Juliana Froes Forsan
Introdução
O trabalho desenvolvido com duas nonas séries da Escola Estadual Judith Ferrão Legaspe (Araras-SP) buscou conscientizar os alunos sobre a problemática do lixo. Em um primeiro momento foram realizadas pesquisas sobre quantidade de lixo produzida, a degradação do meio ambiente e a exaustão dos recursos naturais que alimentando a atual sociedade consumista gera o lixo, também foi pesquisado o tempo de decomposição do lixo no meio ambiente, bem como imagens que tornassem mais evidente a questão. Houve, também, colaboração do professor de História que debateu com os alunos a questão do lixo sob o ponto de vista da atual sociedade consumista, o lixo gerado por ela e os problemas sanitários e ambientais que representa a excessiva produção de lixo urbano, principalmente para os países menos desenvolvidos tornando-se necessária uma conscientização ambiental com o objetivo de reduzir a geração de lixo urbano. (ALMEIDA e AMARAL, 2006)
O aluno deve compreender que a excessiva produção de lixo urbano é um dos maiores problemas sanitários e ambientais e que a produção crescente de lixo e as facilidades criadas para atender demandas de uma sociedade, sobretudo consumistas, produzem um excessivo volume de resíduos sólidos, desnecessariamente e sem que sejam considerados o cuidado e a atenção necessária para a eliminação destes resíduos. (ALMEIDA e AMARAL, 2006)
Em um segundo momento calculou-se o volume, aproximado, do lixo produzido pelos alunos daquelas séries e de toda escola. Os dados obtidos foram tabulados e utilizados para a construção de gráficos servindo de comparativo para melhor compreensão dos dados obtidos na pesquisa anterior e resultando em uma discussão com a sala sobre a responsabilidade de cada um sobre o lixo produzido.Esse trabalho inicial em parceria com o professor de História serviu para que o aluno compreendesse os problemas relacionados ao excesso de lixo gerado pela atual sociedade moderna consumista e após calcular o volume de lixo produzido pela sua turma e pela escola passasse a refletir sobre sua própria conduta nesse sentido, adquirindo a consciência ambiental com o objetivo de reduzir a sua própria geração de lixo entendendo que existe a necessidade do estabelecimento de uma nova relação entre os humanos e a natureza para reverter o controverso, mas provável quadro de degradação ambiental global. (Layrargues, 2006)
Esse trabalho enfocando o assunto “Lixo” procurou ter como base para o seu desenvolvimento a modelagem matemática buscando uma estratégia de ensino e aprendizagem, na qual os alunos pudessem transformar um problema da realidade, a questão do lixo, em um problema da matemática por meio da manipulação de dados reais coletando e analisando informações e interpretando -as no sentido de uma construção do conhecimento de forma a desenvolver um pensamento critico e reflexivo. (LEITE et al.2009). Buscou-se, também, orientar no sentido de criar uma cultura de direitos humanos na tentativa de promover as atitudes e comportamentos necessários para que haja respeito por todos os membros da sociedade. (UNESCO, 2005).
Objetivos
Ao pesquisar dados sobre o lixo e calcular o volume do lixo produzido pela sala, reunindo os dados, organizando e apresentando sob a forma de gráficos e tabelas espera-se que o aluno possa perceber de forma mais consciente seu papel e sua responsabilidade sobre o lixo produzido pela sala podendo assim compreender melhor a dimensão e a problemática da questão do lixo produzido em um âmbito maior (cidade, estado, país, mundo). Adquirindo consciência em relação ao Meio Ambiente e à Economia, duas das principais áreas citadas do documento da UNESCO, Década da Educação das Nações Unidas para um Desenvolvimento Sustentável, 2005-2014, onde é citado sobre a consciência com relação aos recursos e a fragilidade do meio ambiente físico e sobre os efeitos das atividades e decisões humanas relativas ao meio ambiente, e com relação à economia, o desenvolvimento deste trabalho espera, de acordo com o mesmo documento que o aluno adquira consciência em relação aos limites e ao potencial do crescimento econômico refletindo sobre suas próprias atitudes e impactos da produção de lixo na sociedade e no meio ambiente, compreendendo que deve existir um compromisso de reduzir o consumo individual e coletivo, levando em consideração o meio ambiente e a justiça social.
Competências e habilidades
De acordo com as matrizes de referencia para a matemática do Saresp 2008, as competências e habilidades a serem desenvolvidas para o ano em questão são:
Construir e ampliar noções de variação de grandeza para a compreensão da realidade e a solução de problemas do cotidiano. Compreender e fazer uso das medidas, ou de sistemas convencionais, para o cálculo de volume, calculando o volume de prismas em diferentes contextos e resolvendo problemas que envolvam noções de volume.
Ler, construir e interpretar informações de variáveis expressas em gráficos e tabelas. Fazer uso das ferramentas estatísticas para descrever e analisar dados, realizar inferências e fazer predições. Associar informações apresentadas em listas e tabelas aos gráficos que as representam.
Sequência de atividades
Pesquisar na internet dados sobre a produção de lixo, na cidade, no estado, no país e no mundo. Pesquisar sobre a problemática do lixo, sua relação com o meio ambiente e outras questões relacionadas como o consumismo das sociedades modernas, a exploração dos recursos naturais, a poluição dos rios e dados sobre a reciclagem do lixo.
Em grupos, medir as dimensões da lixeira da sala e calcular o volume aproximando o formato da lixeira para um paralelepípedo. Medir a altura do lixo na lixeira e calcular o volume de lixo produzido pela sala ao final do dia.
Calcular o volume de lixo produzido pelas outras salas.
Comparar lixo produzido pela sala com os dados obtidos na pesquisa.
Fazer uma estimativa do volume de lixo produzido pela cidade.
Divulgar os resultados obtidos por meio de tabelas e gráficos.
Discutir sobre os dados obtidos, discutir possíveis soluções individuais que possam colaborar com a questão do lixo.
Resultados
Os dados a seguir, retirados da internet, foram utilizados para trabalhar questões sobre o lixo, procurou-se, através dos valores numéricos, uma reflexão sobre a própria conduta além do desenvolvimento de assuntos matemáticos. Cada trecho foi discutido com os alunos gerando algumas das reflexões e conclusões feitas pelos alunos durante a aula e que são colocados aqui.
Para iniciar os trabalhos discutimos a frase do professor Maurício Waldman “Tudo ou quase tudo que se produz no mundo vai parar no saquinho que colocamos na calcada ou na lixeira.”
Os alunos se mostraram surpresos por pensar que tudo o que é produzido a partir do meio ambiente retorna para ele em forma de lixo, no lixo que co locamos em saquinhos na calçada, pois não era algo que haviam relacionado, seria como se o lixo produzido simplesmente não existisse mais a partir do momento que não era visto sendo ignoradas as suas consequências.
Foram analisados dados sobre a produção de lixo no Brasil e no Mundo, destacando-se as informações a seguir:
A geração de resíduos no mundo gira em torno de 12 bilhões de toneladas por ano, e até 2020 o volume previsto é de 18 bilhões de toneladas/ano (UNEP-EEA, 2007). O Brasil repete as tendências mundiais, em 2008 foram produzidos aproximadamente 67 milhões de toneladas de resíduos (IBGE, 2011), apresentando múltiplos desafios e dilemas para sua gestão. (SANTOS e GONÇALVES DIAS, 2012)
Sobre esses valores, houve a discussão de quanto lixo cada aluno produz e os tipos de lixo, nesse momento muitos começaram a citar o que costumavam jogar no chão das ruas e o que eles costumavam ver jogado pelo bairro em local inapropriado.
Também foram pesquisados dados sobre a quantidade de lixo produzida, o crescimento da produção de lixo e os gastos com limpeza pública. Pelo levantamento, os brasileiros geraram em 2010 cerca de 60,9 milhões de toneladas de resíduos sólidos urbanos (RSU), crescimento de 6,8% sobre 2009. No mesmo período, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a população cresceu em torno de 1%.
O total de resíduos coletados também aumentou, em 2010, aproximadamente 7,7%. Segundo a Abrelpe, 54,2 toneladas foram recolhidas pelos serviços de coleta domiciliar. Mesmo assim, esse número corresponde a 89% do lixo gerado. Ou seja, os outros 11% ficaram espalhados nas ruas, em terrenos baldios ou foram jogados nos rios.
Além disso, do lixo coletado, quase 23 milhões de toneladas, ou 42,4%, foram depositadas em locais inadequados: lixões ou aterros controlados — onde o chorume, líquido originado pela decomposição, não é tratado e pode contaminar os lençóis d’água.
Os serviços de coleta custaram R$ 7,16 bilhões aos cofres públicos em 2010. Outros R$ 12,04 bilhões foram gastos nos demais serviços de limpeza pública, como varrição e manutenção de praças.
Nesse texto alguns dados foram retirados para que depois os alunos opinassem sobre os valores gastos com limpeza pública. Alguns alunos começaram sugerindo valores como, por exemplo, cem reais, sendo que a revelação dos valores gastos com manutenção e limpeza causaram espanto e admiração.
Também foi discutido sobre o que seria depositar lixo em local inapropriado, quais locais eles consideravam inapropriados, como eles viam seu entorno, nesse sentido, e como era a conduta deles com relação a isso, sendo que muitos alunos “confessaram”, no termo deles, ter esse tipo de conduta “errada” com relação ao lixo e ao meio ambiente.
A cidade do Rio de Janeiro gasta R$ 400 milhões por ano para remover cerca de 1,2 milhão de toneladas de lixo encontrado nas ruas - sujeira jogada no chão pela população e "lixo natural", como folhas que caem de árvores. Com todo esse dinheiro, seria possível construir ao menos dez hospitais de grande porte, 20 escolas ou manter 9.000 policiais militares por ano. (Disponível em: <http://noticias.r7.com/cidades/noticias/gasto-do-rio-com-lixo-jogado-no-chaoconstruiria-dez-hospitais-por-ano-20100522.html>)
Nesse trecho também foi pedido, aos alunos, que sugerissem valores para o gasto com remoção de lixo na cidade do Rio de Janeiro e depois da quantia ser revelada, qual poderia ser outra destinação desse dinheiro se não fosse gasto com limpeza pública.
Os alunos apresentaram dificuldade em compreender grandes quantias e mostraram não assimilar muito bem valores escritos na forma mista, como 400 milhões, mas ao se escrever o numero com todos os algarismos 400.000.000 eles passaram a entender melhor as quantias citadas e os problemas relacionados. Foi pedido, então, que anotassem todos os valores nesse formato e os reescrevessem usando todos os algarismos e depois convertessem os valores dados em toneladas para quilogramas, calculando na sequencia as porcentagens dadas. Todos se mostraram surpresos com os valores encontrados, relatando não ter o hábito de ler noticias ou não compreendendo o que os dados queriam dizer.
Outra questão levantada foi quanto à conduta deles, se jogavam lixo no chão, que tipo e em que quantidade. Em grupos passaram a listar o que costumavam jogar na rua ou terrenos. A maioria listou jogar “somente” papel de bala.
Foi pedido que calculassem a quantidade de papel de bala que seria descartada nas ruas da cidade de Araras, se cada um dos aproximadamente 120 mil habitantes tivesse o mesmo tipo de atitude. Os alunos realizaram os cálculo s para um dia, um mês e um ano.
Outro assunto que não era tratado como lixo pelos alunos era com relação aos equipamentos eletrônicos, o chamado lixo eletrônico. Muitos relataram ter jogado celulares sem qualquer tipo de preocupação. Localizamos várias informações sobre quantidades de metais pesados existentes em aparelhos celulares e o risco que isso representava para o meio ambiente.
Um simples chip eletrônico, menor que a unha de um mindinho, exige 72 gramas de substâncias químicas e 32 litros de água para ser produzido.
[...] O crescimento exponencial da quantidade de aparelhos vendidos - e também descartados - é o que mais preocupa no lixo digital. O número de computadores pessoais no mundo cresceu cinco vezes de 1988 a 2002. Hoje, são mais de 500 milhões. Mas além deles há 1,14 bilhão de celulares, que não passam de computadores de bolso. No Brasil, o número de aparelhos obsoletos também cresce. A empresa Itautec Philco, uma das principais fabricantes, calcula que sejam descartados 3 milhões de computadores todo ano. Só o que eles contêm de chumbo (um metal pesado) em soldas, baterias e circuitos integrados é o equivalente a 1.900 toneladas. Estima -se que até 1999, no Estado de São Paulo, 12 milhões de baterias de celulares já tinham ido para o lixo. O Ministério do Meio Ambiente acredita que, entre 1996 e 1999, tenham sido descartadas, em todo o Brasil, 11 toneladas de baterias. Cerca de 80% delas tinham a combinação de níquel e cádmio, a mais tóxica. (Disponível em: <http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EDR67907-6014,00.html>)
Aparelhos e principalmente chip de celular foi o que mais teve resistência para ser entendido como um problema ao meio ambiente, já que o chip sendo pequeno não poderia, na ideia deles, causar qualquer mal. Discutimos e calculamos o quanto seria necessário para se produzir um chip para cada habitante de Araras sabendo que um simples chip eletrônico necessitaria de 32 litros de água e 72g de substancias químicas em sua produção.
Também foi discutido sobre reciclagem de celulares e as vantagens econômicas.
• O descarte de celulares soma, atualmente, 2,2 mil toneladas por ano no Brasil (o que equivale mais ou menos ao peso de quatro Airbus 380, o maior avião do mundo, um em cima do outro). A previsão é que este número chegue a 7,5 mil toneladas em 2013.
• Um único aparelho celular contém cerca de 250 mg de prata, 24 mg de ouro e 9 g de cobre, além de outros metais. Multiplique esse número por 250 milhões (quantidade de linhas ativas no Brasil) e você terá uma ideia da economia que a reciclagem pode gerar para o meio ambiente.
• Até 80% de um celular pode ser reciclado (Disponível em: <https://www.institutoclaro.org.br/banco_arquivos/cartilha_lixo_eletronico.pdf>)
Com base nessas informações os alunos calcularam as quantidades de prata, ouro e cobre para as 250 milhões de linhas ativas e discutiram as vantagens econômicas e para o meio ambiente que a reciclagem pode trazer.
Após a discussão dos textos selecionados e dos dados, os alunos calcularam o volume do lixo produzido pela sala. Em grupos, mediram as dimensões da lixeira da sala e calcularam o volume aproximando o formato da lixeira para um paralelepípedo, medindo a altura do lixo na lixeira e calculando o volume de lixo produzido pela sala ao final do dia, também calcularam o volume de lixo das outras salas e estimaram as quantidades produzidas pela escola ao final de um mês e um ano.
Após recolher os dados elaboraram um gráfico de colunas para o comparativo entre as salas os alunos relataram já ter ouvido ou trabalhado o assunto Lixo diversas vezes, mas desconheciam os números associados não tendo, por isso, uma melhor compreensão dos problemas apresentados. Com a leitura dos números e o calculo das quantias de lixo produzida por eles e as estimativas realizadas para os períodos de tempo pedidos e para a população da cidade passaram a ter uma melhor ideia das dimensões da problemática do lixo.
REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS
ALMEIDA JR, R. de A.; AMARAL, Sérgio Pinto. Lixo urbano, um velho problema atual. Bauru, SP. XIII SIMPEP, 2006.
ARAIA, Eduardo. REVISTA PLANETA. Não há planeta para tanto lixo.
Década da Educação das Nações Unidas para um Desenvolvimento Sustentável, 2005-2014: documento final do esquema internacional de implementação. – Brasília: UNESCO, 2005. 120p.
LAYRARGUES, Philippe Pomier. Muito além da natureza: educação ambiental e reprodução social. Pensamento complexo, dialética e educação ambiental. São Paulo: Cortez, p. 72-103, 2006.
LEITE, Maria Beatriz Ferreira; FERREIRA, Denise Helena Lombardo; SCRICH, Cintia Rigão. EXPLORANDO CONTEÚDOS MATEMÁTICOS A PARTIR DE TEMAS AMBIENTAIS Exploring mathematical content through environmental subjects. Ciência & Educação, v. 15, n. 1, p. 129-38, 2009.
PROTAZIO, Paula. ÉPOCA. Montanhas de lixo digital. Disponivel em: <http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EDR67907-6014,00.html>. Acesso em: 10 out. 2013.
RUBACK, Camila. NOTICIAS R7. Gasto do Rio com lixo jogado no chão construiria dez hospitais por ano.
SANTOS, Maria CecÌlia Loschiavo dos; GONÇALVES-DIAS, Sylmara Lopes Francelino. Resíduos sólidos urbanos e seus impactos socioambientais.(Org). São Paulo: IEE-USP, 2012. 82p.
SARESP 2008: Matrizes de referência para a avaliação: Matemática/Secretaria da Educação; coordenação geral, Maria Ines Fini – São Paulo: SEE, 2009. V.3.
JORNAL DO SENADO. Brasília, DF. 2012.
INSTITUTO CLARO. Lixo eletrônico: qual o melhor destino para eles?
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