sábado, 16 de fevereiro de 2008

Mais Reminiscências

Dá-me Fastio!
Esta sensação de fastio, combinada com uma certa intenção de se alimentar mais (mesmo porque, toda comida é gostosa, desde que gostemos dela), gera um ser barrigudo. Acho que isso não pode ser tão ruim, pelo contrário, estamos falando de bem-estar a todos. O alimento, seja ele físico ou psicológico, é sempre bem vindo. E estas ondas estranhas que, em certos dias, tomam conta da gente, são como ondas de mau-agouro. Tudo parece estar indo muito bem; no minuto seguinte nos tomam a dianteira, destronam a polícia e criam sua própria lei.

O abismo fica bem perto, a natureza se mostra bastante terrorista (o que só reforça nossa tese de que tudo se resume à primeira pessoa) e a humanidade dá seus belos saltos; ainda mais quando o próximo passo é tão imprevisível como qualquer buraco escuro. Da mesma forma que, outrora, afirmei a importância do abismo, não significa que, agora, com esta crítica, eu esteja dizendo o contrário e pregando outra coisa. Apenas levo à máxima afirmação os preceitos do velho Heráclito: sim, somos contraditórios, e o estado de guerra espiritual que nos persegue apenas nos conduz, dialeticamente, adiante.

As religiões, neste sentido, têm um motivo bem original de ser e de existir. Elas partirão exatamente deste conflito constante que é a condição humana, no entanto, seu problema está em separar estes opostos (é a famosa guerra do bem contra o mal), fazendo disso um mercado assaz lucrativo. Se não de uma lucratividade concreta e efetivamente econômica, uma lucratividade cognoscente e psicológica de ser, tão macabran quanto. Caso não tenhamos mais o conflito, e este conflito não se coloque dos dois lados da margem – e aqui a terceira margem de Guimarães Rosa surgiria para resolver este problema de sectarização –, não teremos mais a necessidade de alimentar a insaciável religiosidade humana. Algo tão bom quanto o próprio conhecimento, além de deveras importante!

Sim, meus caros, somos religiosos por natureza, daí a força e o sucesso de toda e qualquer seita de fundo de quintal que surja instantaneamente, como também, a importância das religiões tradicionais – e ocidentais, em especial. Não é por mera sorte, ou meras ignorância e supertições, que faz com que as religiões ganhem todos os dias – mesmo em uma sociedade secular – cada vez mais adeptos.

Mas, vá lá, esqueçamos o viés religioso, tentemos reencontrar este abismo que perdemos. Temos que perder alguma coisa sim, mas essa coisa seria o medo de se atirar de cabeça nesse buraco escuro...

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