sábado, 10 de dezembro de 2011

Educação Infantil e Afetividade!



Em artigo publicado pelo Instituto Catarinense de Pós-Graduação, Margrit Froehlich Krueger nos apresenta a discussão de que a afetividade exerce um papel de extrema relevância para a Educação Infantil. Sua importância estaria na proximidade que o educador teria com o educando e de que forma isso se torna um incentivo para uma aprendizagem mais efetiva.
Sua discussão gira em torno de quatro bases conceituais e teóricas: Piaget, Freud, Wallon e Vygotsky, embora dê muito mais importância à Piaget, visto que o mesmo tem, conforme a autora, a seguinte a crença (referência maior para a conceitualização de seus parâmetros): “Na teoria de Jean Piaget, o desenvolvimento intelectual é considerado como tendo dois componentes: o cognitivo e o afetivo. Paralelo ao desenvolvimento cognitivo está o desenvolvimento afetivo. Afeto inclui sentimentos, interesses, desejos, tendências, valores e emoções em geral.” (KRUEGER, 2002: p. 4)
Dessa forma, quando não há um acompanhamento entre afeto e cognição, não há um desenvolvimento tão a contento, aliás, tão global como realmente deveria ser. E diria ainda mais: a afetividade (seja ela apresentada em casa, com os familiares, seja também entre este bebê e seus educadores) tem papel importante, inclusive, em relações interpessoais e, principalmente, na composição dos futuros julgamentos morais desta criança; o quê significa que o afeto, mais que um elemento aproximativo do bebê com seus parentes e o mundo, é também um elemento conformador da cognição e do desenvolvimento educacional deste ser em formação, bem como seu passaporte para o mundo dos adultos e sua criação identitária.
Pelo fato de a infância ser uma etapa de adaptação progressiva, no que tange à formação biológica da criança ao meio físico e social, há que existir um equilíbrio entre este parâmetro amoroso por um lado e o intelectual por outro, além das possíveis consequências na definição e estruturação de uma conformação existencial plena e saudável deste ser em constructo.
Ainda pensando nos outros bastiões da formação psicológica do indivíduo; Freud afirmará que há uma relação muito íntima entre o mundo individual do homem, suas relações inter-humanas, a construção de um mundo habitável e a função de nossa história e de nossos processos afetivos na coabitação humano-existencial. A harmonia de nosso espírito depende destas relações de uma forma muito visceral.
Já em Wallon não há separação entre o aspecto cognitivo e o afetivo e, como tal, há que se confirmar o seguinte: deve-se valorizar a plena efetivação dos aspectos socioafetivos para o desenvolvimento e o processo ensino-aprendizagem, com foco na importância da afetividade como recurso intelectivo e motivacional e para a relação professor-aluno na construção destes saberes.
Apontar o valor da qualidade das primeiras relações afetivas da criança, com seus primeiros educadores, implica em focar numa boa teoria do desenvolvimento e como isso, diretamente, afeta no exercício da aprendizagem e na construção das relações interpessoais desta criança pelo resto de sua vida escolar.
Ainda em Wallon, as emoções têm um grande papel na formação intermediária entre o corpo, sua fisiologia, seus reflexos e as condutas psíquicas de adaptação (KRUEGER, 2002: p. 3) do ser humano ao meio hostil em que vive, confirmando a tese de Krueger (p. 4), que nos diz o seguinte: “Portanto, a afetividade exerce um papel fundamental nas correlações psicossomáticas básicas, além de influenciar decisivamente a percepção, a memória, o pensamento, a vontade e as ações, e ser, assim, um componente essencial da harmonia e do equilíbrio da personalidade humana.”
Ademais, afirma-se, entrementes, que a organização dinâmica da consciência, segundo Piaget, aplica-se ao afeto e ao intelecto, ocasionando uma plena formação crítica, intelectual, psicológica e cidadã do indivíduo.
Situação que não é muito diferente do que pensa Vygotsky, já que o mesmo explica o pensamento a partir da esfera da motivação e das relações que o ser humano estabelece com o meio social em que vive, evidenciando a importância das conexões entre dimensão cognitiva e afetiva do pensamento psicológico humano e sua pretensa unificação dos quehaceres dos indivíduos.
Um elemento a mais para se justificar aquilo que chamamos de proximidade afetiva das relações humanas, ambiente em que se dá a interação do indivíduo com os objetos a ele apresentados e a construção de um conhecimento altamente envolvente (KRUEGER, p. 5), em que o ser conhecedor sente-se motivado fisiologicamente para compreender seu mundo circundante e todas as consequências que o mesmo lhe ocasionar; e, por isso mesmo, a escola deve oferecer tal referência para as crianças diretamente a ela ligadas e com elas envolvidas. Visto que, em tal ambiente hostil, fora do leito familiar e de uma proteção que lhe é peculiar, tal aprendente deve se sentir seguro, protegido e amado.
Como a criança na idade pré-escolar ainda não sabe lidar com suas paixões, dominando-as e as transformando em situações de aprendizagem, este ambiente escolar deve ser o mais seguro possível, até para permitir uma exteriorização de seus sentimentos. Sabendo, todavia, que também há limites para a forma como se dá esta exteriorização. Assim, e pensando em referidos limites, a frustração deve fazer parte deste aprendizado tal como o afeto. E nada melhor que a separação e a regra para que se entenda o fundamento do viver em sociedade.
É inegável que a criança precisa aprender que não pode tudo, e que no universo social e escolar ela não está mais sozinha, apesar de estar fora do ambiente familiar. É ali, pois, que aprende a interagir com outras crianças, e com outros adultos que não sejam aqueles de seu convívio quotidiano e de seu seio familiar.  
Neste processo de separação a criança desenvolve a tolerância à frustração e, desta capacidade de espera, resulta o ecoar interno de uma representação da mãe; uma representação que vem simbolicamente focada no carinho que os educadores trazem para a criança, e para seu universo pessoal. Carinho que traz até a criança os símbolos do mundo, logo, confirma-se o processo de ensino-aprendizagem que o mundo exige.
Mas, esses momentos de crescimento só serão possíveis se esta etapa for suficientemente preenchida de boas experiências emocionais, que permitam ao pequeno um modelo de estabilidade e segurança, previsível e contínuo. Um modelo que lembre o universo familiar e, ao mesmo tempo, separa-se dele, trazendo os símbolos do mundo. Mostrando que o mundo também pode trazer elementos de aprendizagem e de construção de saberes. Construção essa que necessita deste outro afeto, que não o familiar, para que a criança se constitua como um ser em formação, e com uma identidade própria, apesar de vinculado aos primeiros símbolos advindos de sua família.  
Enfim, para que a criança tenha um desenvolvimento saudável e adequado aos ambientes escolar, social e familiar, há que existir um estabelecimento de relações interpessoais muito forte e positivo, em que haja aceitação e apoio. Apenas isso pode lhe garantir sucesso no universo extremamente competitivo do ambiente, então inserido, e os objetivos educativos do mesmo – nem sempre tão direcionados à afetividade, como deveria ser –, pois, tão-somente trabalhando com a construção do real.  
Juntamente com a constituição do sujeito em sua plenitude psicológica, afetiva e intelectual é que teremos condições de implementarmos o desenvolvimento integral dessa criança; e o afeto deve ser um destes elementos constituidores.

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