segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

Reminiscências Íntimas


Esse Negócio de Ser Livre é Complicado...



Sabe de uma coisa, esta confusão que se mostra todos os dias, em nossa vida, e, como tal, sendo também a vida, pode muito bem ser explicada pela confusão e complexidade com que o ser humano, e aqui me refiro à espécie, lida com seus problemas. Não tentam resolver: ou se vão de cara para cima deles, mas recria-os todos os dias e de acordo com o humor daquele dia... o que sei é que, o lidar com estes problemas é que coloca a vida no patamar de coisa confusa e difícil.

Temos uma condição humana que, em primeiro lugar, preza por nós mesmos, e isso é algo meio que inquestionável. Estamos inseridos num sistema psicológico coletivo, que tem muito de relação econômica a determinar saberes e condutas. Quando nos dispomos – e quando falo nós, estou me referindo à sociedade burguesa – a adotar a liberdade e, de quebra, o liberalismo psicológico de nossos desejos e anseios, advindos desta liberdade, de forma automática incorporamos algo que é só nosso e que, além disso, nos faz humanos ocidentais do século XXI. Mas, em contrapartida, nos impede de sermos totalmente livres. A liberdade que se tem é a mesma de um casulo do bicho da seda, prisão que condiciona nossa liberdade e, de forma técnica, nossa mudança de patamar cognoscente. Numa de minhas anotações antigas eu falaria em Casulos da Liberdade. Mas é bem isso mesmo, apenas somos livres quando do controle de nossos desejos – é onde o velho Hegel entrará em discussão e dirá que há liberdade dentro do Estado burguês, e o fato de o seguirmos é que nos dará tal liberdade; seria uma liberdade condicionada e condicionante.

Este nosso desejo de ser livre, de ser algo mais do que realmente somos é que coloca a vida neste patamar de dificuldade e confusão, e que também nos faz dar um salto adiante, como o bicho da seda, ou o casulo da borboleta. Apenas vamos adiante quando de uma requentada na comida e uma re-buscada no que podemos fazer e naquilo que deixamos de fazer por um motivo qualquer. Por natureza queremos o bem, pelo menos deveria ser assim, de outrem, entretanto, quando este outrem interpõe-se em nosso caminho passamos a não querer mais seu bem, mas nosso bem. E quando queremos nosso bem estamos sendo deveras egoístas e, ao mesmo tempo, unânimes e legítimos para com nós mesmos. E esta crença e busca em algo para nós mesmos, é uma sintomática dessa melhoria que anseiamos, até com certo anelo. A pujânça de nossa vida é que determina, ou limita, nossa condição de seres livres que somos. Livres, porém, aferrados ao casulo.

Aquela noção de primeira pessoa, neste contexto, ganha uma força quase sobre-humana. Adotamos um labor que nos quer bem, e o outro acaba não se encaixando, mais, neste querer bem. E isso é o mal desta liberdade e deste liberalismo psicológico que nos moldou lá no final do século XVIII, logo após a publicação da Declaração Universal dos Direitos Humanos e, algumas décadas depois, com o advento da máquina. Este último o vetor econômico e cada vez mais primordial em nossa vida.

Estas angústias que nos acometem em noites frias, em plena madrugada, são, tão-somente, um sintoma deste mal-estar que adotamos como sendo bom – e que no fundo de fato o é – e acaba sendo, também, e no mesmo espaço, ruim. Neste momento o velho Heráclito nos dá uma lição de vida que nem mesmo a caverna de Platão – a anterior nestas inflexões e posterior na linha cronológica da História, este bicho que não nos deixa quietos – conseguiu apagar, apenas adormeceu.

Sim, a contradição que é inerente ao homem, e que surgira quando de suas relações com o mundo, sempre nos perturba. O que fazemos é virar a cara para o outro lado e fazer de conta que não é com a gente.

Aquela dor no peito que, anteriormente, se mostrara como uma busca da serenidade e, ao mesmo tempo, um reconhecimento da alteridade, nada mais é que a confirmação deste estado contraditório e belicoso que nos dispomos a seguir; desde o momento em que nos inserimos nesta loucura que é a coletividade social, e a adotamos como nossa também. O ser coletivo, neste sentido, seria um escravo de um ser que, não sendo ideal, faz uma busca de reconhecimento a este ideal, criando com isso realidades distintas e peculiares, todavia, dentro de uma diversidade constante que é a vida humana e sua psicologia comportamental.

Temos uma condição de ser que, devido também o aparato econômico que seguimos, nos deixa meio tontos. Ao mesmo tempo em que temos certeza de que aquilo que falamos e fizemos parece ser algo definitivo, no minuto seguinte se mostra tão obscuro e superficial quanto realmente o somos.

A verdade é que, de fato, não há uma única verdade, nem tampouco uma única certeza. Se de madrugada nossa mente vaga por campos freudianos, à luz do sol, vem o cogito cartesiano e nos diz que a coisa não é bem assim. Temos ainda uma racionalidade que nos persegue e, que, aos moldes do velho Heráclito, não anda só, nem é a única certeza de nossa existência. Não fica só, nem determina, tão-somente, nosso ser. Esta torrente de palavras, prova cabal desta contradição, no dia de amanhã, pode perder seu significado e dar-nos outros símbolos de compreensão de nós mesmos e deste nosso mundo estranho e non-sense.

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