domingo, 17 de fevereiro de 2008


Como Um Reverso de Luz

Mesmo porque, o escuro é apenas uma sensação momentânea entre o instante da luz e seu reverso.
Esta situação sempre acontece quando tentamos buscar possibilidades outras àquelas que, habitualmente, encontramos no dia-a-dia. Hoje mesmo, antes de vir defronte estas letras, me encontrava a cata de palavras para complementar este libelo. Uma obsessão que passou a ser um vício... uma necessidade de fastio. Parece que, ao ficar alguns dias sem encontrar novas palavras - e até as já velhas, pois, de nova podemos entender todo seu correlacionamento com outras palavras e a tessitura de um texto qualquer, com efeito, o novo passa a ser apenas a forma como elas são dispostas umas do lado das outras, trazendo uma mensagem e um signo, estas sim, situações novas em palavras já velhas... tudo aquilo que já se escreveu é tido como velho até que alguém venha e recoloque estas palavras em novos lugares e novas ambiências, portanto, palavras novas nada mais são que significações novas em textos também novos, como também, em textos antigos -, falta oxigênio em minha corrente sangüínea e, como todos sabem, a falta de oxigênio leva à morte, contudo, o uso do oxigênio e sua queima, quando do processo da respiração, também leva à morte. Que morte então eu gostaria pra mim, aquela do fastio, ou aquela da necessidade... é uma questão difícil de responder, afinal de contas, ninguém quer morrer.

Pois bem, este escuro, como se percebe, tem muito mais luz que qualquer poste elétrico; e isso faz parte da vida... e como tenho dito desde o início deste texto: a vida é extremamente contraditória e belicosa. Não é agora que conseguirão enterrar Heráclito, como tantos tentaram. Enquanto houver um sequer que o persiga, ainda o teremos entre nós...

A luz, entretanto, a continuar como insistimos em depredá-la, chegará em um certo momento em que, nem para mim, nem para aquele que me lê, ele existirá... ou existindo, não terá nenhum significado. E aqui não me refiro a nenhum tipo de luz metafísica, mas a luz que, corporeamente, alimenta nossa alma e nos alça além. Pois alma é isso, uma constante afirmação de que podemos ser mais. Ela é apenas um mecanismo de busca, libertação e superação de nosso ser. O fato de a alimentarmos, seja com oxigênio ou luz, é que coloca-nos no rol de seres que querem mais do que realmente somos. A alma, nesse sentido, não é senão, a afirmação de nossa busca por um conhecimento cada vez mais refinado!

E por refino, nada a ver com elitização, mas com aperfeiçoamento, me refiro a algo bom sem ser, ao mesmo tempo, excludente e sectário. O grau de perfeição de nossa alma depende da busca de nosso Espírito, e nosso Espírito é a exemplificação de nosso saber, cada vez melhor e mais complexo...

Que a profundidade nos acompanhe nesta busca, pois, de insônia, já basta a da humanidade contemporânea...

Um comentário:

Walmir disse...

O velho Eliot se perguntava: "que é a alma, senão o corpo?"
Pode-se também perguntar o contrário, eu acho. É que o corpo alimenta o espírito - este impulso gerado pelo próprio corpo e que o alimenta. E no entanto há percalços, hoje e sempre, de um caminho hedonista que mais nubla do que ilumina. Tudo passa pela educação de sensibilidade sem a qual a luz se perde. A luz, ilhas.
O que existe mesmo é a escuridão. As luzes são apenas ilhas no infinito.
Belo post, mano blogueiro. Relevante.
Paz e bom humor, sempre.

walmir
http://walmir.carvalho.zip.net