principalmente no Brasil, o coletivo acaba sendo um problema, embora seja ele que nos garante a referência do que não se deve fazer. Pensando de uma forma dialética, se o ser humano se mostra incompleto fora do coletivo, pois ele precisa do coletivo para se afirmar. Dentro desse coletivo, por outro lado, ele também não exerce sua completude, uma vez que tal situação seria sintoma de adequação. E se há a adequação sem questionamento é como se estivéssemos nos tornando ovelhas, ou como diria Nietzsche... nos tornando rebanho.

Paraíso Perdido!



Diante dos desastres da política e dos crimes contra os povos, a natureza e as pessoas, produzidos pela racionalidade política e social da Modernidade, que se tornaram explícitos no Segundo Pós-Guerra, e em se pensando num contraponto a outro momento da História, como o Feudalismo, tido como Idade das Trevas, o conhecimento durante muito tempo foi produzido sem muito alarde e, como tal, sem muita afetação ao mundo (pensando do ponto de vista das pessoas) mas, ao mesmo tempo, afetando a correlação de forças de um tempo. 

Eu diria que sua produção cognoscente foi muito mais para iluminados e, como tal, com maior possibilidade de preservação, que para gentios, ou para o senso comum; muito voltado para a destruição ou deturpação do conhecimento. Pensando dessa forma eu diria que a Idade Média se firmou como um movimento cultural de resgate e preservação do conhecimento clássico, principalmente quando de seu relacionamento com os mouros e as constantes incursões que faziam na Europa com o intento de conquistar povos, invadir terras e disseminar crenças. Assim, e pensando-a como lugar de liberdade, vida comunitária e harmonia do homem consigo mesmo e com a natureza foi-nos de grande importância e valia para os quehaceres do mundo ocidental vindo depois e o conhecimento do Renascimento.

Esta visão idílica era em grande parte teórica, ou seja, menos fundamentada nos documentos do que gostaríamos, mas ao mesmo tempo, mais próxima de uma liberdade distinta da nossa. Esta liberdade era limitada, dada a alguns iluminados, significando que sua preservação fosse levada mais a sério; não é à toa que os copistas medievais foram as mais importantes mãos ocidentais de todo o pensamento renascentista, visto que eles preservaram e passaram adiante (com cópias) os saberes até então produzidos pela humanidade. Situação essa que decorria da consideração do contraste entre o Mundo Moderno – marcado pela imprensa e pelo progressivo aperfeiçoamento dos meios de comunicação, até o estabelecimento de uma cultura de massa –, e a Idade Média, imaginada incapaz de um sistema de comunicação eficiente.

Assim, as distâncias entre a cultura letrada e a iletrada criavam aí dois blocos culturais em conflito, mas eram postas como algo a se pensar e a se digladiar, dando-nos como constructo, como resultado, novos saberes; alguns até mais aprimorados que o já escrito antes disso. Um, representado pelo rigor da moral cristã, e, o outro, pelos valores que lhe escapavam, tendo em vista a incapacidade do sistema comunicativo das elites de realizar um verdadeiro disciplinamento ideológico das maiorias.

Esta lacuna criaria possibilidades de liberdade impensáveis na Modernidade. Os rigores da moral cristã ficariam guardados para a Modernidade, que passava, assim, a ser interpretada como época de expansão dos mecanismos de opressão e disciplinamento. O corpo, o espaço público (da festa, do culto, da política) e o sujeito teriam sido, então, vítimas de uma ação eficaz do Estado, no sentido de ampliar seus poderes e controlar a pessoa, tanto nos domínios objetivos quanto subjetivos de sua existência.

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Pensamentos Soltos V




Como Rousseau?

A filosofia rousseauniana traz um elemento de fundamental importância para entendermos a eficácia de exploração do saber e como o mesmo nos traz uma melhor condição de lidarmos com os quehaceres da sociedade capitalista e de seus produtores de saber. Sob a égide de um pequeno grupo acabamos nos tornando cada vez mais reféns de algo não pertinente a nós, visto que, este pequeno grupo, dita elite política e intelectual (apesar dos Tiriricas de Brasília), sempre faz para si mesmo e jamais para a consecução de algo coletivo... como deveriam fazer. Infelizmente, quando o poder político fragmenta a cultura, ou de certa forma cria "culturas inferiores", fragmenta também nossa identidade, enquanto seres produtores de conhecimento também. Um país onde a maioria absoluta da população não tem acesso à cultura de uma forma geral (e aqui estou me referindo da cultura produzida pela elite intelectual do país) e como um todo, nem querem ter, imagino que seja a concepção política que separa estes segmentos sociais, nos colocando longe da produção universal como um todo, mas principalmente, somos nós mesmos que buscamos nos distanciar de algo mais profundo. Penso que seja possível trabalhar esta ideia de modo crítico, ou seja, refletindo os tipos de cultura de massa produzidos pelos meios sociais (principalmente aqueles vinculados à comunicação social e à mídia em geral), meios que mais massificam do que possibilitam uma consciência mais crítica. É necessário averiguarmos o interesse político de quem está produzindo o quê, tentando entendermos quem está conduzindo tal processo. Não dá para dissociar política de cultura, pois a cultura enquanto formação do indivíduo é fruto de uma decisão de poder, afetando diretamente nossa vida, mesmo quando não queremos. Na medida em que pensamos a cultura como processo de conhecimento, aliás, de produção de conhecimento, e como resultado de conjunto das relações humanas consigo mesmo, a decisão seria reavaliar estes conceitos. Cultura para quê e para quem, ou ainda, como podemos produzir algo que nos faça mais dignos e identitários que já somos? O que há de mais cruel ainda é que todos os progressos da espécie humana acaba nos distanciando de nosso ser primevo. E quanto mais acumulamos conhecimento, ainda mais nos afastamos de nós mesmos e nos direcionamos ao mundo e, de forma automática, também do outro.

terça-feira, 11 de outubro de 2011

O Pior Ataque do Mundo!



Maurinho, lateral-direito que se destacou no Bragantino, foi chamado pelo treinador dantão, o mesmo de hoje, Vanderlei Luxemburgo. E numa partida do Olaria contra o rubro-negro, no dia 1 de abril de 2000, o atleta foi “homenageado” pela torcida. Após gritarem “Ão, ão, ão, Maurinho é seleção”, os torcedores completavam com “Il, il, il, Primeiro de abril”. "Homenagem" similar surgiu anos mais tarde, com o grito "Obina, melhor do que o Eto'o". Ironia fina da torcida.


O bom humor carioca criou outros cânticos interessantes. Em 1995, o Flamengo formou o que boa parte da imprensa do Rio e de outros cantos considerava o “melhor ataque do mundo”, com Sávio, Romário e Edmundo. A combinação redundou em fracasso e foi a torcida do Vasco que, após um empate em zero a zero com o Flamengo, criou a paródia de um jingle de comercial de companhia aérea. Pior ataque do mundo, pior ataque do mundo/ Para um pouquinho, descansa um pouquinho, Sávio, Romário, Edmundo.”

Em 2008, novamente a torcida do Flamengo fez das suas. Logo depois de ganhar a Taça Guanabara em cima do rival Botafogo, os torcedores, na peleja diante do Cienciano, cantou para provocar os rivais, que reclamaram da arbitragem. “E ninguém cala esse chororô! Chora o presidente, chora o time inteiro, chora o torcedor!”. Digamos que, nesse caso, a reação botafoguense à perda do título justificou o sarro rubro-negro...

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Algumas Observações Sobre a Filosofia no Ensino Médio.





Não é fácil apontar todos os fatores que alimentaram e potencializaram a relação entre o pensamento mítico e o filosófico, na Grécia Antiga. A escrita, por exemplo, ajudou a sistematizar o conhecimento e o discurso político, além de favorecer o desenvolvimento de uma linguagem filosófica-científica. O comércio foi outro agente dinamizador da necessidade de se criar uma linguagem com características universais. Desenvolvida prioritariamente na península Balcânica, a mais oriental da Europa, a civilização grega desenvolveu-se pelas inúmeras ilhas da região, o que deu origem às chamadas cidades-estados (polis). Com o desenvolvimento econômico de cada polis, surge também a necessidade de troca entre cada uma delas, o que será realizado com as navegações marítimas. Desse processo nasce uma necessidade maior do uso de uma linguagem comum e geral entre os povos que navegam em nome do comércio.


Por volta dos séculos VI e V a. C., muitos pesquisadores do conhecimento e das ciências naturais pegam “carona” com os comerciantes gregos e passam a conhecer diferentes culturas. O desafio agora é incorporar conhecimentos de outras culturas e traduzi-los a uma linguagem que, em tese, possa ser compreendida por qualquer homem, de qualquer cultura. Surge, assim, a necessidade de se produzir um pensamento universal. 


Diferentemente do mito, que é narrativo, a Filosofia começa a dar prioridade ao pensamento argumentativo. No caso, o mais importante é a concatenação lógica das ideias, as quais devem seguir uma relação causal necessária.

No caso de Ulisses e da construção do Cavalo de Troia, vemos um claro exemplo do domínio do universo mítico sendo, aos poucos, ruído pela racionalidade humana. Quer dizer, no interior do universo narrativo da Odisseia, o grande poeta Homero planta a contradição entre o racional e o mítico, entre o plausível e o fantástico, entre o possível e o impossível. Os homens não podem simplesmente “transmutar” ou flutuar pelas muralhas de Troia; isso cabe apenas aos deuses. Como o mundo dos homens e de seus interesses econômicos está cada vez mais presente entre as preocupações do homem grego, Ulisses torna-se um dos arautos intelectuais das novas realidades materiais e sociais do mundo grego. Para o soldado grego existia uma realidade concreta a ser superada, os muros de Troia; para os comerciantes gregos também foram as limitações concretas que impulsionaram o desenvolvimento da tecnologia marítima para romper as barreiras dos mares.

No plano das ideias, as contradições entre pensamento racional e pensamento mítico traduzem-se numa nova conceitualização da verdade. O mito, como fenômeno regional, traz a verdade de cada cultura para si mesma, pela passagem de uma geração a outra. Portanto, o que a tradição deixa de herança traduz sempre a realidade vigente. O pensamento filosófico, por outro lado, pretende se desprender da tradição por meio do uso instrumental da razão. Ora, para o comerciante e os filósofos-cientistas (pré-socráticos), ficar preso às tradições significa ficar preso às autoridades religiosas dos sacerdotes e, portanto, de cada religião predominante em sua respectiva cidade-estado.

Aqui podemos fazer um paralelo entre a relação do homem moderno e do homem grego com o pensamento mítico, mas não sem dizermos que o homem da modernidade europeia tem uma herança da cultura do pensamento racional que o homem grego não tem. Quer dizer, interesses sociais, materiais e econômicos existiram nos dois momentos históricos, mas cada um na sua devida proporção e contexto.

O homem moderno detém novos meios de conhecimento, a cartografia moderna, por exemplo, e meios tecnológicos mais eficazes do que o homem grego.

Com o uso de novos mapas, novos navios e de uma religião unificada, o cristianismo, o homem moderno europeu potencializa sua expansão marítima e a difusão do seu modo de pensar. Aqui devemos ressaltar para o nosso aluno que os interesses imperialistas do homem moderno ficam muito mais evidentes do que os interesses dos comerciantes e cientistas gregos, posto que temos muito mais referências bibliográficas sobre a expansão marítima da Europa Moderna do que da Grécia Antiga.

Além de o homem moderno europeu ter seus próprios mitos, como os mitos advindos de interpretações cristãs acerca da criação do mundo, do homem e do universo, ele se depara também, ao promover as expansões marítimas, com os mitos dos chamados povos primitivos. Aliás, mais do que isso, nesse contato com os povos primitivos novos mitos são criados. Dois deles são os mitos do “bom selvagem e do mau civilizado” e o mito do “mau selvagem e do bom civilizado”. No primeiro caso, alguns europeus cultos, que estavam descrentes de sua cultura, exaltavam o primitivo e sua maneira de viver. No segundo caso, o civilizado europeu desacreditava a cultura do primitivo, alegando que seus hábitos sexuais eram imorais, que seus hábitos alimentares eram bárbaros e que sua religião era perversa, devido a alguns relatos de canibalismo. Posteriormente, parte dessas interpretações equivocadas foi sanada pela etnografia; contudo, de maneira geral, a segunda interpretação teve mais força e ajudou a legitimar a dominação europeia sobre os povos primitivos.

A primeira coisa que o homem europeu moderno faz ao ocupar o continente americano, por exemplo, é comparar os costumes dos povos nativos com os costumes europeus. Essa comparação, como não é difícil de se imaginar, caminha, em sua grande maioria, para a depreciação da cultura do “outro”, o que leva, inevitavelmente, ao etnocentrismo. Os povos primitivos são descritos sempre como “os sem escrita”, “sem Estado”, “sem comércio”, “sem história”.

Everardo Rocha em O Que é Etnocentrismo, nos deixa a seguinte informação sobre o Etnocentrismo: “Etnocentrismo é uma visão do mundo onde nosso próprio grupo é tomado como centro de tudo e todos os outros são pensados e sentidos através dos nossos valores, nossos modelos, nossas definições do que é existência. No plano intelectual, pode ser visto como a dificuldade de pensarmos a diferença; no plano afetivo, como sentimentos de estranheza, medo, hostilidade etc. Perguntar sobre o que é etnocentrismo é, pois, indagar sobre um fenômeno onde se misturam tanto elementos intelectuais e racionais quanto elementos emocionais e afetivos. No etnocentrismo, esses dois planos do espírito humano – sentimento e pensamento – vão juntos compondo um fenômeno não apenas fortemente arraigado na história das sociedades como também facilmente encontrável no dia a dia.”

A homofobia é o traço mais duro e terrível do etnocentrismo, é no outro diferente que mostramos o quanto o monstro somos nós. É como se não tivéssemos condições intelectuais de entender uma "cultura" que seja diferente da nossa. O fato de termos em nossa formação uma cultura extremamente masculinizada e machista, coloca quaisquer outros grupos, que não os compartilhados pelo machismo desta cultura, como sendo inimigos dignos de ódio, estranheza, medo e hostilidade. O ser humano deixa de ser mais importante que as suas escolhas, sejam elas quais forem... desde que agridam o statu quo da sociedade, precisam, também, serem agredidas. É no tratamento em relação ao outro, tratado como monstro, às vezes, como doente que se desenvolvem os preconceitos em relação a sua escolha sexual. 

A primeira coisa que devemos destacar é a característica cosmológica do mito, isto é, o mito relata a origem das coisas, tais como o mundo, o mar, o céu e o próprio homem. Diferentemente do tipo de pensamento lógico-racional, o mito segue um “por que” que diz respeito apenas ao seu universo fantástico, não seguindo necessariamente uma relação causal.

O interessante aqui é demonstrar como questionamentos de caráter lógico não dão conta de acessar a completude do universo mítico.

Outra coisa que se pode ressaltar é o fato de que não é apenas o trabalho braçal que é penoso, desgastante. O trabalho intelectual também cansa, também é penoso, mas também tem suas recompensas. Basta que o professor lembre os alunos do desgaste que eles têm ao realizar uma prova longa e difícil, ou quando devem resolver um exercício de grande complexidade; a satisfação que se tem vem da aquisição do conhecimento, da superação da dificuldade e da beleza da descoberta.

Segundo Gramsci, em Cadernos do Cárcere: “[...] é preferível ‘pensar’ sem disto ter consciência crítica, de uma maneira desagregada e ocasional, isto é, ‘particular’ de uma concepção do mundo ‘imposta’ mecanicamente pelo ambiente exterior, ou seja, por um dos vários grupos sociais nos quais todos estão automaticamente envolvidos desde sua entrada no mundo consciente [...] ou é preferível elaborar a própria concepção do mundo de uma maneira crítica e consciente e, portanto, em ligação com este trabalho próprio do cérebro, escolher a própria esfera de atividade, participar ativamente na produção da história do mundo, ser o guia de si mesmo e não aceitar do exterior, passiva e servilmente, a marca da própria personalidade?

Afinal, filosofar, é, também, não aceitar como verdadeira qualquer ideia sem antes submetê-la à dúvida, à investigação, à reflexão crítica e rigorosa. Ora, isso significa que para demonstrar com consistência a utilidade da Filosofia, ou de qualquer outra coisa, já teríamos de filosofar.

Com base meramente nos resultados, o senso comum legitima tudo aquilo que ganha o rótulo de “científico” como sendo o que de mais seguro se pode ter a serviço da sociedade. Daí, tudo que “não tem comprovação científica” é desacreditado e vai para o limbo com status de subconhecimento.

Quando se determina um tema, ou mesmo se pensa em estudá-lo, subjetivamente já estamos fazendo uma escolha, e isso já quebra a noção de neutralidade da ciência. O ato de refletir, nesse sentido, significa voltar nosso pensamento a nós mesmos, e é neste momento que começamos a desenvolver o pensamento científico-filosófico. Mas, para isso, temos que nos desvestir de nosso próprio preconceito. Temos que fundir nosso saber, ainda prenhe de preconceito e lugar-comum, e começar a refletir sobre nossa posição de produtor de conhecimentos que somos. Precisamos pensar, novamente, no que já foi pensado.

Assim, ao partirmos de nossos saberes próprios, automaticamente, estamos nos despindo da neutralidade científica. Fora isso, a autora também apresenta que as verdades absolutas, tão buscadas pelo homem na história da ciência não se concretizariam, pois, a ciência jamais cria verdades absolutas, por isso mesmo é importante destacar tal informação. Enfim, não há como afirmar que a ciência não consegue fugir da neutralidade, pois isso apenas reforça a noção de cientificismo, e como o exemplo de Mengele, havia uma busca científica tendo como base o preconceito que Hitler tinha com relação aos judeus. Houve avanços com o nazismo, embora este avanço tenha vindo com uma total falta de neutralidade da ciência.

Para Humberto de Oliveira Guido, em A Filosofia no Ensino Médio: “O exercício da filosofia é alcançado com o método filosófico; seja ele dialético, fenomenológico, existencialista, racionalista ou qualquer outro que se inscreva no universo da história da filosofia. Esta é uma grande diferença em relação à visão dogmática de ciência disseminada pelas escolas: o método científico é único e, consequentemente, não há espaço para a pluralidade de paradigmas. Em filosofia não há – ou não deve haver – esse dogmatismo cientificista, pois não há filosofia, mas sim filosofias, uma sucessão de reflexões e argumentações que tomam o ser e o conhecer como objetos da atividade filosófica (...). No currículo tradicional, a ciência é a solução definitiva de um determinado problema. Na filosofia, ao contrário, a finalidade não é – imediatamente – a solução do problema; o que motiva a solução filosófica é o conhecimento do problema. A história da filosofia apresenta esse progresso constante e ininterrupto; uma nova filosofia almeja solucionar o problema que foi herdado da filosofia anterior, e assim deixa o seu legado para a filosofia futura: um novo problema a ser resolvido. Tal situação foi muito bem retratada por Marx em sua afirmação: 'a humanidade só se propõe às tarefas que pode resolver, pois se considera mais atentamente, se chegará à conclusão de que a própria tarefa só aparece onde as condições materiais de sua solução já existem, ou, pelo menos, são captadas no processo do seu devir'.”

domingo, 9 de outubro de 2011

Um Contrato Didático



Confesso que até esse momento eu não tinha essa concepção da importância do contrato didático dentro da sala de aula. Porque aqueles contratos coletivos, de todos os professores, são comuns. Mas um contrato de docente com seus alunos, nunca foi estabelecido.

Como não existe uma sociedade organizada e desenvolvida sem regras, sem leis, imagino que também o ambiente escolar deve tê-las, por reproduzir tal sociedade, deveria ter estas leis, daí a importância do contrato. Quando esses parâmetros de convivência, de comportamento, de direitos e deveres são determinados por todos os envolvidos, a probabilidade de que os objetivos sejam alcançados é muito maior, pois todos sabem até onde podem ir e, principalmente, o que não pode fazer; isso estabelece limites aqui e acolá, por isso mesmo, o contrato didático é uma das ferramentas de trabalho mais importantes que se conhece e, além disso, suporte para mantermos a organização escolar,  tornando o ambiente confortável e democrático a todos.

Quanto ao contrato didático penso que ele sempre existiu no processo educacional e, talvez, ele também exista na relação médico paciente de maneira diferente. Penso que não dá para comparar, mas que são realidade presentes isso é.

O contrato didático está relacionado às obrigações imediatas e mútuas que se estabelecem entre professor e alunos. Isto significa que o contrato tem seu fundamento em aspectos onde cada uma das partes envolvidas nessa relação desempenha o seu papel de forma produtiva e harmoniosa. Existem autores que dizem que “as raízes da noção do contrato didático está associadas ao conceito de Contrato Social, proposto por Jean-Jacques Rousseau (1712-1778)” que defende que o homem, enquanto ser social, tem a necessidade de ser condicionado a um conjunto de regras e compromissos, de modo que a vontade coletiva se legitime como a vontade da maioria, representada pelo contrato social. O método tradicional, nesse sentido, ainda trás bons resultados em determinadas situações/disciplinas, pois, é ele que garante aquilo que o mercado exige.

É com uma combinação de experiências, sejam tradicionais ou não, que conseguimos contribuir para o sucesso na aprendizagem, mesmo quando deixamos de acreditar em certas lendas, criadas pela mesma. Essa questão da disciplina é complexa e o cotidiano do professor (aulas em várias escolas para manter um salário de sobrevivência) acaba estressando a ponto de atrapalhar uma investigação sobre o assunto e possível intervenção. Muitos dos alunos atuais são filhos de ex-alunos que tinham problemas disciplinares e então não acompanham essa questão dos filhos. Talvez uma ênfase maior na questão do contrato que é o tema central desse módulo combinado com outras alternativas cirúrgicas (regras de conduta, regras em sala de aula, maior participação dos pais) ajude o professor nessa árdua tarefa que se lhe apresenta. 

Assim, acredito que o contrato didático seja efetivamente um excelente recurso para apoiar as aulas, e garantir que as mesmas consigam criar algum benefício para o futuro... apesar de não crer mais em milagres, muito menos na recuperação de certos homens. O perigo consiste em deixá-lo abandonado pendurado em algum canto da sala ou engavetado. É um documento legitimo, pois que é produzido coletivamente com as partes envolvidas e por isto mesmo deve ser cumprido e respeitado.

Vou um pouco além do contrato dentro da escola, pois os pais também como os Professores são responsáveis pela educação dos filhos, e não podem deixar suas responsabilidades somente com o professor. A ausência da participação e do acompanhamento dos pais agrava essa situação, pois, muitos alunos são indisciplinados e têm baixa freqüência durante o ano letivo. O nosso grande desafio, enquanto educadores é modificar esse quadro e isso, e o contrato didático é um recurso importante, entre outros, para superar essa realidade. Como cobrar do aluno sua frequência, dedicação e disciplina, se não é assistido pela própria família?

Talvez tenhamos que começar a encontrar formas de incluir família em nossos contratos de modo que assumam compromissos mais consistentes com a escola. E isso não é tarefa fácil, comprovo isso com a reunião de pais que houve nesta semana, no período da manhã temos quase 300 alunos e se tivesse 50 na reunião era muito. O que faremos para superar essa dificuldade, visto que o papel do contrato, se firmado com extrema concordância entre as partes e seguindo as normas estabelecidas, comprometimento e clareza, tem tudo para ser um projeto que poderá ajudar na cura dos grandes problemas?

Projeto pedagógico sem viabilidade prática é “nada” – não existe enquanto potencialidade.

Hoje, pelo contexto social que vivemos as orientações pedagógicas expressas nos documentos oficiais e as contribuições dos teóricos da educação já apontam esse caminho. No entanto, é na prática de “sala de aula” que confirmamos empiricamente essa necessidade. A dificuldade do dia-a-dia da sala de aula, os problemas de convivência (tanto com alunos quanto com colegas professores e equipe gestora) e problemas pessoais vão minando o entusiasmo da proposta original. É preciso ficar muito atento e evitar ao máximo que o projeto se perca. Felizmente, embora tenhamos muito aluno que caiu ali de "pára-quedas", quando o professor disponibiliza tal compromisso até mesmo as cobranças dos alunos passam a ter valor de causa!

O contrato didático deverá ser elaborado de modo que seja o mais adequado para determinada turma, visto que cada uma tem suas características próprias. Colocar algumas regras, acordadas entre todos, valoriza o trabalho do Professor e impõe certos limites para os alunos. Claro que hoje a realidade é outra e necessitamos de mais criatividade, flexibilidade e conhecimentos dos fazeres, assim como o conhecimento da comunidade onde vamos trabalhar, pois isso faz muita diferença na elaboração do plano de trabalho e dos objetivos a serem alcançados. Cada região tem suas particularidades, daí a importância da transparência e da reavaliação do contrato periodicamente. É uma boa ferramenta, desde que seja bem explorada ou utilizada.

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Consumidores Ou Pagadores?

 

Nós vivemos no sistema econômico capitalista, onde predomina a produção alienada, em que o conhecimento poderia ser moeda de troca, desde que utilizado, situação oposta à produção alienada e contraproducente para o capitalismo.
Sendo assim, o consumo tende a ser também alienado, um pente que usamos sem saber o porquê de o mesmo estar passando em nossa cabeça. Por isso, para as empresas venderem mais e mais, criam e estimulam artificialmente as necessidades, principalmente pelas propagandas de rádio e televisão, o que é o contrapelo do pente, visto que, sua utilidade deixa de ser algo essencial – principalmente para quem tem cabelo grande – e passa a ser o supérfluo da troca.
Ao adquirir certos produtos supérfluos, um indivíduo pode se sentir mais seguro, mais importante, na moda, ser aceito pelo seu grupo etc., satisfazendo, na realidade, apenas o desejo de acumulação do capitalista, e não mais o seu desejo, daí o contrapelo advindo do uso do pente desnecessário.
Muitos produtos “caem” de moda tão rapidamente quanto aparecem, e isso é bem marcante nas roupas, eletrodomésticos, músicas, adereços e outros, que é quase impossível acompanhar a moda se não houver uma quantidade razoável de capital disponível. Os produtos similares e de qualidade inferior atendem àqueles que possuem pouco capital, mas que, como todos os outros, querem também compartilhar da moda.
Então, para estar na moda, muitas pessoas até se alimentam mal, descuidam da educação, da saúde e da higiene em função de possuir um produto do momento. Como este produto é ruim, logo ele se deteriora e perde completamente sua função, mas outro produto, de outra moda, já estará sendo colocado no mercado. A maioria das pessoas não consegue refletir sobre esta “roda viva” do consumo, por isso são consumidores alienados.

terça-feira, 4 de outubro de 2011

Pensamentos Soltos IV



Cartesius

O homem tem direito à dúvida, e abusa dela até na hora de transcrever suas teorias, ou no momento em que os pensamentos fluem por aí, correndo soltos.
O homem deixa-se levar pela dúvida, e acaba criando teorias. O cartesiano faz teorias, mas duvida mais que teoriza, assim, para Descartes, ao questionar todos nossos sentimentos e pensamentos, estamos nos utilizando de uma única certeza; que seria a certeza da dúvida, a mesma que nos coloca em constante conflito com a ação. 
Dúvida, esta última aliada cartesiana (que se diz primeira), única suficientemente inquestionável e, como tal, ponto de partida e fundamento da construção do conhecimento, logo, da construção de nossa racionalidade. Entendida por Descartes como fonte de verdade.

Poder e Coesão!


 
Sobre a mera teoria de tornar o conhecimento um instrumento de poder, um exemplo longinquo pode ser Isócrates, que tinha uma habilidade enorme de persuasão, uma retórica muito benquista pelos gregos e pelas necessidades da pólis. Para aquele povo, pode-se dizer que seu conhecimento estava baseado em situações de vida, em experiências de debate na pólis, que para aquele momento e aquela situação, era o conhecimento desejado. Resta saber se este desejo era bem visto por todos, como o é hoje a posse do conhecimento por alguns.
Mas, mais do que isso, a partir do momento que você adquire uma certa teoria, num primeiro instante ela é utilizada para prepará-lo a exercer alguma função. E o conhecimento nos dá estes instrumentos. Levar isso a exercer algum poderio sobre o outro, aí já é outra situação; e é onde começa o problema.
Uma referência bem simples é o capitalismo, que se utiliza de seu poderio para forçar as pessoas a seguir sua prática, ou se faz isso, ou se fica excluído. Resta saber qual situação é mais trágica, o conhecimento como instrumento de poder, ou a falta de conhecimento como instrumento capitalista de exploração e perpetuação.


domingo, 2 de outubro de 2011

Entre o Fazer e o Pensar


 

Aristóteles associa a alma com nossa capacidade de conhecimento, nossa relação com a produção de conhecimento, mais precisamente. Desta forma, a investigação sobre a alma é importante por ser, ao mesmo tempo, investigação sobre a capacidade humana de conhecimento e sobre como o conhecimento intervém no dia-a-dia de nossos afazeres.
Para a Filosofia, e mais precisamente para Aristóteles, alma é aquilo que organiza a vida e, no caso humano, constitui o princípio do pensamento, é aquilo que faz com que todo o ser do homem seja organizado; e que, além de organizado, seja coerente. Uma aproximação menos arriscada seria a de dizer que essa alma dos gregos está mais próxima do que hoje nós chamamos de inteligência; quer dizer, é aquela capacidade humana de resolver problemas por meio da razão, do pensamento abstrato, da memória, da analogia e de todos os atributos mentais que usamos. Nesse caso, podemos dizer que a inteligência se aproxima daquilo que é o principal atributo da alma: o intelecto.
Além dos atributos da alma, sua relação com o fazer humano se encontra, ainda conforme Aristóteles, com o uso da experiência, logo, o uso da experiência pode ser de grande valia para a produção da ciência e do conhecimento, por outro lado, uma experiência sem respaldo teórico é meramente repetição (isso em se falando nos dias de hoje, com a noção um pouco diferente daquela empreendida por Aristóteles), nesse sentido, eu diria que a arte precisa de algo mais profundo, bem como a ciência também, apesar de sabermos também que sem a experiência, tal como apresentada por Aristóteles, não se faz arte nem ciência. Sua profundidade não se traduz apenas em experiência (que pode apresentar também tábula rasa de alguma situação), mas em se utilizar da experiência para ir mais a fundo. 
Desta profundidade podemos dizer que se constrói a ciência e a arte, visto que ambas não são obra do acaso, nem tampouco do mero acerto sem pensar. As consequências do conhecimento estão em sempre colocá-lo à prova, daí o uso do raciocínio junto à experiência; e não somente esta última, desligada do raciocínio. 
Que a repetição da experiência não se traduza em raciocínio profundo, mas em complemento para que o raciocínio profundo apareça. Mais que isso, quando afirma que a experiência deriva da memória, automaticamente, Aristóteles está dando um grau de maior valia à mesma, colocando-a lado a lado com sua noção de alma, ou seja, sua noção de intelecto.

sábado, 1 de outubro de 2011

Pensamentos Soltos III


Será Que Aspiramos Ao Saber Ou Ao Poder...

 
Ora, o lápis pode mudar completamente sua matéria, mas a forma é aquilo que fará com que ele seja considerado lápis independentemente de tais mudanças. Ora, o poder pode ser concebido fora de nós e voltado para nós, depende a competência de quem parteja esta concepçõ. Vejamos o exemplo do lápis retangular de carpinteiro, mesmo com as variações da matéria (corpo), continua-se falando do ser humano, posto que sua forma não muda. Vejamos agora o exemplo dos escritos de outrora que por agora deixa de ser relevante, dependendo do discurso e das ações. Esse exemplo também pode trazer respostas infindáveis. O mais adequado é verificar se não há uma confusão com relação ao objeto, causa material, com a forma. No caso do estudo é um pouco complexo, uma vez que este constitui sempre um processo interminável de aprendizagem; um processo interminável de construção de saberes... sabe-se lá para que motivo. Portanto, o conhecimento está sempre ligado a mudanças, o que não condiz com a causa formal, nem com quem produz este conhecimento. Por isso mesmo, todos os homens, por natureza, tendem ao saber, como também tendem ao poder. Sinal disso é o amor pelas sensações, ou o amor por estar por cima, num discurso competente. De fato, eles amam as sensações por si mesmas, independentemente da sua utilidade e como o lápis pode refletir e exemplificar o quanto o objeto pode nos trazer confusão quando de sua leitura a partir de Aristóteles. Amamos também tomar a água mais limpa, está na parte alta da gangorra, respirar o ar puro dos outros. Assim, penso que o objeto, tal como o conhecimento, pode ser utilizado e justificado por qualquer teoria, dependendo da competência de quem o fizer. Se todo homem aspira ao saber, tudo é objeto de saber, e tudo está no ponto de vista de quem observa.