terça-feira, 15 de julho de 2008

Um Olhar Ao Longe...




Nietzsche observa os humanos de longe, e não os considera seres privilegiados, apenas alguém que vem trazer uma notícia, há muito, já sabida; às vezes notícia essa que chega como o jornal de ontem: fatos idos, de coisas idas, todavia, vividas. Um dos pontos principais de sua obra é a crítica aos valores judaico-cristãos, estes mesmos que forjaram esta civilização tão plena de saberes e de verdades que é a nossa querida Civilização Ocidental, e a notícia que Nietzsche traz é a da morte de Deus, visto que, os homens e todo o processo de racionalização do saber já o mataram. Tal como uma notícia antiga: já sabemos dela, no entanto, ainda nos atemos a ela para conseguirmos dignidade no viver... é difícil viver sozinho, sem deuses... aliás, sem muletas!



O homem não é divino, apenas um Ser que pode ser mais do que realmente é. Necessita sobreviver e dominar para poder confirmar sua existência. Uma vez que na história esteja presente a vontade de poder, como também a vontade de dominar, resta ao homem dominar seu tempo e sua história para não ser dominado.



Não sendo dominado também não se transforma em rebanho. No entanto, o que acontece não é bem isso: o homem se apega à mentira do conhecimento como se sua filosofia ou ciência explicasse realmente o mistério cósmico, e deixa de lado todas as forças que movem este mistério, e que não se deixam fotografar; as suas forças em pleno atrito parea manterem-se vivas. Pelo contrário, estas forças cósmicas precisam ser vividas no dia-a-dia de sua construção de saberes.


Como o conhecimento, a moral e a metafísica são invenções, resta ao homem; primeiro, tentar compreender qual o momento em que esta invenção foi mais manipulada e; segundo, construir por si só, e com base em saberes já existentes, renovar seus valores para aqui, e não para além, valores que o coloquem como criador, e não criatura.


Outro problema, que advém da ciência é o fato de ela sempre se alçar sobre as outras áreas, como um vampiro, para poder sobreviver mais algum tempo. Quando chega sua senilidade, a tendência é ela vir sugar a novidade e, a partir disso, tentar controlá-la (novidade) também. Um problema já detectado por Nietzsche, ainda em 1868, numa carta ao amigo Paul Deussen.


"Certo é que eu exijo a tôda ciência o seu passaporte, e, se não me pode provar que, no seu horizonte, existe algum grande fim civilizador... deixa-a passar sempre, visto que os insignificantes têm tanto direito à existência no reino científico como na vida. Mas as citadas ciências-Kauz que fazem trejeitos patéticos e calçam coturno, não devem tomar-se a sério os seus gestos. Ora bem; algumas destas ciências chegam assim à senilidade, e oferecem então um aspecto repulsivo, quando, com seu corpo consumido, veias sêcas e bôca murcha, buscam o sangue de novas naturezas florescentes e o chupam como vampiros. Nesse momento, o dever de todo o pedagogo é manter as frescas fôrças louçãs longe dos abraços dêsses velhos monstros, que são venerados pelos historiadores, e odiados pelo presente, e que serão destruídos pelo futuro." (20 out. 1868; 1944: 87)


Seguindo uma espécie de trilha do conhecimento, desde seu erro inicial, até o ocaso definitivo de sua epistemologia, a ciência tenta se manter, como sendo a única capaz de ditar as verdades do mundo. Verdades que devido nossa formalção ocidental já se cristalizaram, relegando seus criadores e meras criaturas.


E isso nos vem como um exemplo bem claro já no século XVIII, quando caem as teorias de origem divina do homem (criando-se assim uma divindade contida na razão), e o intento de se tentar substituir tais verdades – o homem não gosta nem do abismo, que lhe tira o solo, nem da orfandade, que lhe tira o pai.


Apesar de tais teorias, lá criadas, virem refundadas com um substituto deste divino: no caso, passou a ser a razão. Dessa forma, o conhecimento passa a ser ativo, porém, submisso à vida. Há que se repensar esta submissão, invertendo sua polaridade. Daí a importância em não divinizar a razão, como fora feito.


O mundo que tem valor é o que criamos ao perceber o quanto sua confluência de forças é confusa. Nossas verdades são ilusões que precisam, também, serem pensadas como tal. Ilusões de um mundo que foi construído, sob medida, à nossa 'medíocre' existência.


Caso tivéssemos uma vida, e saberes, menos medíocres, poderíamos ter construído um mundo diferente, com valores totalmente outros. Pensam por nós – usando nossa força vital –, já que não conseguimos pensar por nós mesmos, como espíritos livres. Resta saber até quando referida situação ainda se manterá.


Nenhum comentário: