(Segundo Nietzsche)
Seguindo a trilha da humanidade, é fácil
depararmo-nos com sua busca incessante pelo aperfeiçoamento humano, destarte,
pela pretensa apreensão de conhecimentos rumo a um código de ética universal, colocando o ser humano no mesmo códice do das leis morais, onde, amparado em seus conhecimentos de mundo, crie-se a si mesmo subsídios
para sua emancipação cognoscente.
Partindo dessa premissa, este texto visa traçar algumas informações acerca da ARETE e como mesma teria sido pensada, há séculos, enquanto subsídio para a
Educação rumo à virtude, tendo na Grécia Clássica e em Nietzsche os principais
interlocutores.
Pode parecer um trabalho desarmônico, no entanto,
quando dispomos de mecanismos conceituais como a paidéia grega e a noção de Übermensh
de Nietzsche, a verossimilhança pode se apresentar de forma mais veemente.
Surgida no século IV a.C., a concepção de educação
teve em Isócrates e Platão os mais fortes defensores. Ambos viam a educação
como a estruturação de um humanismo universal, discussão essa colocada no
centro da vida cultural ateniense. Por serem duas visões distintas de
humanismo, tinham na concepção ideal de educação a grande divergência.
Para Platão a Matemática e a Dialética seriam o
ponto inicial da verdadeira filosofia. A Dialética teria o papel de exprimir
uma ciência com método e objeto próprios e a Matemática de separar-se do mundo
da experiência e elevar-se ao inteligível.
Isócrates, ao contrário, busca na Retórica e na
História este ponto primevo da educação. O discurso seria o único capaz de
exprimir o conteúdo ético-político, responsável para a formação dos jovens
atenienses, já o estudo da História serviria para adquirir uma grande
experiência. Afora, este último acaba contribuindo para a disseminação do
humanismo ocidental, chegando até a receber o posto de pai da cultura humanística, uma vez que Platão buscava a Matemática para referendar seu
conceito de educação.
Outrossim, o importante a destacar, nesta
divergência saudável, é a dialética histórica do ideal de cultura que se
desenrola no diálogo entre Isócrates e Platão. Tal diálogo vai encerrar o valor
permanente que apresenta o humanismo universal. A paidéia grega tem nestes pensadores a veemente autocrítica do
humanismo erudito do ocidente moderno, abrangendo a totalidade dessa
abrangência autêntica.
Com efeito, foi o ideal de homem, tal como a ARETE grega que, substancialmente,
ocasionou à humanidade sua trilha rumo a emancipação cognoscente, o que lembra
a noção de Além-do-Homem (Übermensh)
em Nietzsche. A noção de homem, inaugurada pela paidéia grega, congrega uma ideia
genérica de homem, na sua validade universal e normativa, ou seja, um homem que
tenha sua noção de ética profundamente estruturada no humanismo universal e
como tal, senhor de seus atos e vontades.
Ademais, a noção política da ideia grega de homem se
afirma em um caráter de autogestão, das necessidades de conservação e do
desenvolvimento da própria vida física, sobremaneira, da capacidade de travar
relações sociais; estas últimas, amparadas na existência do lógos heraclitiano, transferida aos
indivíduos virtuosos.
Segundo Nietzsche, a virtude que o homem deve buscar
e que, destarte, é encontrada na modalidade de pensamento dos tempos
primitivos, seria a ARETE. Com
efeito, esta é a virtude da força e destreza dos guerreiros ou lutadores,
sobretudo, no heroísmo da Grécia Trágica (Nietzsche designa como Grécia Trágica
a Grécia mítica). Dessa forma, a paidéia busca
na ARETE um ponto firme, onde surge à
tona o homem e sua formação universal, ademais, uma estrutura cognoscente que
direcione o homem rumo à virtude.
A educação, da forma como a paidéia grega apresentava, só tem sentido quando se encara todo o
esforço humano. Sua altíssima vontade em criar um destino (e isso lembra o amor fati nietzscheano) era a
justificativa última da individualidade humana e seu conhecimento próprio, não
há razão em separarmos a ARETE dessa
noção homérica, uma vez que, a inteligência clara do homem tem em sua destreza
e destemor a corda estendida no abismo de Zarathustra, uma corda que separa o
homem do Além-do-Homem.
O humanismo só tem razão de ser quando encarado como
consequência derradeira do homem, fora disso, se descaracteriza. Destarte, esse
humanismo, segundo Nietzsche, joga o homem no centro da
verdade e no núcleo das coisas, deixando para todo o resto o status de
aparência e jogo ilusório. Tem-se então o afirmar da paidéia e os reflexos da mesma na conformação de um homem
universal, senão em sua emancipação cognoscente; eis quando temos a convergência
entre Nietzsche e paidéia trágica.
Trazendo à tona Anaximandro e os pré-socráticos,
Nietzsche pretende apresentar toda a grandeza da existência, a qual, a paidéia se dispõe a eternizar. Glosando
por este caminho, caracteriza a moral como fenômeno que não se legitima,
todavia se penitencia de forma imorredoura, isto é, dentro da universalidade
humanística, perseguida pela paidéia,
a moral é, também, elemento de importância ímpar. Neste momento Nietzsche
apresenta um caráter vivo e dialético ao ideal emancipacionista do homem; eis o
vir-a-ser da razão profunda.
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