Edilson Antônio Alves
A mudança de fundamentos,
proveniente da revolução copernicana, traz para o
ideário das ciências humanas um outro parâmetro
epistemológico. Baseado nessa reconfiguração de
saberes, busco o argumento que Piotr Kropotkin (anarquista russo,
nascido em 1842 e falecido em 1921, um dos principais defensores do
comunismo-anarquismo) se utiliza para, no meu entender, alimentar sua
teoria filosófica anarquista.
Vejamos, então, a tese de
Kropotkin:
Todo
o aspecto do universo muda com esta nova concepção
[teoria heliocêntrica].
Desaparece a idéia de força regendo o mundo, da lei
preestabelecida, da harmonia preconcebida, para dar lugar àquela
harmonia que Fourier anteviu um dia, e que é apenas a
resultante dos inumeráveis enxames de matéria,
caminhando e conservando-se mutuamente em equilíbrio.
(2001: 24)
Se antes o homem, por temor ao
desconhecido, tenta justificar as instituições e até
o poder de uns sobre os outros, a partir do momento em que se tem uma
reconfiguração de mundo – e de universo –, pode-se
asseverar que este temor deixa de ser elemento reconfigurante, o que
garantiria uma maior liberdade para este mesmo homem – e liberdade
passa a ser entendida não como algo concreto e reduzido, mas
elástico e amplo, onde se tem uma liberdade, que coloque o
homem acima (pelo menos como propósito) da imposição
de poderes proveniente do discurso filosófico-jurídico
reinante – e aqui me refiro à materialização
do capitalismo e a constante reificação do homem,
transformando-o em objeto de ganho, para um fim exploratório.
O
fato de estarmos imersos no social dá cabo à
justificativa desta transformação, visto que, desde o
momento em que o coletivo sente, ou sofre, uma mudança muito
drástica, todos os elementos desta colônia
sofrerão com isso. Portanto, cada elemento dessa colônia
deveria lutar para resolver os sofrimentos e desventuras de seu
grupo. O que afeta um, deve afetar a todos; isso é o que mais
se aproxima da solidariedade anarquista.
A grande questão que fica na
escrita de Kropotkin é a de que toda harmonia, desde que
aconteça, deveria existir de forma provisória. É
como se houvesse um estado de guerra constante, onde a vontade do
grupo só se mantém para transformar sua coletividade.
Há sim a cordialidade entre
as várias facetas da cultura, não significando,
contudo, que esta cordialidade se imponha. A maior cordialidade
estaria no reconhecimento da diferença e no convívio
com ela. Pensadas como mal-entendidos, estas diferenças impõem
um consenso chucro, determinando o suicídio conceitual da
própria cultura, desembocando, em menor grau, na patologização
da diferença.
Com relação à
aceitação de certa Doutrina, como sendo uma verdade
inquestionável e sagrada, pode-se dizer que, dos elementos
acima, dois entram em cena: 1) é o caso da criação
de identidade e, 2) da construção de uma cultura
bastante ideologizada – pois, disso depende a construção
simbólica desta cultura e de suas correlações –,
com forte respaldo numa ordem formal.
Não
podemos nos esquecer, portanto, que a própria noção
de cultura, dentre suas várias interpretações,
tem nesta construção ideológica sua
concretização, determinando uma memória coletiva
comum, e impondo certos
parâmetros de conduta. Vejamos, pois, como Cliffort Geertz em A
Interpretação das Culturas nos
informa sobre isso:
Outra implicação é
que a coerência não pode ser o principal teste de
validade de uma descrição cultural. Os sistemas
culturais têm que ter um grau mínimo de coerência,
do contrário não os chamaríamos sistemas, e
através da observação vemos que normalmente eles
têm muito mais que isso. Mas não há nada tão
coerente como a ilusão de um paranóico ou a estória
de um trapaceiro. A força de nossas interpretações
não pode repousar, como acontece hoje em dia com tanta
freqüência, na rigidez com que elas se mantêm ou na
segurança com que são argumentadas. Creio que nada
contribui mais para desacreditar a análise cultural do que a
construção de representações impecáveis
de ordem formal, em cuja existência verdadeira praticamente
ninguém pode acreditar. (1989: 13)
Todo
o passado da cultura passa a ser pensado, a priori,
antes de se tentar traçar
algum tipo de confirmação do objeto
homem e sua história.
Diferente
do Medievo, onde toda a explicação provinha de cima,
neste momento tenta encontrar cá embaixo
uma outra explicação plausível, e também
outros parâmetros de conduta e comportamento, sem, contudo,
desvincular-se totalmente desse éter, ser
impassível que sobrevoa a vontade do homem, mantendo-se acima
do mesmo, e que o coloca numa certa prisão psicológica
– como se percebe, há aqui uma discussão da teoria
copernicana, e, com base em especulações, como a mesma
poderia servir de subsídio à obra de Kropotkin.
Esta
discussão lembra a obra de Heráclito, em especial, o
estado de guerra que do Uno (Também chamado de
logos, palavra usada
para designar “palavra” ou, mais propriamente, “ação”
ou “estudo sistematizado”, ou dinâmica de organização
do elemento Saber, e foi uma das primeiras construções
conceituais que dizem respeito à busca pela verdade,
ou mesmo pelas origens – se bem que para os gregos do período
de Heráclito a noção de origem ainda é
algo um tanto quanto obscura, sendo portanto, muito pouco usada; há
sim a noção de retorno e de ciclo, jamais de começo,
daí a noção de eterna guerra entre os opostos:
do Uno há a divisão de dois pólos que, pelo
resto da eternidade se digladiariam para construir o saber) advém
para, em seguida, retornar a este Uno, para, noutro momento,
subdividir-se novamente.
Parece-me
uma teoria bastante coletivista, porquanto, dentro de um elemento
comum, a saber: a transformação e ajuda mútua,
uma vez que, em Kropotkin há a afirmação do
comunismo-anarquismo,
em que se imagina a tendência para a igualdade econômica
e política. Contudo, uma ajuda nem um pouco harmônica:
A harmonia aparece assim como
equilíbrio temporário, estabelecido entre todas as
forças, como uma adaptação provisória; e
este equilíbrio só durará com uma condição:
a de se modificar continuamente, representando em cada instante o
restante de todas as ações contrárias. (2001:
30)
Bibliografia Consultada
GEERTZ,
Clifford (1989). As Interpretações das
Culturas. Rio de Janeiro: LTC.
HERÁCLITO de Éfeso
(2000). Sobre a Natureza, tradução de José
Cavalcanti de Souza. PESSANHA, José Alberto. Pré-Socráticos.
São Paulo: Nova Cultural (Coleção Os
Pensadores).
KROPOTKIN, Piotr (2001). A
Anarquia: sua filosofia, seu ideal, tradução de
Plínio Augusto Coêlho. São Paulo: Imaginário
(Coleção Escritos Anarquistas).
14 comentários:
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