terça-feira, 22 de janeiro de 2008

Sobre a Liberdade – por Mill



Parte I

A pensar que a liberdade surge de uma imposição tirânica sobre abutres que se impõem em grau menor, a um grupo chamado, como ainda menos, de gavião, um longo debate nos alerta que, por liberdade, gostando ou não, a única coisa que podemos entender é a forma como utilitariamente ela nos vêm, e isso só acontece por meio de uma relação que temos para com nossos coetâneos espécimes, dando-nos instrumentos de compreensão de força e poder e, principalmente, de tirania!

Se liberdade é pensada como grau de comprometimento e de submissão, resta-nos a clara informação de que jamais a poderemos conquistar... a não ser dentro de uma Liberdade Civil ou Social que, já por natureza, não cabe mais a nós! E sim a alguém que, de alguma forma, tomou para si a tarefa de dar-nos a liberdade, isto é, cabe àquele que está de fora – seja em pessoa, seja em instituição; que também pode ser uma pessoa.

Grande ironia; vejamos como John Stuart Mill em seu Ensaio Sobre a Liberdade nos alerta para isso: Seu poder [do exercício opressor] era considerado tão necessário, mas também tão altamente perigoso; quanto uma arma que tentassem usar contra seus súditos [liberdade surgida como garantia de submissão a um certo chefe, para qua a vida se garanta junto ao grupo, e em detrimento do inimigo externo, ou ainda, a determinado opressor... pois bem, assim surge a Liberdade Civil], não menos do que contra inimigos externos. A fim de evitar que membros mais fracos da comunidade fossem oprimidos por inúmeros abutres, era necessário que houvesse um animal de rapina mais forte do que o resto, encarregado de contê-los.

Liberdade advinda de um jogo de força, donde o mais fraco, para manter-se mais fraco, e por ser mais fraco, se escraviza em prol de seu senhor. Devido sua força, e para manter sua força. Esquemas de jogos de poder que, ao surgirem como política do dia-a-dia, e manutenção de agregados não-familiares, se-nos mostram como elementos de não-liberdade, embora, elementares para manter a Liberdade Civil, e para dar-nos a liberdade – boa ironia!

Como explicar para o tirano que ele não pode ser tirano se, diuturnamente, ele está, cada vez mais, vendo justificada suas estratégias de manutenção de poder? Não dá... talvez por isso o tema seja tão espinhento e tenha passado por muitas bocas e penas ao longo da história da humanidade. Esta mesma que se faz por meio do jogo e da enganação. Por meio da submissão e da imposição. Por meio da força e, em raros momentos, da rebeldia. Aliás, até mesmo a rebeldia, dado o lado em que é posta, se faz por meio da força e da imposição... talvez uma justificativa para o trecho acima exposto, de Stuart Mill.

Ainda pensando por Mill, e a partir de Mill, a liberdade surgirá da necessidade de se impôr limites àqueles que dela não compartilham, em nosso grupo, e que, ao mesmo tempo, delas necessitam para que sua vida seja, de fato, vivida. Uma sobrevida que se garante dando em troca uma primeira vida: a vida em liberdade.

Chamar à tona a palavra Liberdade é o mesmo que chamar à tona a palavra Comunidade: Mas como rei dos abutres estaria não menos empenhado em oprimir o bando do que qualquer dos menores gaviões, era necessário assumir uma eterna atitude de defesa contra seu bico e garras. O objetivo, portanto, dos patriotas era estabelecer para o poder limites aos quais o governante deveria estar sujeito [e acaba não estando, como temos visto em abundância, na história do homem, este ser tão inteligente e cheio de si: por ter soluções sobre todas as coisas e problemas] ao exercê-lo sobre a comunidade; e esta limitação era o que eles chamavam de liberdade.

E hoje, será que temos visto muita diferença... em se pensando que Mill se refere ao século XIX? É sobre isso que gostaria de descobrir, a partir destas novas palavras, depois de um longo – porém curto – mês de férias! Estamos de volta!

Nenhum comentário: