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E então meu senhor, fala seu nome completo e, não se
esqueça, aqui não pode haver mentira, isso é um
depoimento.
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Me chamo José das Couves, moro na rua das Taturanas, nº
01, bairro da Concórdia.
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Conta como aconteceu o ocorrido...
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Olha seu delegado, não sou muito de sair de casa, recebo
poucas visitas, ou seja, sou uma pessoa muito reservada...
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Tá, e aí, conte o que aconteceu primeiro, depois você
fala de si mesmo. Não se esqueça que isso é uma
investigação policial.
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Muito bem, como eu estava dizendo, como sou uma pessoa reservada não
sou de receber visitas, ainda mais a esta hora do dia, mas aconteceu.
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Sim, que mais.
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Eu tinha acabado de me levantar, já estava no banheiro,
escovando meus dentes, e foi aí que a campainha tocou. Não
pensei duas vezes, peguei uma toalha, ainda enxugando meu rosto da
água fria e fui atender.
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E depois disso.
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Abri a porta e não vi nada, aquilo estava estranho, nenhum
sinal de ninguém por perto, até achei que fosse trote.
Foi quando olhei para o chão... e aí veio o susto.
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E você conhecia a pessoa que estava ali no chão?
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Não, pelo contrário, sinto que ele era era até
um pouco estranho, parecia estrangeiro.
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Por que você teve esta impressão...
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Pela cor da pele dele, nunca vi uma pessoa tão cinza...
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Não seria porque ele já estava morto?
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Pois é, acho que é isso mesmo... interessante, eu não
tinha percebido!
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Tudo bem, volte aos fatos.
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Abaixei meu corpo e toquei sua pele, ainda receoso... vai que o
sujeito estava tirando uma com minha cara e deitado ali só
para incomodar. Sabe, não sou um vizinho muito sociável,
mas bem que gostaria que o sujeito fosse uma visita.
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Sim... mas, se atenha aos fatos.
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Foi aí que percebi que o caboclo estava frio. Aquilo foi
estranho, nem estamos no inverno nada, e este sujeito gelado desse
tipo...
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Meu amigo, cadáveres são gelados, não sabia?
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Ih é mesmo, estamos falando de um defunto. Agora que me
toquei...
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Tudo bem, termina logo seu depoimento que você já tá
exagerando e tem mais gente para ser ouvido.
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Certo, a partir daqui o senhor já sabe, né. Liguei para
cá e falei com uma mocinha de voz macia. Gostei disso, sabe,
não converso com muitas pessoas...
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Tudo bem, já chega... o próximo!
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Mas, seu delegado, ainda não acabei...
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Acabou sim, próximo!!
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Mas...
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Sem mas, sai daqui senão o prendo por obstrução
da justiça.
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E a mocinha do telefone, posso falar com ela?
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Alfredo, prende este sujeito. Tá obstruindo o serviço
da polícia... sujeitinho abusado.
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Sim senhor, delegado Feitosa!
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Mas, espera aí eu sou a testemunha, não o culpado...
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Sai daqui logo, antes que te dê uns tapas... libera este
sujeito Alfredo, manda este elemento para... vai embora daqui, antes
que eu fale alguma besteira e ainda serei processado por abuso de
autoridade!
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Que sujeitinho estranho heim doutor?
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Realmente, é muito estranho. É como se o sujeito
tivesse se utilizado do fato para ter alguém com quem
conversar, não parece ser uma pessoa nem um pouco sociável
esse talzinho aí. Daí as divagações
constantes dele... isso é falta de gente na vida dele,
Alfredo.
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Tem razão, doutor, e agora, como faremos?
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Vamos ver se tem mais alguma testemunha, que esse aí... sem
chance.
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