terça-feira, 29 de abril de 2008

Seção - Filosofia de Boteco: Dioniso Sóbrio XVI


Aforismos: Artigo de Opinião

Um artigo de opinião é sempre um escrito interessante. A própria nomenclatura do mesmo já nos dá um certo sintoma do que estamos a encontrar pelas trilhas da escrita. Este primeiro elemento já ilustra a continuidade do tema, esta seara mitigada, campo várias vezes desbastado, embora, nem sempre corretamente – e belamente – apreciado! O quê dizer, então, de uma campina que, mesmo após tanto vento e erosão, ainda nos dá a grata surpresa de sempre nova vida?! Uma terra onde o vicejar de uma brisa dá lugar ao verdejar de um bosque... um bosque de saberes e sabores. A vida daquele universo outrora pertencente, tão-somente, ao autor em questão, e sua intimidade – tanto lingüística quanto interpessoal –, poucas vezes exposta a tantas outras intimidades, e ainda, outras intimidades coletivas, alienantes. Uma vida que se alimenta de mais vida quanto mais sabor se realoca sobre seu saber – será dele-mesmo tal saber? Aquele pensamento-sentimento que, após tanto tempo, exposto em tão espantosa miragem, ainda não se deixa verter lágrimas de assombro; ainda não se depurou em tanto mel?! Mel de outro e de outra vertente, cada vez mais mergulhado em questões, gerando ainda uma outra questão, tão interessante quanto... como interessante também seria o fator reflexivo de tão explícita exposição: quem escreve determinado escrito, em si mesmo – e no artigo –, já determina um caminho, uma linha de raciocínio e um liame de consecução, produção e reprodução. Sempre sendo uma opinião a se tomar; e em alguns casos, a se retomar. Sendo sempre uma pessoa a se mostrar... outras tantas (dentro desta mesma) a esconder, visto que – e ainda essa – muitos se utilizam de tal instrumental para apresentar uma opinião, e esconder uma pessoa... uma opinião do que ele não seria, e de que ele não teria e a qual ainda estaria construindo, como num ensaio (que de fato é um Ensaio) duma obra maior. Assim, seu Universo dança à nossa frente, e mesmo assim mantemos incólume nosso espírito de supressão: supressão da vontade, logo, supressão do saber e distanciamento do sabor. O sono profundo que nos acomete é cheio de sendas e veredas. Perdemos nosso dispositivo de suspensão e alheamento. Estamos mergulhados de saber, por isso nos deixamos afogar... Enfim, escrever tem dessas coisas; podemos propor o universo que quisermos..., e quanto ao escrito de opinião: podemos propor o nosso universo que quisermos... será mesmo nosso?!

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