Sobre os 500
Durante toda a história
brasileira, desde a conquista do território, promovida pelos portugueses há 512
anos, até nossos dias, uma situação se repete. Temos visto muito forte, a
exclusão de grupos inteiros, senão, o próprio extermínio deles, como é o caso
de muitas tribos indígenas que não existem mais. Visitando mais a fundo a
história dessas pessoas, o que se percebe é que nunca foi dada uma oportunidade
clara para a inclusão destes indivíduos em nosso meio social.
Buscando, primeiramente, o
exemplo dos indígenas, a única forma de tomar posse do território era a
destruição total de seus nativos. Os portugueses não conseguiam conceber uma
conquista sem o estigma da violência. A noção de amor ao próximo não consegue
se concretizar neste primeiro momento.
Os portugueses até
procuraram traçar algumas estratégias de ‘inclusão’ dos indígenas, no entanto,
esta estratégia tinha mão-única, uma vez que, ao conseguir a confiança destes
grupos, o primeiro passo foi escravizá-los, até mesmo com o propósito de
alavancar a consolidação deste estado exploratório.
A própria estrutura
colonial, da forma como foi construída, dava margem à exploração de um grupo
sobre outros, pode-se dizer que o histórico da exclusão, no Brasil, surge junto
com o a estrutura social e política do estado luso-brasileiro. Criou-se
condições para a permissão da exploração e exclusão, inclusive a própria Igreja
dava respaldo a esta estrutura.
Segundo Todorov (1996),
existe nesta estrutura “um encadeamento
terrível, onde compreender leva a tomar [o território], e tomar a destruir, encadeamento cujo caráter inelutável gostaríamos
de colocar em questão.” Pelo que se percebe, os próprios pesquisadores
gostariam de entender essa estrutura destrutiva e, posteriormente, excludente.
Imagina-se que, para o momento, era necessário utilizar desta estratégia de
destruição, é claro que tal fato é totalmente questionável, mas isso não impede
que façamos questões acerca. Até que ponto era necessário destruir para tomar
posse? Uma vez que sabemos que a pretensão dos portugueses era unicamente tomar
posse deste território e explorá-lo o máximo possível.
A exclusão destes grupos
indígenas hoje é tão forte que não precisamos nem puxar muito da memória para
se lembrar do incidente da comemoração dos 500 anos, em que os índios forma
proibidos de participarem da ‘festa’, tendo, inclusive policiais impedindo a
entrada deles em Cabrália (BA). Quem não se lembra daquela cena que saiu
estampada em todos os jornais: um índio ajoelhado pedindo clemência a um
policial que lhe apontava uma arma na cabeça; uma lembrança forte, mas
necessária para impedir que esqueçamos quem são as pessoas que sempre se
mantiveram à margem do sistema.
Outro grupo que tem, também
na colonização, o início da exploração e exclusão são os negros. Viam para o
Brasil unicamente para serem escravos, eram arrancados à força de suas aldeias
nativas. Não é a toa que hoje são tão marginalizados e, o que é pior, existe um
preconceito muito forte pelo fato de terem pele negra, ou seja, são diferentes.
A História brasileira tem se mostrado muito exemplar do ponto de vista da
exclusão, quase todos os grupos considerados diferentes são postos de lado pelo
sistema. Temos as mulheres, os negros, índios, homossexuais, idosos, etc. São
vários grupos que fazem, ou fizeram, muito pelo Brasil, mas no entanto, nunca
receberam nada em troca.
Passando para a atualidade,
uma discussão que está muito forte no nosso dia-a-dia: a distribuição de cotas
para negros nas universidades. Fazendo uma reflexão em cima deste assunto; não
estaríamos sendo tão preconceituosos e excludentes quando propomos isso? Por
que eles têm que ser encarado como grupos distintos de nossa sociedade? É fato
que sempre foram descaracterizados pelo sistema, mas quando dividimos a
sociedade em negros e não-negros estamos propondo um racismo invertido, ou
seja, um racismo permitido pela Lei. Fora também a discussão salarial que,
também, perpassa esse processo; todos sabemos que mulheres e negros sempre
ganharam menos que os homens branco-ocidentais. Isso apenas reforça a exclusão,
não permitindo ao Outro e ao Diferente a oportunidade de se usufruir dos mesmos
privilégios da grande maioria da sociedade.
E por último, as mulheres,
desde a origem do Estado brasileiro sempre tiveram o papel, único e exclusivo,
reprodutor e, também, de dona-de-casa. Até mesmo o voto que é a forma mais
simples de cidadania e, consequentemente, de inclusão social, só foi permitido
a elas em 1934, com a Constituição do Estado Novo getulista, até então, serviam
apenas para o lar.
É claro que só depois de um
movimento questionador, dentro de toda a Europa, é que as mesmas conseguiram
‘seu lugar ao sol’, fora disso, sempre eram deixadas de lado. Talvez elas
tenham sido, e ainda têm sido, o grupo que mais sofreu, dentro dessa estrutura
de exclusão social (isso se formos comparara todos os anos de nossa História
que foram marginalizadas por nossa sociedade machista, ocidental e
pretensamente européia) durante toda a História brasileira. Até os nossos dias
seu salário é dado não por seu cargo, mas por sua situação social, ou seja, por
ser do sexo feminino.
Segundo Carvalho (2001), o
homem ainda precisa percorrer um longo caminho até a cidadania, não se permite
mecanismos para que todos adentrem nesta tão grandiosa cidadania. Os direitos civis e políticos só são dados
àqueles que compartilham de uma determinada posição social, sejam, brancos e do
sexo masculino. É claro que temos uma Constituição que prescreve por todos,
todavia, na prática, estes direitos se encontram somente no papel.
Como diz Carvalho, o
caminho é longo, só precisamos começar a caminhar...
Bibliografia Utilizada
CARVALHO,
José Murilo de (2001). Cidadania no
Brasil: um longo caminho. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 236p.
CONSTITUIÇÃO
da República Federativa do Brasil de 1988 (2001). São Paulo: Exped, 408p.
TODOROV,
Tzvetan (1996). A Conquista da América:
a questão do outro. São Paulo: Martins Fontes, 263p.
2 comentários:
que nojo
Encarar a verdade dos fatos não é para todos.
Parabéns pelo seu trabalho.
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