quinta-feira, 27 de março de 2008

Dizem Por Aí...


Dizem por aí (Wilson Martins), que foi a partir do momento em que o homem começou a abstrair-se de seu pensamento, e de sua mente, que a linguagem passou a ser criada e, principalmente, que demos um salto na evolução.

Mas, parece que não fora a vida do espírito que originara a abstração, ao contrário, nossa abstração que originou a vida do espírito. E esta vida do espiríto se fez concreta na linguagem... desde então nos desvinculamos dos outros animais.

Parece uma teoria bem interessante, ainda mais quando o que temos diante de nossa mente, e de nossa visão, uma quantidade de linguagem incompreensível para a espécie humana e, de maneira individual, impossível para o homem. Se formos buscar toda a linguagem que temos no mundo, e me refiro a uma pessoa apenas, passaremos toda nossa medíocre e mínima vida, e não conseguiríamos açambarcar um por certo deste saber. Fora a quantidade de línguas que tem o mundo, e que jamais, saberemos zero vírgula um por certo desta compreensão.

Aquilo que, num primeiro momento, foi-nos libertador, hoje, até para as pessoas mais insistentes e inquietas, tornou-se uma grande prisão. Uma redoma que apenas conforma nossa falta de liberdade.

E neste casulo que se mostrara a liberdade, não tem insônia nem incômodo que coloca o homem para fora de sua significação de mundo. Estamos, tão-somente, cada vez mais presos a esta redoma, e o que é pior... nas atuais circunstâncias é impossível nos desvincularmos deste casulo. Ou seja, a liberdade tornou-se um objeto de primeira necessidade, e de primeira linguagem e, todavia, não podemos nos utilizar dele. Quando encontramos por aí, algum bom orador, que insiste em colocar este liberdade como seu principal objeto significante, de mundo, nada mais temos senão um grande hipócrita, e também um grande bajulador de nosso ego - ele apenas diz o que todos nós gostaríamos de ouvir, em especial, quando colocamos o problema da liberdade em questão e, por conseguinte, o da linguagem como sendo problemas correlatos, na sociedade da informação infinita. Principalmente se o que está em jogo é essa nossa necessidade de primeira pessoa.

Poderíamos escrever um livro de quinhentas mil páginas que, jamais, conseguiríamos lê-lo e fazer dele um livro do mundo.

Então quando dizerem por aí que sua vida é um livro aberto, até pode ser, mas a leitura deste livro será sempre absurda (para não dizer impossível). O fato de buscarmos constantemente a primeira pessoa no outro, coloca ainda mais códigos para que nossa insígne linguagem consiga compreender - e cada vez mais se perder -, e fazer-nos significado. Pois, seria este seu papel, fazer-nos o mundo como a algo significante.

Mas, pelo visto, é um papel que, de tantas letras, não poder ser lido... está muito confuso e completo. Aquilo que é completo demais não faz parte de nossa realidade, aliás, da realidade da linguagem.

3 comentários:

Anônimo disse...
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Anônimo disse...
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Walmir disse...

Caro professor, mano blogueiro,
esta idéia inicial de que a capacidade de abstração formou o espírito é boa reflexão. E em cada ser humano vai se repetindo, talvez se aperfeiçoando. Por exemplo, uma criança - criancinha - é incapaz de abstrações. Ela a conquista aos poucos, ensinada, e lá pelos 8 ou 7 anos - os psi sabem - ela consegue abstrair, separar mentalmente uma parte de um conjunto, refletir sobre ela, entender ou buscar entender suas funções, sem a necessidade que as crianças têm de colocar na boca, quebrar ou desmontar.
Embora, às vezes, seja um deleite esculhambar uma maquininha para entendê-la. Tem muito médico que faz isso com seus pacientes. Mas abstrair vai ainda mais longe, nem vou dar conta.
Então a capacidade de abstração tem de criar uma modo de comunicar, daí vem a linguagem.
Mas a linguagem é muita também. E nem assim, com toda sua variedade e acúmulo poderá acolher as abstrações todas de um só vivente.
Porque a própria abstração virou-se em linguagem - pensamos em palavras. Olhamos uma parede e imediatamente estamos dizendo: esta parede é clara, ampla, tem certo tipo de rachadura, esta rachadura é sinuosa assim, assim, deve ser sido causada por isso ou aquilo. E o infinito das abstrações espelhadas pela linguagem não têm fim.
É prisão iludindo-se de ampla liberdade.
E queremos alguns refrescos de boa preguiça onde deixemos de pensar. Tal como dizem os iluminados: alcançar o nirvana onde a vida flui sem palavras. Onde o contato direto com a vida não é mais intermediado. É mediato.
Às vezes temos uns momentos assim.
Eu pelo menos já tive. Raros. Raríssimos.
De todo modo aí está um tema digno de ser debatido.
Paz e bom humor sempre, meu professor.
walmir
http://walmir.carvalho.zip.net