Imagino que as consequências da liberdade podem não ser como
gostaríamos de ser, principalmente no fato de podermos controlá-la, visto que o
ser humano tem uma forte tendência em determinar caminhos que ele considera os
mais corretos, isso não significa, no entanto, que esta intencionalidade não
seja importante para nós e para aqueles que, por estas searas se aventure. Tal qual
o adolescente que se considera como ser dentro da liberdade absoluta e que, por
isso, gostaria de fazer tudo que quisesse, mas, mais do que isso, mostrar para
ele que isso realmente acontece, o problema está no fato de não fazer tudo o
que quer, mas o que lhe é permitido dentro de sua maldição, ou de seu destino, que é a liberdade. Mostrar que tais
situações realmente acontecem, embora tragam consequências a todo e quaisquer
seres que delas queiram fazer sua jornada. O fato de isso acontecer traz a
todos a inédita situação de poder repensar-se a si mesmo, algo que, há tempos
nos faz falta na sociedade atual. O ser, nesse sentido, tem que ser pensado
como um indivíduo que tem responsabilidades, e que não é único no mundo, muito
menos, único em suas escolhas. Aliás, suas escolhas o colocam como ser no mundo
e que do mundo depende para tornar-se livre sem ser um criminoso. Este ser é
alguém que deve estar em constante transformação, em constante movimento, e que
tem nas escolhas, suas escolhas no caso, uma auto-afirmação e uma afirmação de
um mundo que é seu, do outro e das consequências de sua liberdade plena; sua
condenação libertadora. O quê queremos é que todos tenham melhores noções e
condições de serem realmente livres, visto que, para ser livre tem que saber
como é ser livre e, de que forma nossas escolhas podem nos trazer para
situações complicadas. Porém, um complicado que tenha nossa identidade, ou
seja, nossas escolhas conscientes.
sexta-feira, 25 de novembro de 2011
domingo, 20 de novembro de 2011
Sobre Nietzsche!
A perspectiva
da moral nietzschiana
Vamos, agora, intentar uma leitura da problemática ética a partir dos
pressupostos da filosofia do autor alemão Friedrich Nietzsche e a forma
peculiar com que ele lida com a situação. Como veremos, a discussão se firmará
muito contraposta às conclusões observadas no pensamento de Aristóteles, em que
a moralidade e a ética estão dispostos sob o jugo da razão, e isso é importante
para mostrarmos como um mesmo problema pode ter, em Filosofia, tantas e tão
diversas interpretações, sendo todas elas complementares a si mesmas e, como
tal, necessariamente, dependentes umas das outras, visto que a filosofia, tal
qual seus preceitos, pode ser pensada como uma construção humana.
Nietzsche e o método genealógico na Filosofia; moral, valores, conhecimento, verdade, direito, leis são vistos pelo
filósofo como invenções do caráter humano; importante crítico da filosofia ocidental e da moral ocidental, baseada
na religião cristã.
Grandes obras
do pensamento nietzschiano
Quase toda obra filosófica de Nietzsche volta-se para as discussões
morais, em maior ou em menor teor. Assim, decidimos destacar algumas que devem
auxiliar a compreensão desse complexo pensamento:
Para além do bem e do mal
Para a genealogia da moral
Crepúsculo dos ídolos
Sobre verdade e mentira no sentido extramoral
A origem da tragédia
Ecce homo
A valorização
nietzschiana dos instintos
Um ponto a ser exaltado primeiramente nessa filosofia é seu caráter de
busca da valorização dos instintos e impulsos inconscientes como forças vitais
do ser humano. Para Nietzsche, o vigor humano está presente nessas
características, postas em segundo plano pela demasiada crença na razão como
elemento central do homem.
É por isso que muitos denominam esse pensamento como uma filosofia da vida,
do homem completo.
É essa valorização a assinatura da filosofia nietzschiana e é por aí que
podemos iniciar o entendimento de sua crítica à moral ocidental que parte da
filosofia grega.
Sócrates inicia a ideia na filosofia grega de que a verdade e o bem
devem residir num plano exterior ao do devir sensível, numa esfera puramente
conceitual.
Platão, desenvolvendo por completo esse juízo, marca a existência de
dois mundos para explicar a realidade:
O mundo sensível, ilusório, o mundo das experiências sensíveis e que é
imperfeito e não verdadeiro.
O mundo inteligível, das formas perfeitas, verdadeiro, no qual residem
as essências únicas das cópias do sensível.
terça-feira, 15 de novembro de 2011
Pensamentos Soltos IX
Modus Vivendus...
Segundo Sartre, a essência do homem é não ter essência, mas o
seu viver determinaria o que vem depois, e se esse depois levar o nome de essência,
que seja. Ou melhor, essa coisa chamada essência seria algo que o próprio ser
humano constrói, é sua história no mundo e com o mundo. Assim, quando diz que a existência precede a essência ele
está, tão-somente, confirmando a existência do homem no mundo e, por
conseguinte, o que vier depois como sendo algo procedente desta existência, também seria algo-no-mundo. Isto
quer dizer que nenhum ser humano nasce pronto, pré-determinado, mas faz-se para
o mundo, deixa-se se tornar pronto, além de deixar o mundo pronto. Pensando nisso,
o homem seria, em sua essência – a
posteriori, visto que a essência é construída depois do estar-no-mundo –
produto do meio em que vive, e que é construído por si-só. Este meio passa a
existir a partir de suas relações sociais e com suas relações sociais. Tudo isso acontece dentro de um
contexto em que cada pessoa se encontra inserida, embora modus incerto de viver e de se inserir. O homem é o único ser que possui condição
de existência já pré-existente em seu viver. E se existir significa “sair de
si”, ele, como sujeito, não apenas procura, de acordo com sua liberdade,
conhecer as coisas externas, como fazer parte delas e, principalmente, fazê-las. Ou seja, fazer não somente ao mundo, mas também a si mesmo dentro do
fazer do mundo, aliás, dentro do seu fazer no mundo. Por isso, ele produz o seu
próprio ambiente e constrói em si aquilo que pretende ser, e como pretende fazer
o mundo. Por outro lado, esta produção da condição de existência não é
livremente escolhida, e nem sempre a desejada ou necessária, porque é
previamente determinada. É-se assim porque, historicamente, determinou-se e se
deixou construir pelas condições a si expostas. Se assim é, é também
responsável por todos os seus atos, pois ele é livre para escolher (dentre as
condições possíveis); seja o que quiseres ser. Enfim, como o que lhe determina é
justamente esta liberdade, ele é condenado a ser livre para poder ser.
Responsabilidade Por Sermos Livres!
Sob a perspectiva de
discutirmos sobre a profundidade da Condição Humana há que levarmos em conta a
relação existente entre Liberdade e Responsabilidade. De que maneira esta
questão se coloca existem algumas possibilidades, dentre elas a noção de Sartre
de que o homem existe, primeiro, e somente depois ele passa a refletir sobre
tal situação. Ainda para Sartre; o homem é aquilo que ele quer ser, e aquilo
que ele estabelece como plano de vida para si. Sendo assim, não existe nenhuma
definição pré-estabelecida que possa dar conta de sua natureza, logo, tal
situação interfere diretamente em sua condição, enquanto ser humano inserido
num contexto por ele mesmo construído e a ele validado. Ainda pensando no
filósofo: não há natureza humana, mas a existência de uma vida humana que
constrói uma natureza ou uma condição de sua existência.
Na medida em que deixa
claro que a liberdade é um ato de escolha e por isso o ser humano tem o dever
social de arcar com as consequências de seus atos, construímos um diálogo com o
mundo, do adolescente com ele mesmo e com o mundo, e dele com as concepções que
seu tempo lhe imputa.
Se o homem é condenado a
ser livre, pode surgir o questionamento de que não há liberdade, pois está
implícito em seu cerne, a obrigação de escolher, ou seja, deixa de ser um
direito?
Desta forma, ao analisarmos
o tema Liberdade, podemos afirmar que, a partir da concepção de Sartre, ela tem
mais gosto quando desta análise mais “ousada”, pois, se sou eu quem faz tal
escolha, em princípio, eu tenho que ter a noção de que não é ideal para mim no
momento. E neste caso, tenho que ser responsável pelo que escolhi, visto que o
meu ato foi livre, pelo menos na medida de fazer a opção diante do que me foi
proposto.
E aqui surge outro ponto,
a ideia de liberdade proposta por Dostoievski, ao afirmar que se Deus não existisse, tudo seria permitido,
resgatada por Sartre, também nos ajuda a trabalhar o conceito de
responsabilidade em nossas escolhas, nos colocando neste torvelinho que se mostrou
as atuais escolhas, ainda mais tendo como referência um mundo tão cheio de “eus”
como o que temos hoje.
Em sua análise, argumenta
Sartre: Aí se situa o ponto de partida do
existencialismo. Com efeito, tudo é permitido se Deus não existe, fica o homem,
por conseguinte, abandonado, já que não encontra em si, uma possibilidade a que
se apegue. Antes de mais nada, não há desculpas para ele. A tendência, na
religiosidade popular, é entender este conceito como um ato de ateísmo. Neste caso
há que se argumentar, quando do ato do convencimento – situação que não é a
mais fácil nem a mais bem vista, quando se fala em responsabilidade no pensar
livre e profundo – que a escolha do indivíduo não está vinculada a qualquer
espécie de crença, mas é um ato social e, portanto, deve ser conduzida pela
responsabilidade em sua opção mais carnal, visto que ele tem o poder de decidir
o que fazer.
Enfim, o ser humano, por natureza e
contingência histórica, faz questão de atribuir a outrem a responsabilidade das
coisas, facilitando o não compromisso com seus atos, na medida em que os mesmos
não tenham dado certo. E, nesse ponto, a concepção sartreana acerca do
Existencialismo favorece o aspecto da responsabilidade como um atributo do ser
humano, para consigo e para com o outro, isto é, quando escolhemos, não estamos
obrigados a nada, aliás, a nenhuma natureza prévia, e por isso somos
responsáveis por tais escolhas.
sexta-feira, 11 de novembro de 2011
Tente Ser Livre!
Ser livre é escrever num pedacinho de papel o tamanho do universo
É transformar a rotina em surpresa
É fazer das surpresas uma rotina.
Ser livre é ser todos sendo você mesmo
É ser você mesmo estando com todos.
Ser livre é ter o coração aberto para a liberdade do outro
É ter a liberdade do outro dentro de seu coração.
Ser livre é ter sentimentos bons pelos outros mesmo
quando os outros têm
sentimentos ruins para você.
Nossa liberdade se traduz na liberdade que fazemos de nossa vida com o
outro
quinta-feira, 10 de novembro de 2011
Odisseu e os Deuses: uma Luta por Valorização
O filme Odisseia narra
a aventura de Odisseu, herói grego, após a Guerra de Tróia, e como ele enfrenta
a fúria dos deuses, perigosos inimigos e monstros mitológicos e, sempre com a
proteção de Atenas, se dá bem, demonstrando bravura e resistência para retornar
à Penélope.
O mais interessante na película é justamente esta condição
contraditória de Odisseu que, apesar de criticar os deuses e sua condição de
intromissão na vida dos homens, tem sempre o auxílio de Atenas. Ademais, ele se
envolve emocionalmente com algumas deusas e acaba se saindo bem.
Assim, quando um homem desafia os deuses, e quando este homem
resolve bancar este desafio, temos caracterizado uma das maiores virtudes da Grécia
Antiga, versado por Nietzsche como uma das maiores revoluções e herança,
advindas dos gregos, especificamente no período histórico chamado pelos
historiadores de pré-Arcaico, ou Idade das Trevas Gregas, ou ainda, Idade
Dórica, momento em que supostamente viveu Homero e que, conforme a Wikipédia: “A Idade das Trevas na
Grécia (c. 1200 a.C.-800 a.C.) refere-se ao período da pré-história grega
cujo início tem lugar a partir da suposta invasão dórica e do final da
civilização micênica no século XI a.C. e cujo fim é marcado pela ascensão das
primeiras cidadeséstados gregas no século IX a.C., pela literatura épica de
Homero e pelos primeiros registros escritos a utilizarem o alfabeto grego, no
século VIII a.C.”[1], período em que os deuses, constantemente, intervinham na vida
das pessoas.
Este homem, ao fazer este ato desesperado de coragem, em busca de
um ideal (o retorno à casa e aos braços de sua amada esposa), apresenta toda a
astúcia daqueles que, outrora, jamais deixavam que os deuses os conduzissem,
embora a figura de Atenas esteja sempre ao lado de nosso herói.
E isso acontece quando há amor ao destino, ou como diria Nietzsche
em A Gaia Ciência, amor fati. Este ato de amar aquilo que
lhe é proposto pelos deuses (um castigo às bravatas que Homero faz o tempo
inteiro, questionando os deuses e, ao mesmo tempo, sendo protegido por Atenas),
no entanto, sem que isso se torne um castigo, uma punição ou uma prisão. Situação
que faz de Odisseu, como também de Édipo e Prometeu, heróis dentre os
medíocres.
Enquanto todos acatam os desmandos dos deuses de uma forma apática
e sem questionamento, tanto Odisseu como Édipo faz deste destino uma forma de
desafiar quem os colocou nessa situação, mostrando aos deuses que a existência
deles está diretamente ligada à crença que os mortais neles depositam.
Assim, o amor fati é o
amor ao necessário, não permitindo que o destino (empreendido pelos deuses)
seja um empecilho para a consecução das obras que este grande homem faz, ao
mesmo tempo em que é prejudicado por aqueles que, diretamente, tentam intervir
em sua vida. Além do mais, há um outro conceito, também forjado por Nietzsche,
que nos revela mais algumas ideias do que seria este desafio.
Um conceito que, diferente do amor
fati (e que este último nos remete ao conceito que Nietzsche chamou de
eterno retorno do mesmo) também nos dá pista de como era a personalidade de
homens como Odisseu – é como se a vida sempre aqui estivesse, suas dores e seus
sabores também, algo que com a presença do homem, ou não, faz dos seres, sejam
quais forem, imortais na mortalidade do corpo –, onde a vida segue seu percurso
sem que interrupções mais bruscas aconteçam; é o conceito de Individuação. Este outro conceito, mais
voltado para os gregos, se encontra no livro O Nascimento da Tragédia: “O
homem, alçando-se ao titânico, conquista por si a sua cultura e obriga os
deuses a se aliarem a ele, porque, em sua autônoma sabedoria, ele tem na mão a
existência e os limites desta.” (NIETZSCHE, 2000: § 9)
Ao desafiar os deuses Odisseu mostrou a eles que o homem, apesar
de estar preso ao destino de seguir os deuses, pode fazer seu próprio caminho,
nem que para isso ele passe pelos mais terríveis sofrimentos, como realmente
aconteceu.
Um outro mito que Nietzsche apresenta, para justificar sua teoria
é o de Prometeu: por ter roubado o fogo (sinônimo de conhecimento) de Zeus e
dado aos mortais, foi condenado a ter seu fígado estraçalhado por uma águia
todos os dias e, de novo no dia seguinte, o fígado ressurgiria, para novamente
ser estraçalhado pela águia; e assim, por toda a eternidade. Prometeu é
considerado aquele que alimentou o homem de sabedoria e o colocou em eterno
confronto com os deuses.
Enfim, ao estudarmos a trajetória de Odisseu, e outros mitos a ele
relacionados, estamos mostrando o lado contraditório do homem e, ao mesmo
tempo, sua grandiosidade; devido justamente este lado contraditório. O homem,
neste contexto, sabe exercer sua humanidade e nos mostra que, mesmo na
mortalidade, podemos ter, e apresentar, personalidade e habilidades de deuses,
principalmente no que se refere a forma como lidamos com o sagrado.
[1] Disponível online: http://pt.wikipedia.org/wiki/Idade_das_Trevas_(Gr%C3%A9cia),
acesso em 10/11/2011.
quarta-feira, 2 de novembro de 2011
Apenas Um Ensaio
Nietzsche
escreve um ensaio, Sobre Verdade e Mentira no Sentido Extra Moral,
no qual explora o lado gnosiológico, de origem e fundamentação do conhecimento.
O conhecimento é uma ilusão, a única relação do homem com o mundo possível é a
estética. O conhecimento típico do homem, que assimila o mundo à sua
perspectiva. Existem os instrumentos do conhecimento (categorias e linguagem) e
seu produto, o mundo percebido. Uma das perspectivas que aprecem em Nietzsche é
noção de que o instinto da conservação da espécie é a responsável por muitos
atos. O conhecimento é útil à preservação da vida, e é também o objetivo de
todos os líderes religiosos.
O
conhecimento não é transcendente, o homem é criador de seus valores. O homem
interpreta e dá um sentido humano às coisas, o resultado é o mundo articulado.
O conhecimento foi inventado em um minuto, em relação aos cosmos, pelo homem.
Foi um minuto mentiroso. A verdade é procurada para ser válida e comum e a
linguagem dá as primeiras leis da verdade. A verdade e a mentira seriam relativas,
válidas para o ponto de vista humano.
No
processo de antropomorfização do mundo, o reduzimos e generalizamos. Por
exemplo, ao estereotiparmos folha, ignoramos qual folha é verdadeira e válida.
Não existe na natureza a folha, elas são bilhões de folhas. Nietzsche observa
os humanos de longe, e não o considera um ser privilegiado. Um dos pontos
principais de sua obra é a crítica aos valores judaico-cristãos.
O
homem não é divino. Necessita sobreviver e dominar, na história estão presentes
a vontade de poder, de dominar. O destino de um homem não é tanto assim,
afinal, o sistema solar é apenas um ponto. O homem se apega à mentira do
conhecimento como se sua filosofia ou ciência explicasse realmente o mistério
cósmico.
São
invenções o conhecimento, a moral e a metafísica. No século XVIII caíram as
teorias de origem divina do homem. Mas existe o idealismo metafísico, o homem é
divino, a Terra é escolhida.
Para
Nietzsche, o homem está sem Deus, sem causa transcendente. O conhecimento é
ativo e submisso à vida. O mundo que tem valor é o que criamos ao perceber.
Nossas verdades são ilusão.
Afetividade e Aprendizagem na Primeira Infância (0-3 anos)
A Primeira Infância,
considerada a base para todas as aprendizagens humanas, perpassa o período do
nascimento até os seis anos de idade, mas para a relação existente entre
afetividade e aprendizagem, pode retroceder até a vida intra-uterina, visto que
o feto já recebe os primeiros estímulos afetivos e, consequentemente,
cognitivos de sua existência; vista já neste momento como a preparação de uma
longa jornada, a qual pode ser abortada se não houver estímulos muito
agradáveis ou caso não haja a preocupação de que a vida ali existente já está
totalmente disposta a receber bons e amorosos fluídos intelectuais.
Dotado de desejos, vontades e
sentimentos próprios, já no nascimento o ser humano começa a se desenvolver,
seja respondendo por estímulos – ainda dentro do útero – seja, afetivamente,
entrando em contato com seus pares. Sua postura de ator pensante no mundo, por
mais que ali não esteja totalmente definida, para a cognição social já está em
projeto, já está em potência. E é neste ponto que as primeiras experiências
relacionais desempenham papel importante no curso do desenvolvimento cognitivo.
Pensadores como Piaget falarão da importância
da vivência destas crianças com os adultos, principalmente da vivência afetiva.
Já Vygotsky afirmará que o ser humano se constrói nas suas relações e trocas
com os outros, em especial, quando estas relações se constroem por meio do
afeto. Em Wallon “no início da vida, afetividade e inteligência estão
sincreticamente misturadas, com predomínio da primeira.” (apud LA
TAILLE: 1992, p. 90), ou seja, ambos os três pensadores colocam a afetividade
como elemento primordial para a construção da identidade social e constituição
educacional das crianças.
Por conseguinte, alguns estudiosos vão defender
que, devido um ritmo mais lento de desenvolvimento, em nos comparando com
outros mamíferos, o ser humano é mais dependente de seus pares por um período
mais extenso e prolongado, daí a justificativa – e a necessidade – da afetividade
para o pleno desenvolvimento dessa criança, visto que, por ser tão dependente,
esta situação de afeto é algo muito caro para o bebê. E é isso que, mais
indistintamente, nos torna humanos.
Por um lado, tal fato constitui um grande
inconveniente para a criança e para os pais, embora, simultaneamente, isso
acarreta em grande benefícios para a criança. Com efeito, um período tão longo
de dependência justifica-se pelo fato da criança ser uma criatura cuja
principal especificidade é sua capacidade de aprender e; invenção básica dos
seres humanos, aprender a cultura, isto é, os modos de ser e estar no mundo que
cada geração transmite para a seguinte. Transmissão que tem no afeto o primeiro
elemento de confrontação e confirmação de saberes.
Assim, a cognoscência do bebê, devido este
processo de maior dependência do adulto, tem na afetividade o elemento que liga
esta criança com seus pares humanos. Com tanto a aprender, as crianças têm
muito a ganhar com o fato de serem “forçadas” a permanecer junto daqueles que
as ensinam com afeto.
Desde seu primeiro ano de vida, a capacidade
perceptiva e a inteligência do bebê atuam como elemento consoante ao ambiente,
outrora hostil, do mundo que a circunda. Esta relação de interação com as
coisas ao seu redor garante uma certa autonomia cognitiva, além do mais, traz
situações de conflito e afeto. Situações que serão lembradas pela criança na
configuração de sua vida, e de suas relações sociais.
Por isso mesmo é que Ramires (2003), em Cognição Social e Teoria do
Apego: Possíveis Articulações, busca na conexão emocional com outras
crianças e com os adultos, o processo que garante a composição da
individualidade do bebê e sua separação do mundo intra-uterino, logo, o processo
que apresenta ao bebê o mundo da cultura tal como ele é, e como sua dependência
dos adultos lhe é útil: “O desenvolvimento sócio-cognitivo, portanto, começa
com os primórdios do processo de separação-individuação e conexão emocional com
o outro nos bebês. Esse desenvolvimento inclui a compreensão crescente das
emoções e dos perceptos, e também o conhecimento das crianças e dos
adolescentes acerca dos atributos pessoais dos outros e do self. Inclui
ainda o conhecimento das causas do comportamento e uma compreensão das relações
sociais que implicam no reconhecimento de relações recíprocas como a amizade,
os relacionamentos amorosos e os julgamentos morais.” (p. 404)
Como se vê, mais que preparar o
bebê para receber os símbolos e estímulos do mundo, a afetividade (seja ela
apresentada em casa, com os familiares, seja também entre este bebê e seus
educadores) tem papel importante, inclusive, em relações interpessoais e,
principalmente, na composição dos futuros julgamentos morais desta criança; o
quê significa que o afeto, mais que um elemento aproximativo do bebê com seus
parentes e o mundo, é também um elemento conformador da cognição e do
desenvolvimento educacional deste ser em formação, bem como seu passaporte para
o mundo dos adultos e sua criação identitária.
Daí a importância das interações
socioafetivas do bebê e de sua dependência para com os adultos, situações que
proporcionam vivências afetivas, e consolida sua entrada no mundo, como ser
individual que é. Tanto a entrada social como a entrada cognitiva, onde há o
reconhecimento de símbolos que são constantemente apresentados e decodificados
pelo bebê.
Para melhor compreendermos estas
interações socioafetivas, tanto Wallon quanto Piaget e Vygotsky nos serão mui
úteis, trazendo-nos elementos formativos e conformativos para a confirmação
desta tese. Mas, além disso, também a relação psicológica exercida entre a
criança e seus pares pode mostrar bons elementos para a constatação deste
estudo.
Diante disso, este trabalho
tentará analisar a importância dos aspectos socioafetivos para o
desenvolvimento e o processo ensino-aprendizagem, com foco na importância da
afetividade como recurso intelectivo e motivacional e para a relação
professor-aluno na construção destes saberes.
Apontar a importância da qualidade
das primeiras relações afetivas da criança, com seus primeiros educadores,
implica em focar numa boa teoria do desenvolvimento e como isso, diretamente,
afeta no exercício da aprendizagem e na construção das relações interpessoais
desta criança pelo resto de sua vida escolar.
E aqui podemos apontar como Piaget
apresenta esta informação, conforme seus estudos, “é nas vivências que a
criança realiza com outras pessoas que ela supera a fase do egocentrismo,
constrói a noção do eu e do outro como referência. A afetividade é considerada
a energia que move as ações humanas, ou seja, sem afetividade não há interesse
nem motivação.” (SILVA e SCHNEIDER: 2007, p. 83), significando que, a
afetividade funciona como um motor para o desenvolvimento da criança e, mais
que isso, para que a criança entre no universo consolidado por sua relação com
seus educadores e seus métodos de ensino-aprendizagem é necessário que ela
chegue até este universo levada pela mão do afeto e do carinho, tanto aquele
advindo de casa – sendo considerado o mais importante – quanto aquele recebido
nas escolinhas infantis, por seus educadores; daí a grande importância do
elemento afeto no desenvolvimento deste educando e como isso afetará,
positivamente, toda a vida escolar do indivíduo.
Se no início, a criança sente a
mãe como parte de si mesma, no culminar do primeiro ano, ela aprende a
vivenciar a mãe como objeto separado (com identidade e papel próprios) e, como
tal, mais um elemento de seu mundo conformativo e identitário, momento
considerado ideal para apresentá-la ao mundo escolar, e às outras pessoas que
deste mundo fazem parte.
Aprende a esperar, visto que, no
universo social e escolar ela não está mais sozinha, ela interage com outras
crianças e com outros adultos que não aqueles de seu convívio familiar. Neste
processo de separação a criança desenvolve a
tolerância à frustração e, desta capacidade de espera resulta o ecoar
interno de uma representação da mãe; uma representação que vem simbolicamente
focada no carinho que os educadores trazem para a criança, e para seu universo
pessoal. Carinho que traz até a criança os símbolos do mundo, logo, confirma-se
o processo de ensino-aprendizagem.
Mas, esses momentos de crescimento
só serão possíveis se esta etapa for suficientemente preenchida de boas
experiências emocionais, que permitam ao bebê um modelo de estabilidade e
segurança, previsível e contínuo. Um modelo que lembre o universo familiar e,
ao mesmo tempo, separa-se dele, trazendo os símbolos do mundo. Mostrando que o
mundo também pode trazer elementos de aprendizagem e de construção de saberes. Construção
essa que necessita deste outro afeto, que não o familiar, para que a criança se
constitua como um ser em formação, e com uma identidade própria, apesar de
vinculado aos primeiros símbolos advindos de sua família.
Ganham os bebês que se ligam bem
aos adultos mais próximos, e com eles constroem uma relação de confiança
básica, marcada por um padrão rotineiro, sem períodos de separações traumáticas
ou perdas de figuras de referência. E por adultos mais próximos, não são
necessariamente aqueles da estirpe familiar, mas todos aqueles que passam a
integrar este novo universo da criança; o universo da escola. Por outro lado,
perdem aqueles que, por oposição, possuírem vinculações inseguras, marcadas
pela instabilidade ou, por múltiplos prestadores de cuidados; daí a importância
da criança ter uma continuidade na constituição de seus saberes primordiais.
A segurança que a criança constrói
em seus primeiros contatos afetivos com a mãe serão levados para o mundo
externo. Dessa forma, ela terá maior segurança de separar-se da mãe sem que
isso se torne um trauma. Esta vinculação pode ser indicadora da qualidade das
ligações emocionais que a criança, numa situação futura, continuará na escola,
em seu processo de ensino-aprendizagem.
Aquelas crianças cuja ligação com
a mãe (e com seus pares mais próximos) ocorreu de modo seguro e tranquilo,
estão naturalmente mais aptas a gostar de ir à escola, aprender, brincar,
receber e visitar amigos, e um dia namorar, casar, terem a sua família
organizada. Pois, o afeto que se desenvolveu neste primeiro momento será
marcante durante toda a vida socioafetiva da criança, em seu processo de
ensino-aprendizagem. Isso dá-lhe confiança, para com suas relações com o mundo.
Ensina-as a lidar com as
frustrações de uma forma mais serena, visto que o desapontamento e a desilusão
garantem a elas limites, dão-lhes elementos cognitivos para lidarem com o
mundo.
Como justificativa desta
afirmação, Silva e Schneider (2007), afirmaram o seguinte: “Partindo do
pressuposto de que a afetividade é um
composto fundamental das relações interpessoais que também norteia a vida na
escola, acresce em relevância uma pesquisa teórica que facilite a compreensão,
por exemplo, da relação entre a afetividade e a aprendizagem no âmbito da
relação professor–aluno para a construção do conhecimento, para o
desenvolvimento da inteligência emocional e para o processo de avaliação da
aprendizagem.” (p. 83),
mostrando que muitas pesquisas atuais já estão sendo feitas, justamente, para
confirmar esta teoria. Mais que isso, a empatia, nesse sentido, é o primeiro
elemento para que o educando se disponha a empreender uma busca pelo saber; e
isso ocorre em todas as fases de sua vida escolar.
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