sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Paraíso Perdido!



Diante dos desastres da política e dos crimes contra os povos, a natureza e as pessoas, produzidos pela racionalidade política e social da Modernidade, que se tornaram explícitos no Segundo Pós-Guerra, e em se pensando num contraponto a outro momento da História, como o Feudalismo, tido como Idade das Trevas, o conhecimento durante muito tempo foi produzido sem muito alarde e, como tal, sem muita afetação ao mundo (pensando do ponto de vista das pessoas) mas, ao mesmo tempo, afetando a correlação de forças de um tempo. 

Eu diria que sua produção cognoscente foi muito mais para iluminados e, como tal, com maior possibilidade de preservação, que para gentios, ou para o senso comum; muito voltado para a destruição ou deturpação do conhecimento. Pensando dessa forma eu diria que a Idade Média se firmou como um movimento cultural de resgate e preservação do conhecimento clássico, principalmente quando de seu relacionamento com os mouros e as constantes incursões que faziam na Europa com o intento de conquistar povos, invadir terras e disseminar crenças. Assim, e pensando-a como lugar de liberdade, vida comunitária e harmonia do homem consigo mesmo e com a natureza foi-nos de grande importância e valia para os quehaceres do mundo ocidental vindo depois e o conhecimento do Renascimento.

Esta visão idílica era em grande parte teórica, ou seja, menos fundamentada nos documentos do que gostaríamos, mas ao mesmo tempo, mais próxima de uma liberdade distinta da nossa. Esta liberdade era limitada, dada a alguns iluminados, significando que sua preservação fosse levada mais a sério; não é à toa que os copistas medievais foram as mais importantes mãos ocidentais de todo o pensamento renascentista, visto que eles preservaram e passaram adiante (com cópias) os saberes até então produzidos pela humanidade. Situação essa que decorria da consideração do contraste entre o Mundo Moderno – marcado pela imprensa e pelo progressivo aperfeiçoamento dos meios de comunicação, até o estabelecimento de uma cultura de massa –, e a Idade Média, imaginada incapaz de um sistema de comunicação eficiente.

Assim, as distâncias entre a cultura letrada e a iletrada criavam aí dois blocos culturais em conflito, mas eram postas como algo a se pensar e a se digladiar, dando-nos como constructo, como resultado, novos saberes; alguns até mais aprimorados que o já escrito antes disso. Um, representado pelo rigor da moral cristã, e, o outro, pelos valores que lhe escapavam, tendo em vista a incapacidade do sistema comunicativo das elites de realizar um verdadeiro disciplinamento ideológico das maiorias.

Esta lacuna criaria possibilidades de liberdade impensáveis na Modernidade. Os rigores da moral cristã ficariam guardados para a Modernidade, que passava, assim, a ser interpretada como época de expansão dos mecanismos de opressão e disciplinamento. O corpo, o espaço público (da festa, do culto, da política) e o sujeito teriam sido, então, vítimas de uma ação eficaz do Estado, no sentido de ampliar seus poderes e controlar a pessoa, tanto nos domínios objetivos quanto subjetivos de sua existência.

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