terça-feira, 28 de julho de 2009

Poesia


Diário de um daltônico


Eu preciso ver o mundo

O que acontece para além da minha janela trêmula e sem foco

Que é uma sobrancelha que se enruga com o vento

Ou o meu olhar que se envergonha com o seu

Preciso sentir o mundo correr pela estrada a fora

Ver o que eu posso fazer

Conseguir o que eu quero

Mas eu não sei o que eu quero

Nem sei se sei querer

O meu desejo não dura muito tempo

É como um orgasmo precoce, um sorriso sem graça.

O que eu quero é só de vez em quando.

O sorriso da serpente deslizou

Até chegar no seu destino

Não quero o amanhã sem graça de todos os dias

Quero ficar onde estou e ao mesmo tempo sinto vontade de correr

Para todos os lados que meu nariz apontar

Não quero obrigações ou imposições

Quero amanhecer quando puder

Não quero viver a mercê da sociedade,

Dos seus costumes estúpidos

O que eu quero é te ter no meio da rua

Para que todo mundo veja inclusive quem você ama

Quero ser como os cães

Que fazem o que querem e quando querem

Não precisam de ritos para dissimular o que mais desejam

São autênticos.

E é isso que eu quero.

Não quero disfarçar o que penso ou esconder o que sinto

Quero poder dizer qual a cor do meu céu...

Pelo menos é isso que eu quero agora

O antes e o depois eu já não sei

Só existe o agora

O ontem é só lembrança e o amanhã é só sonho

Enquanto não se tornar o hoje.


25/07/91

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